Soraia Costa
Reconhecido até mesmo pelos governistas pela condução técnica que imprimiu às suas investigações na CPI dos Correios, o deputado Gustavo Fruet (PSDB-PR) defende uma postura mais firme de seu partido na oposição ao governo Lula em 2007. Há quase dois anos no PSDB, Fruet diz que alguns tucanos ainda se constrangem no papel de oposicionistas.
“Agora vai ser a prova de fogo do PSDB, que vai ter que saber construir o partido no país. Fica todo mundo às vezes com constrangimento, falando que tem que fazer uma oposição construtiva, mas não tem como ter meio termo. É oposição e pronto”, afirma o deputado, que admite a possibilidade de o seu partido não criar dificuldades para o Planalto na eleição para a presidência da Câmara.
Natural de Curitiba, 43 anos, Fruet é filho do ex-deputado Maurício Fruet, do chamado MDB histórico. Em 1996, foi eleito vereador da capital paranaense pelo PMDB, partido do qual se desligou em 2004, após conflitos regionais, para entrar no PSDB. Conseguiu seu primeiro mandato na Câmara dos Deputados em 1999, assumindo a candidatura do pai, que morreu poucos dias antes da eleição.
Leia também
Naquele que foi um dos piores anos do Congresso, Gustavo Fruet conseguiu se firmar num seleto grupo de parlamentares que levantaram a bandeira da ética na Casa. Na CPI dos Correios, teve a missão de montar o quebra-cabeça das movimentações financeiras do empresário Marcos Valério.
Em outubro, foi reeleito como o deputado mais votado em seu estado, com mais de 210 mil votos. Na semana passada, Fruet recebeu o Prêmio Congresso em Foco, promovido por este site, como um dos três melhores deputados da atual legislatura – ficou atrás apenas de Fernando Gabeira (PV-RJ).
Controle preventivo
Advogado, mestre e doutor em Direito, o deputado defende o aperfeiçoamento de mecanismos de controle de despesas e fiscalização para evitar o surgimento de novos escândalos, como o do mensalão e o dos sanguessugas. “Temos que melhorar o controle preventivo. E toda vez que temos que fazer controle preventivo, é sinal de doença. O ideal é que cheguemos a um ponto no qual a prevenção não seja mais necessária, porque não haverá mais o que combater”, afirma.
Para Fruet, a reação da sociedade à aprovação do reajuste de 91% para os parlamentares sinaliza para um cenário de mudanças. “Não há uma fórmula para mudar isso, mas quem conduzir o parlamento a partir do ano que vem tem que ter mão firme. O presidente Aldo tem uma história bonita, mas tem que apresentar mão firme com relação às opiniões do governo, dos parlamentares, das empresas privadas. Não pode deixar que outros interesses prevaleçam sobre as necessidades da população”, diz.
Congresso em Foco – Na opinião do senhor, o que é preciso mudar na atuação dos parlamentares?
Não existe parlamento, no mundo, que seja perfeito. O que nós estamos precisando cada vez mais é de aperfeiçoamento para superar esse momento de crise. A crise mostra que é necessário ter cada vez mais empenho do parlamento.
Quais seriam as alterações necessárias?
A gente sempre trabalha com crescimento, mas não adianta imaginar que da noite para o dia haverá superação. Essa questão do salário mostrou que a avaliação do parlamento está mais criteriosa. E houve uma sucessão de fatos que foram acumulados e que acabou gerando uma frustração. Não há uma fórmula para mudar isso, mas quem conduzir o parlamento a partir do ano que vem tem que ter mão firme. O presidente Aldo tem uma história bonita, mas tem que apresentar mão firme com relação às opiniões do governo, dos parlamentares, das empresas privadas. Não pode deixar que outros interesses prevaleçam sobre as necessidades da população.
O senhor acha que o presidente da Câmara errou ao defender o aumento dos parlamentares?
Não gostei da entrevista que ele deu na última segunda-feira (leia mais), dizendo que ia cortar subsídios, mas acho que, de qualquer maneira, ele teve uma posição importante agora na votação para deixar para o próximo mandato essa discussão. Nunca houve reação tão forte da sociedade como agora, e isso é positivo.
A atual legislatura passou por vários momentos críticos, sanguessugas, mensalão, mensalinho… Na opinião do senhor, o que é preciso fazer para evitar que fatos como esses sejam repetidos na próxima legislatura?
Não existe perfeição, mas é questão do poder de prevenção. Temos que melhorar o controle preventivo. E toda vez que temos que fazer controle preventivo, é sinal de doença. O ideal é que cheguemos a um ponto no qual a prevenção não seja mais necessária, porque não haverá mais o que combater.
Como seria essa prevenção?
Com o próprio controle do Congresso, estabelecendo parâmetros com relação às despesas, melhorando as deficiências de fiscalização do país. O próprio Siafi (Sistema Integrado de Administração Financeira do Governo Federal) não está sendo atualizado como deveria. O que a gente verificou nessas CPIs é que está havendo falha em todas as instituições. E quando a gente fala de falha não quer dizer que seja má fé. Muitas vezes o filtro não está sendo tão forte como deveria, é uma falha do sistema.
Já há uma decisão sobre quem o PSDB apoiará para a presidência da Câmara?
Neste momento eu estou aguardando a decisão da bancada, aguardando uma posição da liderança. Na Câmara, é possível fazer uma aliança, mas com relação ao governo faremos clara oposição.
Qual deverá ser a posição do PSDB com relação ao próximo mandato de Lula? Deve haver alguma mudança?
Acho que o partido vai ter que ter uma posição mais firme, pelo menos é o que eu defendo. Agora vai ser a prova de fogo do PSDB, que vai ter que saber construir o partido no país. Fica todo mundo às vezes com constrangimento, falando que tem que fazer uma oposição construtiva, mas não tem como ter meio termo, é oposição e pronto.
Ao receber o Prêmio Congresso em Foco, o senhor elogiou deputados de outros partidos como Fernando Gabeira (PV-RJ) e José Eduardo Cardozo (PT-SP). Por quê?
Falei de Gabeira e José Eduardo Cardozo, mas também de Rafael Guerra (PSDB-MG) em meu discurso. Nessa atuação do Congresso, acho que tem muitos parlamentares com capacidade de gerar resultado, independentemente da posição ideológica. Do PSDB, acabei não citando na premiação o deputado Alberto Goldman (SP), mas é uma pessoa que admiro e que me ajudou muito no partido.
O que acrescenta para um parlamentar o Prêmio Congresso em Foco?
Acho que é muito importante. Primeiro, porque não tem como a gente avaliar a ação do parlamentar. Então acho importante que uma instituição como o Congresso em Foco faça isso, ou como o Diap (Departamento Intersindical de Assessoria Parlamentar). Mostra que está havendo acompanhamento e interação com os parlamentares. Acho que esse tipo de iniciativa não busca quantificar, mas qualificar. Achei muito importante essa interação. O Diap tem uma metodologia, e o Congresso em Foco fez uma coisa interessante que foi pegar um grupo grande de jornalistas, que não tem compromisso pessoal com ninguém. Pelo contrario, que tem visão muito crítica. Isso para mim já valeu. Eu vi que o próprio site melhorou o controle da participação dos internautas, mas ainda é possível melhorar mais. Essa é uma forma até de incentivar a participação.
Deixe um comentário