As investigações sobre o 8 de janeiro chegaram a Jair Bolsonaro e a seus aliados mais próximos. A operação da Polícia Federal deflagrada nesta manhã mirou generais quatro estrelas da reserva que há pouco estavam na cúpula das Forças Armadas e oficiais da ativa suspeitos de envolvimento na tentativa de golpe de estado, além de auxiliares diretos do ex-presidente — quatro deles foram presos. Bolsonaro está proibido de deixar o país e não pode se comunicar com os demais investigados. Valdemar Costa Neto, presidente do PL, está nesta lista. Terminou preso em flagrante, mas por outra razão: tinha em seu poder uma arma ilegal.
Batizada de “Tempo da verdade”, a operação autorizada pelo ministro do STF Alexandre de Moraes, com aval da PGR, abala os pilares da extrema direita no país, às vésperas das eleições municipais. Acontece num momento em que Lula tenta “quebrar o gelo” e se aproximar de governadores de oposição, como Tarcísio de Freitas (SP) e Cláudio Castro (RJ), e investe para quebrar a unidade do Centrão na Câmara. Pode deixar o chamado “bolsonarismo” órfão, na medida em que a imagem do ex-presidente fica cada vez mais associada à ilegalidade e perde perspectiva de poder.
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Bolsonaro já está inelegível, mas vinha viajando pelo país, na tentativa de manter o eleitorado e direcionar esses votos a aliados nos estados. Seu papel de grande eleitor enfraquece com a operação de hoje, abrindo espaço a outros líderes da direita que têm aspirações mais ambiciosas — por exemplo, os governadores Ronaldo Caiado (União Brasil-GO), Romeu Zema (Novo-MG) e Ratinho Jr (PSD-PR). O discurso da vitimização, da injustiça, certamente será usado como arma pelo grupo atingido, e as redes sociais serão inundadas com esse tipo de mensagem. A esta altura, no entanto, diante dos fatos, deverá comover apenas convertidos.
As evidências da articulação golpista reveladas pela investigação indicam uma organização meticulosa para criar as condições para a derrubada do governo — financeiras, jurídicas e políticas. A delação do tenente- coronel Mauro Cid é base do inquérito e detalhou a montagem do atentado. O plano previa prisões de ministros do STF e do comando do Congresso. Os militares do governo eram parte essencial desse planejamento, com os generais Augusto Heleno e Braga Neto à frente, apoiados pelos ex-comandantes da Marinha, almirante Almir Garnier Santos, e do Exército, general Paulo Sérgio Nogueira, promovido à ministro da Defesa por Bolsonaro.
As 135 páginas do despacho de Moraes informam que houve pressão sobre oficiais da ativa para que aderissem ao golpe, especialmente batalhões especializados em operações especiais, e dessem respaldo às ações. A decisão relata reunião, de 5 de julho de 2022, início da campanha eleitoral, em que Heleno afirma sem disfarces que era preciso “agir” contra pessoas e instituições, numa “virada de mesa”.
Ao iluminar a trama golpista em detalhes e o papel de Bolsonaro e seu entorno, o “bolsonarismo” e a direita radical perdem o encanto para grupos antipetistas que viam no ex-presidente a única alternativa eleitoral ao petista — setores do agronegócio, por exemplo. Não existe político vivo declarado morto. A “ressurreição” já foi provada inúmeras vezes, Lula é testemunha. Mas nem todos conseguem. Alguns só voltam como zumbis.
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