Carol Ferrare
Um dos fundadores e atual presidente da igreja evangélica Sara Nossa Terra, o deputado Robson Rodovalho (DEM-DF) estréia na Câmara como uma das principais lideranças religiosas da Casa. Coordenador da Frente Parlamentar da Família e Apoio à Vida, o bispo assume abertamente a defesa dos preceitos de sua igreja no Congresso. Entre eles, está a tese de que os homossexuais são “pecadores” e frutos de “famílias deformadas”.
Em uma audiência pública realizada pela frente parlamentar no último dia 17, Rodovalho falou para cerca de 50 pessoas sobre a importância da família na sociedade. “A natureza revela a glória de Deus. Então a família é formada por um homem e por uma mulher. Não tem jeito de nascer um filho de dois homens ou duas mulheres. Por mais que a ciência queira, ela vai tentar fazer, mas vai fazer uma aberração. Não precisa ir muito longe, é só aceitar o curso natural das coisas”, disse (veja a íntegra).
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“Quando você tem um adulto ou um adolescente deformado, desfocado, desestruturado, pode ter certeza que aquilo não é, nada mais nada menos, que um reflexo da família distorcida que ele tem”, acrescentou.
Para o religioso, os efeitos dessa desestruturação são coletivos. “A vida humana toda se desenvolve em torno desse eixo central, o homem. E esse homem e essa mulher formam algo chamado família, que é uma célula na qual nós desenvolvemos a sociedade. Se você desorganiza essa força, esse equilíbrio de células, você desequilibra todo o restante da sociedade por cadeia”.
“A célula está sendo destruída. Toda célula que se destrói produz uma doença no organismo em que ela está inserida e o organismo da família é a sociedade. A família saudável forma uma sociedade saudável”, concluiu.
Vistas como preconceituosas por militantes da causa GLBT (gays, lésbicas, bissexuais, transexuais e travestis), as declarações do bispo estão em absoluta consonância com a postura da Frente Parlamentar da Família e Apoio à Vida em relação às políticas públicas para os homossexuais.
Agressão à sociedade
“Nós não aceitamos que o Estado sacramente o casamento, a união civil entre eles, porque nós estamos em uma sociedade majoritariamente cristã, que não entende e não concorda com isso. Então o que a gente acha é que a minoria tem que aceitar a posição da maioria em uma democracia. Não dá para esperar que o Estado legitime porque isso é uma agressão para a maioria da sociedade”, disse o deputado ao Congresso em Foco.
Coordenadora da Frente Parlamentar pela Cidadania GLBT, a deputada Cida Diogo (PT-RJ) critica a postura dos parlamentares religiosos. Para a deputada, os parlamentares demonstram intolerância quando se opõem à aprovação do projeto de lei (PL 122/06) que pune a discriminação de homossexuais com até cinco anos de prisão (leia mais).
Na avaliação dela, a proposta não tolhe a liberdade de culto, como alegam evangélicos e católicos, mas apenas inibe excessos. “Uma coisa é dizer que é pecado, outra é agredir, discriminar, desrespeitar. Eles podem até não concordar, mas daí a dizer, por exemplo, que é doença, é completamente diferente”, avaliou.
Para Rodovalho, a visão dos religiosos em relação aos homossexuais não pode ser classificada como preconceituosa. “Discriminação é um crime contra todos, não é apenas contra os homossexuais, é contra os homens, contra as mulheres, contra as crianças, contra os evangélicos. Discriminação é um crime contra a sociedade”, afirmou.
Segundo o deputado, a discussão sobre o assunto não enfrentaria resistência dos parlamentares religiosos se fosse analisada sob outra perspectiva. “A gente acha que deve deslocar o discurso do grupo para toda a sociedade, proteção para todos. E aí vemos: a legislação atual não protege, não dá essa segurança? Então vamos completá-la”, sugere.
Criada há 15 anos pelo próprio Bispo Rodovalho, em Brasília, a Sara Nossa Terra está espalhada em 550 igrejas no Brasil e no exterior. Sua força também está nos meios de comunicação que controla: um canal de televisão (TV Gênesis), uma rádio (Sara Brasil FM), uma revista e um jornal.
Físico especializado em Ressonância Magnética, Rodovalho foi professor da Universidade Federal de Goiás (UFG) por 15 anos, antes de se mudar para a capital federal. O deputado chegou à Câmara este ano após ter recebido, em outubro, 68.378 votos em sua primeira disputa eleitoral.
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