No último dia 24, no mesmo portal de notícias, leio três notícias correlacionadas, que, na atual conjuntura, são importantes por mostrar a hipocrisia de alguns e, ao mesmo tempo, a hipocrisia da imprensa.
Pouco mais de uma semana antes, no dia 15, milhares de pessoas foram às ruas para protestar contra a corrupção. Entre eles, a imprensa informa que estavam os senadores Ronaldo Caiado e José Agripino Maia. Ambos do DEM, mesmo partido de José Arruda (o governador corrupto do Distrito Federal) e do ex-senador Demóstenes Torres (cassado por corrupção).
No Paraná, também estava protestando Luiz Abi Altoun, primo (negado antes de o galo cantar três vezes) do governador Beto Richa. Ele protestou inclusive com cartaz em punho.
Informa a imprensa que no dia 15 também estava protestando no Paraná contra a corrupção Márcio José Tokars, juiz substituto em 2º grau da Segunda Câmara Criminal do Tribunal de Justiça do Paraná (TJPR).
Não posso afirmar e tampouco tenho conhecimento se o juiz Tokars se encontrou com o primo do governador durante esses protestos.
Caso não tenham se encontrado pessoalmente no dia 15, protestando contra a Dilma e o PT, sob a alegação de que protestavam contra a corrupção, o encontro se deu dias depois. Não se deu pessoalmente, mas através da análise de um processo.
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No dia seguinte ao protesto contra a “corrupção”, Luiz Abi Altoun foi preso sob a acusação de corrupção. Para obter a liberdade, seu advogado entrou com um pedido de habeas corpus.
Sete dias após a prisão, o juiz Márcio José Tokars, o mesmo que no dia 15 protestava contra a corrupção, após analisar o processo, dá parecer favorável à soltura do acusado, Luiz Abi, primo renegado de Beto Richa. Longe de mim qualquer julgamento. Trata-se apenas de constatações.
Assim como Demóstenes Torres, o senador José Agripino Maia (DEM-RN) se coloca como paladino da verdade e da honestidade e, nesta condição, foi um dos que participaram dos atos contra a corrupção.
No domingo, Maia era um manifestante contra a corrupção. Na sexta que antecedeu o domingo, tinha se tornado réu sob a acusação de que teria recebido R$ 1,1 milhão de propina. Agripino Maia é presidente do DEM e, nesta condição, recebeu a solidariedade de seu correligionário, o senador Ronaldo Caiado (DEM-GO), aquele que tem dois parentes na lista suja do trabalho escravo, e que também protestou.
A terceira notícia que me chamou a atenção neste dia 24 era a da clarividência da proteção a um partido (PSDB) e aos seus corruptos. O registro está em uma matéria da Reuters. A agência de notícias publicou, no dia 23, uma entrevista com o ex-presidente FHC, aquele que comprou a reeleição.
A entrevista veio acompanhada de um texto e, que por falha de quem a editou, apareceu no texto a frase “podemos tirar, se achar melhor”, o que significava tirar do texto a afirmação do ex-diretor da Petrobras, Pedro Barusco, de que a corrupção na Petrobras começou em 1997, no governo de Fernando Henrique Cardoso (PSDB). FHC governou o Brasil por oito anos, tendo como vice Marco Maciel, do PFL, que depois virou DEM.
Nem todos são hipócritas, mas há muita hipocrisia nos líderes desse movimento e em seus liderados. Esta hipocrisia não é menor do que faz a imprensa ao cobrir estes e tantos outros fatos. Sobre a hipocrisia da imprensa na cobertura de muitos fatos é fácil de registrar, basta ver como está sendo feita a cobertura da operação Lava Jato, do “Swissleaks”/HSBC, da Operação Zelotes, da sonegação de impostos por parte da TV Globo, etc.
Do “Swissleaks”/HSBC e da Operação Zelotes, pouco se escreve e se fala na mídia “democrática”, pois no primeiro aparecem os nomes de Lily Marinho, viúva de Roberto Marinho (Rede Globo), Luis Frias (Folha de S.Paulo), entre outros. Na Zelotes, surge, por exemplo, a RBS, rede de TV do Rio Grande do Sul, retransmissora da Globo.
Não acuso ninguém, mas todos esperamos no mínimo que democraticamente as notícias sejam publicadas e que se expliquem através de seus veículos de comunicação.
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