Jesus Rodrigues *
Convivi quatro anos na Câmara federal com o deputado Eduardo Cunha. Nos dois primeiros anos não notei sua ausência ou presença. Até aí tudo normal, porque afinal de contas somos 513, e com algum revezamento entre suplentes que entram e saem não é possível notar a atuação de todos. Até porque muitos nem usam a tribuna ou participam dos debates em plenário.
Nos dois anos seguintes, o deputado Eduardo Cunha substituiu o deputado Henrique Eduardo Alves (que se elegera presidente da Câmara) na função de líder da bancada do PMDB. A partir daí era impossível não notar sua presença. Bom regimentalista, sabia travar e destravar uma sessão, travar e destravar os votos de sua bancada e, pasmem, como líder do PMDB, Eduardo Cunha às vezes percorria outras bancadas de oposição incentivando o voto contra o governo, mesmo naqueles projetos que a oposição entendia serem bons.
Só por isso já seria muito ruim. Um líder, cujo vice-presidente é do seu partido, representado no governo em diversos ministérios, montar estratégia dessa forma para dificultar a aprovação de projetos ou medidas provisórias até de interesse da oposição e assim fazer a cunha no governo para sua aprovação! Mas este é o modo de ser da maioria no PMDB. Sempre na pressão, no jogo de cintura e insaciável por espaços.
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Se por isso já é muito ruim, vamos ao muito pior quando, por seu intermédio, vem para dentro da Câmara o interesse de grandes grupos empresariais, como observado no caso da medida provisória dos portos e também das empresas de mídia durante a discussão do marco civil da internet. Não tenham dúvidas de que Eduardo fez a sua cunha.
Eis que Eduardo Cunha, não sendo parceiro das pautas sociais nem dos trabalhadores, mesmo não sendo de sorriso fácil e de bom dia, boa tarde ou boa noite, é candidato à presidência da Câmara, o que é um legítimo direito de qualquer deputado.
Mas a Câmara faz parte do Poder Legislativo, seu presidente é o terceiro na linha sucessória da Presidência da República. Como Poder Legislativo federal, representa o povo brasileiro, enquanto o Senado representa os estados. Por isso ela não pode se tornar instrumento de um deputado, de um líder de bancada ou de uma bancada. Ela precisa urgentemente se aproximar do povo e de sua pauta para reverter a imagem expressa em junho de 2013 de que “eles não nos representam”.
Para isso, os deputados precisam eleger um presidente que tenha essa disposição. Nessa eleição, se eu fosse deputado e se fosse do PT, votaria no deputado Arlindo Chinaglia. Mas como um “se” não faz nada, imagine dois, eu recomendo que o eleitor se aproxime do seu deputado e faça um questionamento sobre seu voto e sobre como a presidência da Câmara Federal pode influenciar nos rumos que o Brasil deve seguir.
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* Jesus Rodrigues é deputado federal pelo PT do Piauí até janeiro de 2015 (não foi candidato à reeleição).
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