Serys Slhessarenko*
Nós, mulheres, somos 40% da força de trabalho do Brasil. Somos maioria da população, do eleitorado, nas universidades brasileiras e entre os trabalhadores do setor de serviços. Também em toda a América Latina, nos últimos 20 anos, a presença feminina no mercado de trabalho dobrou. Ou seja, com coragem, força e, principalmente, competência, temos vencido dificuldades e aberto portas e espaço num mundo ainda de comando masculino.
Por isso mesmo, como pacientes e conscientes formigas-operárias, trabalhamos por igualdade de fato – de direitos e oportunidades para todos: mulheres, homens, jovens e adultos, de todas as raças, todas as crenças, qualquer que seja a opção sexual, profissão ou filiação política. A fé na conquista dessa igualdade absoluta embala nosso trabalho constante, em muitas frentes.
O reconhecimento da justa motivação de nossa luta teve um marco em 2004, quando celebramos o Ano da Mulher Brasileira. Iniciativa do parlamento brasileiro que encontrou parceria e eco no governo federal, no Judiciário e nas organizações não-governamentais (ONGs) dedicadas à defesa dos direitos humanos e das mulheres particularmente. Com orgulho, celebramos o Ano da Mulher como uma conquista da sociedade brasileira.
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Também honrada, presidi no Senado Federal a comissão especial criada para mostrar o empenho do legislativo brasileiro na luta de nós mulheres. Com publicações históricas, seminários, exposições, mobilizações nacionais, videoconferências e empenho na viabilização de leis mais justas e igualitárias, a Comissão Especial do Ano da Mulher Brasileira cumpriu seu papel: dar visibilidade aos avanços da luta das mulheres, exibir dificuldades e renitentes mazelas, como a absurda violência que ainda castiga mulheres de todas as classes sociais.
Graças ao bom trabalho realizado por todos os setores envolvidos naquela celebração, em 2005, ampliamos a homenagem e o campo de ação, instituindo o Ano da Mulher Latino-Americana e Caribenha e, novamente, tivemos uma resposta positiva e completa adesão dos representantes dos países latinos.
Juntas, as mulheres latinas e caribenhas irão sim redescobrir a América. Será um exercício de nossa tão sonhada integração, quando, pioneiramente, vamos buscar semelhanças nas vitórias e nas dificuldades das mulheres de toda essa macro-região. Mas, acima de tudo, vamos homogeneizar nossa luta por igualdade de fato.
Hoje, não lutamos mais sectariamente contra os homens. Ao contrário, ganhamos a parceria majoritária da população masculina para a causa da igualdade. Essa parceria também é marco das muitas vitórias conquistadas pelas mulheres desde que num certo dia 8 de março, nos idos de 1857, operárias têxteis de Nova Iorque (USA), rebelaram-se contra a injustiça de trabalhar 16 horas/dia e ganhar 1/3 do que recebiam os homens. Aquelas heróicas pioneiras pararam as máquinas e cruzaram os braços. Como represália, as portas da fábrica foram fechadas e o prédio, incendiado. Pelo menos 130 mulheres viraram cinza.
Em 1910, na Dinamarca, o dia 8 de março foi transformado em símbolo da barbárie contra as mulheres. Hoje, em todo o mundo, é o Dia Internacional da Mulher, para que ninguém esqueça aquela fogueira viva feita com as rebeladas americanas, que pretendiam apenas o direito de trabalhar 10 horas por dia, com salário justo.
Por isso, mais do nunca, precisamos de símbolos, datas, campanhas de mobilização e comissões especiais. Por isso, precisamos do empenho de todas e todos na defesa da igualdade, no trabalho por igualdade em todas as searas, em todas as esferas – particularmente nas de comando, onde ainda temos espaços restritos.
* Serys Slhessarenko é senadora (PT-MT), mestre em Educação, membro da coordenação da bancada feminina do Congresso Nacional e presidente Conselho da Mulher Cidadã Bertha-Lutz.
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