Marcelo Mirisola
Faz um tempão que não vejo o Canal Brasil. Uma das poucas coisas que sinto falta na televisão, confesso. Anteontem, fiquei sabendo que Aldir Blanc tem presença garantida lá no 66. Foi um amigo meu, o Nilo, quem me alertou: “O Aldir Blanc soltou os cachorros numa editora. Tava lendo os trechos que os caras censuraram. Cambada de bundões!”
A partir daí, pensei comigo mesmo: quero saber do que se trata. Vou tentar entrevistar o Aldir Blanc. Essa censura disfarçada de “edição” já encheu meu saco. Comigo aconteceu algo parecido. Em Paraty, quando cobria aquela palhaçada para o jornal Zero Hora, também me censuraram. De lá pra cá foi só chega pra lá, isolamento e essa babaquice generalizada que se instalou na mente das pessoas. E virou uma obsessão pra mim. Daí que tenho a obrigação de fazer um alerta ao leitor do Congresso em Foco. Por causa dessa minha obsessão, mania persecutória ou inhaca adquirida, e diante da minha incapacidade de respirar no meio desse lixo todo, algumas perguntas que faço ao Aldir Blanc são praticamente iguais às que fiz ao Nilsão Primitivo. Se as faço é porque me infernizam, e porque urgem.
Perguntas e respostas foram enviadas por e-mail.
Que editora é essa que o censurou? Por que a babaquice generalizou-se na terra, no mar e no ar?
Aldir Blanc – Para colocar a coisa em termos precisos, o departamento jurídico da Desiderata “sugeriu” a retirada de alguns aforismos, que prefiro chamar de esculhambações, do livro Guimbas. Acho que a causa de todas as babaquices é que imitamos os americanos em tudo e criou-se uma indústria de indenizações por qualquer merda.
Os departamentos de marketing e jurídico são o novo DIP, a nova KGB? Não pega bem ter talento hoje em dia?
Marketing, como escrevi no próprio Guimbas, é uma profissão que ricocheteia. Não acho que talento entre nisso. É só um jogo de oportunismos.
Entendi. No lugar do talento, a vigarice, o oportunismo. Só não entendo por que continuar chamado os “produtos” dessa esterilidade de “arte”. Que se reconheça a canga e a filhadaputagem, e estamos conversados. E o Guimbas? Você vai procurar outra editora?
Quanto ao Guimbas, há uma certa confusão. Nem a editora (nem eu) soube dos cortes e ainda estou esperando ver o que vai acontecer com o livro sobre o Vasco, que também teria sido podado pelo mesmo departamento jurídico, atuando de beque-da-roça na Agir. O pretenso motivo é duro de engolir: eu teria batido muito pesado em Eurico Miranda. Pomba, eu entreguei o livro pronto no ano passado, em plena gestão do Eurico. Que graça teria um livro sobre o Vasco sem bater no Eurico? Esse ainda não foi lançado. Talvez vá pra escanteio, não sei de nada certo ainda.
Um livro sobre o Vasco sem bater no Euricão não teria a mínima graça, esse pessoal do departamento jurídico realmente não tem um pingo de humor. Penso em Nelson Rodrigues, Joel Silveira, esses gigantes (e apaixonados) que eram escritores e ganhavam a vida no jornalismo. Queria saber: Por que tanto bunda mole se dando bem? Por que os jornais, e os meios de comunicação em geral, trocaram os escritores pelos técnicos? Quando leio uma crônica (?) do Drauzio Varella sobre placentas, dá vontade de pedir o chapéu, entende?
