Com o panelaço de quinta-feira passada, caíram por terra as últimas esperanças daqueles que ainda acreditavam numa outra saída para o atual governo que não fosse o vexame de seu impedimento pelo Congresso Nacional. Não que seja alguma surpresa para os mais atentos.
A acelerada perda da credibilidade da presidente ao longo do ano provavelmente vai virar “case study” nos cursos universitários e de pós-graduação, nos mais variados ramos das ciências humanas, principalmente por estar se dando no tripé de sustentação de qualquer governo democrático: a economia, a política e a sociedade.
Pelo lado econômico, esta semana mesmo uma empresa de consultoria, a XP Investimentos, divulgou uma pesquisa sobre o ânimo de investidores no país. A crueza dos números impressiona, principalmente quando a pergunta é “Para você, qual a probabilidade de impeachment?“. Em abril, 47% dos investidores não acreditavam na saída da presidente. Zero chance, cravaram eles. Agora, em agosto, simplesmente ninguém arrisca a dizer que o impeachment não vai ocorrer. A maioria, 43% dos pesquisados, acha que a chance de impedimento é de mais de 50%. Com um grau de desconfiança desse tamanho, o dólar acabou batendo a marca estratosférica de 4 reais, sem dar sinais de um arrefecimento sustentado.
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Na política, o esfacelamento da base aliada no Congresso Nacional revela que a credibilidade é baixíssima. Partidos alinhados se declararam “independentes” e as derrotas em votações no Congresso seguem-se uma após a outra. E não se questiona mais o mérito do fato. Na verdade, o que se discute é qual dos meios de remoção do PT do Executivo é o mais adequado.
Na sociedade, os cidadãos já há tempos mostram que não topam mais mentiras, desculpas esfarrapadas e dinheiro público sendo jogado no ralo por inépcia, corrupção ou mera ideologia anacrônica. Daí os panelaços que vêm acompanhando cada horário político em TV ocupado pelo partido governista.
Como já se disse, a “tempestade perfeita” chegou para o governo federal e adquiriu contornos de “Paradoxo de Tostines”: a crise política veio por causa da crise econômica, ou a quebra da economia é que acelerou as dificuldades de articulação? Ou será que a cultura de cidadania na sociedade já amadureceu a ponto de não suportar a atual cultura política fisiológica, agudamente patrimonialista e descolada dos anseios dos verdadeiros donos dos mandatos, os cidadãos eleitores e pagadores de impostos?
Em seu programa de TV, o partido da presidente insistiu nos temas de sempre, como redução da miséria e melhoria das condições de vida de expressiva parcela da população carente. A conquista da chamada inclusão social. Ótimo. É o que todos queremos. Mas isto não justifica o incrível índice de corrupção sistêmica que se alojou no aparelho de Estado, comparado por um procurador como uma “metástase” no poder público. No encerramento, o programa acintoso ainda ironizou os panelaços da sociedade, ao invés de pedir as devidas desculpas por toda essa bagunça.
É isso mesmo? A sociedade deve ter calma pois o momento é passageiro? É tudo invenção da oposição para desestabilizar o governo? Mais um ponto para derrubar ainda mais a credibilidade da presidente e seu partido.
Dia 16 de agosto vem aí.
Com ele, manifestações são prometidas para todo o país. Dependendo da adesão da sociedade, isso vai colocar mais combustível na votação do Tribunal de Contas da União (TCU) sobre as “pedaladas fiscais” do governo federal, que nada mais são do que uma demonstração clara de falta de coragem para admitir seus próprios erros na condução política e econômica do país. Pedalou-se para não se ter que confessar o inconfessável e reconhecer uma triste responsabilidade. Pedalou-se para enganar o eleitorado nacional.
No Rio de Janeiro, o movimento 31 de Julho convoca a todos para o evento a partir de 11 da manhã em Copacabana. Em São Paulo, a concentração será no MASP, a partir das 16 horas. Em Porto Alegre, será às 14 horas no Parcão. No Recife, a partir das 9 e meia da manhã na Avenida Boa Viagem. Em Cuiabá, na Praça Alencastro, a partir das 16 horas. Em Brasília será às 9 e meia da manhã em frente ao Museu Nacional, na Esplanada dos Ministérios. Por enquanto, mais de 200 cidades confirmadas por todo o país. Sem falar em pelo menos 13 cidades estrangeiras, de acordo com a página do movimento Vem Pra Rua nas redes sociais.
De certo mesmo, só a qualidade do trabalho de investigação da Polícia Federal e do Ministério Público, em conjunto com uma Justiça que tem se mostrado firme e atenta. Três das instituições de Estado tradicionalmente com maior grau de credibilidade junto à sociedade. Alguma surpresa?
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