Nilson Leitão *
A presidente Dilma emite sinais de surdez ou de que não quer ouvir o grito das ruas. O clamor dos manifestantes por um Brasil melhor fala claramente em “abaixo a corrupção”, “abaixo a incompetência administrativa”, temas que nem de longe Dilma quer discutir.
No lugar de atender aos apelos da população, a presidente tenta se apropriar das manifestações para impor ao Congresso Nacional uma proposta de reforma política que o PT vem tentando impingir ao país há tempos.
Primeiro, Dilma queria uma Constituinte exclusiva para tratar dessa reforma política. Diante da rejeição geral da proposta, ela voltou atrás. Veio, então, com outro casuísmo: o plebiscito. Além de desnecessário, é um desperdício de recursos públicos, de tempo, da energia da classe política e da população. Foi também rejeitado.
A reforma política que o PT quer, na realidade, é um projeto que perpetue o partido no poder e pelo qual tem lutado nos últimos dez anos.
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O que o PT de Lula e Dilma tem feito até agora é dar curso à ocupação descarada das instituições públicas pela sujeição a interesses partidários, transformando-as em aparelhos petistas, ora pela submissão do Congresso, em afronta a suas prerrogativas legislativas, ora pela usurpação disfarçada da autonomia dos estados e municípios, subvertendo o saudável equilíbrio que deve existir entre as esferas de governo.
Dilma não ouve as ruas, está surda para os temas que preocupam e mobilizam o povo. Mais de 77% dos brasileiros, por exemplo, estão preocupados – e muito preocupados – com a alta do custo de vida. E não é para menos: a projeção de inflação medida pelo IPCA para 2013 subiu de 5,86% para 5,87%, de acordo com a última pesquisa Focus divulgada pelo Banco Central.
Enquanto isso, a previsão de crescimento da economia brasileira em 2013 recuou de 2,46% para 2,40% em pesquisa do mesmo BC. Para 2014, a estimativa de expansão caiu de 3,10% para 3,00. Há quatro semanas, as projeções eram, respectivamente, de 2,77% e 3,40%. Para o FMI, o Brasil crescerá 2,5% e não mais 3% previsto em abril.
Crescimento em baixa, inflação alta e corrupção acelerada. O preço da corrupção custa para o Brasil R$ 69,1 bilhões por ano, em números de 2010. Com a inflação e a leniência do governo os assaltos ao dinheiro público prosperam e esse rombo aumenta a cada ano.
Os prejuízos decorrentes da corrupção giram entre 1,38% a 2,3% do PIB.
Esse dinheiro, se investido em educação poderia ampliar de 34,5 milhões para 51 milhões o número de estudantes matriculados na rede pública do ensino fundamental.
A quantidade de leitos para internação nos hospitais públicos poderia subir dos 367.397 atuais para 694.409.
O dinheiro desviado também poderia atender com moradias a mais de 2,9 milhões de famílias e levar saneamento básico a mais de 23,3 milhões de domicílios.
A corrupção levou, em 2009, o Brasil a ocupar a 75ª colocação em um ranking de 180 países.
As mudanças que o país quer são as reformas fiscal e tributária, que aumentam o controle sobre os gastos públicos e evitam o pagamento de propinas em empresas estatais. Avanços que punam mais rapidamente os casos de corrupção; que reduzam as nomeações dos 22.417 cargos de confiança ocupados por critérios obscuros em detrimento da meritocracia.
O que a rua exige é a execução plena do orçamento aprovado pelo Congresso Nacional que deveria ser aplicado em saúde, saneamento, educação e transportes, mas é sistematicamente contingenciado.
Já os gastos gigantescos com a máquina administrativa são realizados na totalidade e crescem a cada ano. E não é para menos: são 39 ministérios que consomem R$ 611 bilhões por ano.
Enfim, a burocracia na gestão petista cresceu corporativa e assustadoramente. O presidente Fernando Henrique Cardoso entregou a Lula um país com 24 ministérios. Lula criou 11 pastas e Dilma, mais quatro.
A cobrança de impostos vem batendo recordes sucessivos. No ano passado, a arrecadação tributária foi de R$ 1,59 trilhão para um PIB de R$ 4,403 trilhões, ou seja, 36,27% de tudo o que foi produzido no país.
Como mostram os números, a arrecadação de impostos no Brasil é de primeiro mundo e os serviços públicos são degradantes.
É este quadro de calamidade nos serviços públicos de saúde, na educação e segurança pública que emerge das ruas e Dilma Rousseff parece não ouvir. Ela ouve, sim. Apenas não considera o que ouve e oferece respostas que só atendem ao PT e a seu projeto de reeleição.
* Nilson Leitão é deputado federal (PSDB-MT) e líder da Minoria na Câmara.
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