A direção do PT e o governo afastaram qualquer possibilidade de a campanha do presidente Luiz Inácio Lula da Silva ter recebido recursos financeiros de Cuba e classificaram como “fantasiosas” as denúncias publicadas neste fim de semana pela revista Veja. Em outra reportagem publicada esta semana, Veja acusa Lula e o ministro da Fazenda, Antonio Palocci, de terem pressionado o Banco Central (BC) em favor do empresário Marcos Valério, num negócio que renderia a ele R$ 200 milhões. A pressão é negada pelo presidente da instituição, Henrique Meirelles.
A reação oficial do governo quanto à primeira denúncia coube ao ministro das Relações Institucionais, Jaques Wagner, que divulgou nota classificando as informações de “especulações e fantasias”. Nela, o ministro sustenta que todas as contribuições de gastos da campanha presidencial de 2002 foram registradas no Tribunal Superior Eleitoral pela frente partidária que apoiou Lula. “As especulações contidas em revista semanal divulgadas hoje (sábado) não passam como, em outras oportunidades, de fantasias”, afirmou.
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Na mesma linha seguiu o ministro da Fazenda. Após ouvir de Veja o relato feito por dois de seus ex-assessores de que o PT teria recebido ou US$ 3 milhões ou US$ 1,4 milhão de Cuba, Palocci comentou: “Nunca ouvi falar nada sobre isso. Pelo que estou ouvindo agora, me parece algo muito fantasioso”.
Cuba também nega
Em nota divulgada sábado em Havana, o governo cubano classificou a reportagem de Veja como caluniosa e enfatizou que jamais interferiu em assuntos internos brasileiros. "O governo cubano responsabiliza essa manobra de propaganda aos agressivos planos do imperialismo contra Cuba e Lula."
O embaixador de Cuba no Brasil, Pedro Núñez Mosquera, também negou a doação de dinheiro para a campanha de Lula. Na avaliação de Mosquera, "os que orquestram essa campanha de mentiras contra Cuba e o governo brasileiro buscam afetar as relações bilaterais entre os dois países, caracterizadas pelo diálogo fraternal, o respeito mútuo, e a não interferência em assuntos internos de nossas nações".
PT vai à Justiça
O presidente do PT, Ricardo Berzoini, desqualificou a denúncia, acusou Veja de agir como uma frente de oposição e afirmou que o PT vai entrar com uma ação judicial contra a revista. O processo, segundo ele, reunirá outras reportagens feitas por Veja que causaram prejuízos à imagem do PT, como a que trata de um suposto repasse financeiro das Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia (Farc) ao partido.
"É tudo absolutamente infundado. A Veja age como uma frente de ataque ao governo e não como um órgão de imprensa. Isso não é jornalismo e sim oposição. Vamos processar a revista por causar danos à imagem do partido", afirmou Berzoini.
A legislação eleitoral proíbe os partidos políticos de receberem dinheiro do exterior e pune esse tipo de irregularidade com a cassação do registro partidário. A medida, na prática, tornaria todos os petistas inelegíveis para 2006, inclusive Lula.
Berzoini também contestou outra reportagem publicada pela revista neste fim de semana. Segundo Veja, Lula e Palloci avalizaram o empresário Marcos Valério a pressionar o Banco Central a encerrar a liquidação nos bancos Econômico e Mercantil. O negócio, que renderia uma comissão de R$ 200 milhões a Valério e gordos dividendos ao PT, não se consumou. "O PT não aceita chantagem. Se aceitasse estaria inviabilizado na disputa política", reagiu o presidente do partido.
O presidente do PT também acusou tucanos e pefelistas de tentarem confundir a opinião pública com o pedido de instalação de uma CPI para apurar todas as denúncias de caixa dois desde 1998. "Não somos contra investigações, mas não podemos deixar que as CPIs se transformem em manobras para paralisar o país", disse.
Meirelles: lobby malsucedido
De Paris, Henrique Meirelles garantiu não ter recebido nenhuma pressão do presidente da República ou do ministro da Fazenda para que a instituição intercedesse em favor dos pedidos de Marcos Valério no processo de liquidação dos bancos Mercantil de Pernambuco e Econômico. “O que existe é a crônica do lobby malsucedido”, ironizou o presidente do Banco Central.
Segundo a revista, o empresário mineiro visitou o BC em 17 ocasiões como representante do Banco Rural para tentar suspender a liquidação dos outros dois bancos. Veja sustenta que Lula e Palocci chegaram a pressionar Meirelles para que ele aceitasse os pedidos de Marcos Valério. A operação teria sido abortada quando o nome dele apareceu nos noticiários como o principal operador do mensalão.
Mas, de acordo com o presidente do BC, a decisão do banco sobre os pedidos relacionados aos processos de liquidação do Mercantil de Pernambuco e o Econômico já havia sido tomada quando a crise política estourou.
"Não recebi pressão do presidente, nem do ministro da Fazenda. Sempre o que recebi, em qualquer assunto, foi uma recomendação e apoio para tomar as decisões que o BC sempre julgar adequadas. O presidente nunca falou comigo sobre esse assunto e nunca me senti pressionado em relação a essa questão", disse Meirelles.
De acordo com a revista, conforme o resultado da operação, Marcos Valério poderia desviar até R$ 1 bilhão dos cofres públicos. Parte do dinheiro seria revertida para o PT.
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