Bom, aconteceram duas histórias ridículas comigo no JB. A primeira, quando dividia uma coluna com o Lan, e fui mandado embora por “denegrir” a imagem da cidade. Segundo os sábios, o Rio não era tão violento… Outra, na demissão mais recente. Queriam tornar o Caderno B mais “palatável”, mais “feminino” e meu texto era muito agressivo. Acho que isso diz bem o clima que rola. Aproveito para contar a demissão mais sórdida, de O Dia, ninguém teve coragem de falar comigo, um funcionário fichinha, revoltado com a situação, é que me avisou. Depois, soube que Bum-Bum Garoto e Rosinha Gigoga, que lideravam a quadrilha do estado do Rio na época, pediram minha cabeça. Veja o caso da Folha de S. Paulo, que também não leio. Um palhaço banca o vanguardista e trucida nossa música popular enquanto leva jabá pra promover roquinhos. Aí o jornal descobre e manda o lalau embora sem nada da tal transparência que preconiza. O cara vai pra outro jornal e também é demitido por tráfico com passagens aéreas, um precursor. Hoje, é “respeitável” resenhista literato de revista de elite, onde, do trono cagado de sua sabiduria, ataca Philip Roth e outros.
De antemão dá pra dizer que um cara que sacaneia Philip Roth é um canalha. Mas, curioso, quando você falava nessas perseguições, fui jogado nos anos 50. Se me permite, vou abrir um parêntese. Associei sua resposta a um tempo em que pessoas tinham “imagem” e “reputação” e elas eram – pasme! – denegridas. Aí, de repente, volto ao Rio de Janeiro de hoje. Pra banca de jornal da esquina. E abro os cadernos “B”. E me vem uma certeza: a Zona Sul e os cadernos “B” dos jornais locais são um presépio. A mesma coisa vale para as novelas engajadíssimas do Manoel Carlos. Tudo muito ridículo. Quanto a Rosinha e o jeito dela de dona de casa zelosa, bem, tenho que ser sincero, isso sempre me deu um tesão danado. E essa coisa de “pedir a cabeça”, além de típica é previsível, é matéria-prima para mim e está incluída no pacote dos meus interesses… ou perversões, tanto faz. Acho até que a Rosinha deve ser prima da Fátima Bernardes. Elas não são parecidas, tipo mãezonas? Fecho o parêntese. E quero dizer que, se você ainda não havia se manifestado publicamente sobre as sacanagens do casal Bum-Bum, considere o seu desabafo registrado. Minha vontade era perguntar o nome desse canalha que – entre tantas – andou zoando o Philip Roth. Mas, como diz minha amiga Márcia Denser, isso é dar cartaz pra trouxa. Vamos em frente. Eu preferia – de longe – suas crônicas no Estadão, mas afinal, o que você acha do Milton Hatoum como cronista? Não sente falta da inconsequência febril e bêbada de um Carlinhos Oliveira? Não sente falta dos arroubos de um Tarso de Castro? Ou das resenhas de um Otto Maria Carpeaux (que não tinha nem o primário)? A propósito e voltando à pergunta anterior: eu não consigo ler as resenhas desse povo da USP, tanto eles como os departamentos jurídicos em questão e os Drauzio Varellas da vida, não tem o mínimo senso de humor. Você consegue ler o que esses sabichões escrevem?
Não posso falar sobre o que não li. Quando o Estadão me demitiu e passou a dizer aos leitores que eu é que havia pedido pra sair por motivos particulares, nunca mais li o jornal.
Engraçado: tem gente lá no Estadão que se acha “liberal”. Na hora de sacanear e assassinar pelas costas, são todos iguais. Será que você também estava “denegrindo” a imagem do Estadão? Bem, eu falava dos doutores da USP, e não podia deixar de lembrar dos acadêmicos da Hebraica: Wisnik, Nestrovski e o que vem no cambulhão: Marisa Monte, Arnaldo Antunes e assemelhados. Se me permite, vou reproduzir o trecho de uma crônica que escrevi na ocasião da estreia do filme Mistérios do samba, dirigido pela própria Marisa Monte, Lula Buarque e por Carolina, filha do Jabor. Aqui vai: “Na minha cachola não consigo vislumbrar Marisa Monte cantando descalça, não feito uma Clara Nunes, por exemplo. Não é que falte leveza nela, eu é que não fico muito à vontade com a situação. Os calcanhares sujos da Marisa Monte não me convencem. Nem o eventual sovaco mal depilado. Diferentemente de um Vinicius de Moraes, que antes de ser negão foi galinha verde
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