Felizmente sem mortes, Brasília, Distrito Federal, viveu episódios de violência em escolas na última semana. O assunto passou batido nos três poderes e a imprensa pouco disse! Afinal, violência na escola é rotina, e membros dos vários poderes estão mais preocupados em se dar bem na próxima eleição.
A OCDE fez levantamento em 2013 sobre a violência contra professores, por parte de alunos de 11 a 16 anos, em vários países: o Brasil foi o mais violento: 12,5% dos professores declararam ter sido vítima de agressões verbais ou intimidação por parte de alunos pelo menos 1 vez por semana! Na Coreia do Sul, Malásia e na Romênia o índice é zero! Dadas essas condições, quais destes países têm mais chances de ter um belo futuro? Qual deles está cultivando serpentes em seu sistema escolar? Levantamento de 2021, da USP, apontou que na RMSP oito em cada 10 estudantes já presenciara pelo menos uma situação de violência contra adolescentes na escola! A mesma pesquisa aponta que a violência sexual afetou 25% das jovens e 37% daqueles que se identificam como LGBTQIA+.
No caso recente de Brasília, numa das escolas havia a proposta de colocar detectores de metal em todas as entradas! Por seu alto custo, este caminho – de efeito zero na aprendizagem e quase nulo na redução da violência – demandaria anos até todas serem atendidas. Agravaria, pois, outro problema grave: o elevado, clientelístico e muitas vezes opressivo poder exercido nas comunidades por vereadores, deputados, presidentes de associações comunitárias, milicianos e outros, a quem os habitantes recorreriam para conseguir “prioridade” para suas escolas, agravando a dependência da população daquelas pessoas, e ampliando oportunidades de superfaturamento na compra dos detectores. E, repito, sem efeito na aprendizagem! Além disso, inclusive pelo aspecto agressivo da presença de tal máquina, tornaria as escolas ainda menos adequadas à aprendizagem.
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Embora o Brasil fique mal na foto, a questão da violência escolar não é só brasileira. É complexa, a começar pelos vários tipos de violência – verbal, física, sexual, de alunos contra professores e vice-versa, automutilação, suicídio – e em razão de suas complexas causas, entre as quais os especialistas incluem, sem esgotá-las, brigas em família, exemplos de violência na comunidade, na TV e nos filmes, a negligência dos responsáveis, ambiente autoritário e agressivo na escola e fora dela, falta de diálogo e abuso de poder. Incluem, ainda, metodologia de ensino tradicional, que não valoriza a participação do aluno
Destaque-se ainda que especialistas apontam que os adolescentes “reproduzem, não criam a violência” e que aqueles que são vítimas têm grande chances de se tornarem agressores no futuro. Escolas criando serpentes!
Melhorar é possível! No Rio Grande do Sul, entre 2015 e 2019, os casos de violência envolvendo alunos nas escolas estaduais foram reduzidos em 65%, graças aos efeitos de muito trabalho e com base na Lei Estadual no 14.030/2012. As escolas voluntariamente criaram uma Comissão Interna de Prevenção a Acidentes e Violência Escolar (Cipave), envolvendo pais, alunos e funcionários das escolas, professores ou não, que se reúnem para dialogar sobre causas, consequências e prevenção, com apoio da Secretaria de Educação, que disponibiliza, na internet, materiais para os envolvidos.
A Secretaria da Educação planejou, a partir de 2015, instalar Cipaves em 100 escolas mas, em dois anos, 2.500 escolas já participavam!
As informações acima estão disponíveis na página do MEC, talvez sem o conhecimento do ministro, do seu chefe e de seus pastores. Mas, vale copiar pequeno trecho que ajuda a esclarecer caminhos para enfrentar tão grave questão:
Na página do programa da internet, as escolas registram as violências que interferem no andamento das atividades educacionais. Um verdadeiro mapa com todos os detalhes da violência. […] A partir desse levantamento, que é atualizado diariamente, a Secretaria Estadual de Educação convida parceiros para desenvolver projetos nas escolas a fim de reduzir os índices de ocorrência.
Claro está que o exemplo do RGS é válido e merece ser mais bem conhecido, divulgado e adaptado para cada estado. Ajuda, ainda, a acreditar que com criatividade e trabalho o Brasil pode, sim, dar certo!
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