Ricardo Ramos |
Ao receber o coordenador do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem-Terra (MST), João Pedro Stédile, no dia 25 de fevereiro, o presidente da Câmara, Severino Cavalcanti (PP-PE), garantiu que incluiria a PEC do Trabalho Escravo na pauta do Plenário. Contudo, nem a chefia de gabinete, nem a assessoria de imprensa, nem a filha de Severino, a deputada estadual Ana Cavalcanti (PP-PE), souberam informar quando a proposta será votada. “A minha posição como deputado é uma e como presidente da Câmara é outra. Não terei nenhuma idéia fixa para prejudicar os movimentos sociais. Podem ficar tranqüilos: uma nova fase começa na Câmara, em que os projetos não ficarão mais engavetados", afirmou Severino, logo após o encontro com Stédile. Conhecido desafeto dos sem-terra, o presidente da Câmara disse que, apesar de não concordar com a atuação do movimento, não iria se opor à votação da proposta, que facilita a expropriação de terra para reforma agrária. Leia também No entanto, oito dias antes de se encontrar com Stédile, Severino jogara no time adversário. Deu carta branca ao correligionário de partido e um dos coordenadores da bancada ruralista, o deputado Odacir Zonta (SC), para que encaminhasse as reivindicações dos produtores rurais. Entre os principais pedidos apresentados por entidades ligadas ao agronegócio estava o arquivamento da PEC do Trabalho Escravo. O fato é que, no segundo turno da eleição para a presidência da Câmara, a bancada ruralista foi decisiva na vitória de Severino Cavalcanti. Votou em peso nele, mesmo com as promessas explícitas do candidato oficial do PT, Luiz Eduardo Greenhalgh (PT-SP), de que faria concessões ao agronegócio. Num discurso em plenário, no dia 2 de março de 2004, Severino Cavalcanti atacou duramente a PEC do Trabalho Escravo. “Mas não podemos assistir de braços cruzados ao desvirtuamento e à transformação de uma campanha séria e correta – como o combate ao trabalho escravo – em exigências absurdas que começam a inviabilizar o trabalho no campo.” Severino disse que não é possível “resolver os problemas do campo e do desemprego com a ameaça aos produtores e aos fazendeiros de que haverá confisco de suas terras, no caso das muitas e controversas versões de trabalho escravo”. O atual presidente da Câmara foi categórico: “O medo de ter um nome da família colocado à execração pública já vem levando muitos produtores a mudarem de ramo, deixando para trás uma legião de famílias de desempregados, com o campo sendo entregue aos grandes grupos econômicos de lavoura mecanizada e de pouca mão-de-obra”. |
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