Antes do início da votação, os oito deputados inscritos como candidatos à presidência da Câmara ocuparam a tribuna por 15 minutos para um pronunciamento. Os discursos revelaram um profundo cisma entre o Palácio do Planalto e a oposição, indicando a polarização para uma eventual disputa em segundo turno. Os deputados Michel Temer (PMDB-SP) e Vanderlei Assis (PP-SP) decidiram abrir mão de suas candidaturas, reduzindo para seis o número de candidatos ao terceiro cargo mais importante da República. Temer declarou apoio a José Thomaz Nonô (PFL-AL), enquanto Vanderlei pediu voto para Ciro Nogueira (PP-PI).
A seguir, pela ordem dos pronunciamentos, os principais trechos dos discursos dos candidatos à presidência da Câmara:
Michel Temer (PMDB-SP)
O presidente nacional do PMDB fez uso da palavra para renunciar à sua candidatura e declarar apoio ao candidato da oposição, José Thomaz Nonô (leia mais). Temer não poupou críticas ao presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL), a quem responsabilizou pela divisão interna do partido. O deputado disse que foi convencido por Renan a aceitar a candidatura como uma missão partidária. Duas horas depois de aceitar o convite, Temer afirmou ter sido surpreendido pelo apoio de Renan a Aldo Rebelo (PCdoB-SP). Nonô é adversário político do presidente do Senado em Alagoas.
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Luiz Antônio Fleury Filho (PTB-SP)
O ex-governador de São Paulo reafirmou a independência de sua candidatura, negando rumores de que continuaria na disputa apenas para favorecer o candidato do Planalto, Aldo Rebelo (PCdoB-SP). "Estive com o presidente da República a convite dele e disse que a minha candidatura é irreversível. Jamais vendi minha consciência. Essas versões injuriosas são o preço que pago", protestou. Na avaliação dele, o próximo presidente terá uma enorme responsabilidade diante da crise política, na qual estão envolvidos o Legislativo e Executivo e que representa a antecipação da disputa eleitoral de 2006.
Ciro Nogueira (PP-PI)
Auto-proclamado candidato da “terceira via” à presidência da Câmara, Ciro defendeu seu nome como uma opção pela neutralidade. "O que está em discussão não é a vitória do governo ou da oposição, nem uma guerra do baixo clero contra o alto clero", disse. O afilhado político de Severino Cavalcanti apresentou um plano de trabalho com a adoção de emendas impositivas ao Orçamento da União e a limitação das medidas provisórias pelos critérios de urgência e de relevância. O deputado criticou a concentração de poderes em um pequeno grupo de parlamentares e defendeu seu lema de campanha: levar em conta cada um dos deputados como 513 líderes (leia mais).
José Thomaz Nonô (PFL-AL)
O primeiro vice-presidente da Câmara reforçou seu status de principal candidato de oposição ao governo Lula. De acordo com Nonô, a consolidação de seu nome representará a independência da Casa em relação ao Executivo. O deputado afirmou que, se eleito, vai cobrar cooperação do governo para reduzir a edição de medidas provisórias. Por outro lado, reiterou que garantirá o andamento das votações de temas do interesse do Executivo. Ele atacou aqueles que consideram sua eleição uma ameaça à governabilidade do país. “Só os mongóis – perdoem-me a palavra forte, poderia usar uma mais suave –, só aqueles que são um pouco descerebrados podem entender que o consenso só se pode fazer dentro do governo”, criticou.
Alceu Collares (PDT-RS)
O deputado aproveitou seu tempo para afirmar que, se eleito, restaurará a autonomia da Câmara. O pedetista, cuja candidatura não tem apoio da liderança do partido, condenou o abuso na edição das medidas provisórias. “A medida provisória é a ferramenta que desmoraliza o Congresso Nacional”, afirmou. O candidato contestou a declaração de apoio do líder do partido, Severiano Alves (PDT-BA), à candidatura de Thomaz Nonô (PFL-AL). O deputado declarou que, em um eventual segundo turno, apoiará o candidato do Planalto, Aldo Rebelo (PCdoB-SP). “Vou votar no candidato Aldo Rebelo e vou defender essa idéia dentro da minha bancada.”
Aldo Rebelo (PCdoB-SP)
O candidato escolhido pelo governo tentou se desvincular da imagem de situacionista e pregou a independência do Legislativo. "Esta Casa só poderá ser conduzida com o apoio de todos. Terei coragem para condenar quem tiver culpa e coragem para defender quem não tiver", afirmou Aldo, referindo-se aos processos de cassação dos deputados da base aliada. O comunista também afirmou que a democracia brasileira precisa de uma Câmara forte e que tenha a confiança absoluta da sociedade. "O Legislativo é o único poder no qual cada representante passou pelo teste das urnas. Sem independência, não terá autoridade para negociar os conflitos deste país tão desigual."
Jair Bolsonaro (PP-RJ)
Mesmo sem renunciar à sua candidatura, o deputado declarou que votaria em Ciro Nogueira (PP-PI) já no primeiro turno. Bolsonaro usou a tribuna para acusar o governo de fazer manobras, como liberação de emenda e oferta de cargos, para favorecer a candidatura oficial. De acordo com o deputado, a sobrevivência política da Câmara depende da derrota do candidato do governo. "O que precisamos nessa casa não é um representante do governo, mas nosso. Precisamos de um presidente que defenda essa Casa", defendeu.
Vanderlei Assis (PP-SP)
Usando somente seis dos 15 minutos a que tinha direito, o deputado anunciou sua renúncia, que já havia sido tornada pública pela manhã, mas não oficializada por falta de tempo hábil. “Como ocorre corriqueiramente comigo, cheguei atrasado 11 minutos e fui obrigado a vir a Plenário, tendo direito a esse discurso”. Em seu curto discurso, o deputado pediu que o futuro presidente legisle no sentido de resgatar a imagem da Casa. "Essa é uma resposta verdadeira que poderemos dar à Nação", disse.
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