Ontem (3) no Palácio do Planalto, a presidenta Dilma e seus principais auxiliares avaliavam a diferença de comportamento entre o ministro da Agricultura, Wagner Rossi, e o ex-ministro dos Transportes Alfredo Nascimento na reação a denúncias de corrupção envolvendo as suas pastas. Ontem (3), Wagner Rossi foi à Câmara, respondeu às indagações dos deputados na Comissão de Agricultura, deixou uma boa impressão sobre si e deixou mal seu acusador, Oscar Jucá Neto, o irmão do eterno líder do governo no Senado, Romero Jucá (PMDB-RR).
Segundo a versão de Wagner Rossi, ele demitiu da Diretoria Financeira da Companhia Nacional de Abastecimento (Conab) o irmão do eterno líder do governo no Senado porque pegou-o “numa situação irregular gravíssima” (uso os termos do ministro, não precisa de outros adjetivos mais fortes). Ele, então, segundo Rossi, foi à revista Veja e soltou o verbo, dizendo que a Conab era um antro de corrupção. “Destempero de um ressentido”, resumiu Rossi. O ministro, então, negou todas as acusações do irmão do eterno líder do governo no Senado. Se o irmão do eterno líder do governo no Senado não tiver como provar o que disse à Veja, morre o assunto por aí. Jucazinho, como é conhecido, foi admoestado pelo eterno líder do governo. Ou seja, Jucá está longe de querer comandar uma dissidência na defesa do seu irmão.
Assim, a impressão que ficou no caso de Wagner Rossi no Palácio do Planalto foi de que a ação inicial contra a corrupção foi dele, as irregularidades foram prontamente sanadas, e a denúncia resultou vazia. A avaliação de sucesso de Rossi foi tal que, à tarde, o governo combinou para que o próprio PMDB o convocasse para depoimento no Senado, antecipando-se à oposição.
Bem diferente, avaliam, do caso de Alfredo Nascimento. Primeiro: quem verificou a existência de irregularidades no ministério foi o próprio governo, não foi uma denúncia publicada pela imprensa. Foi a ministra do Planejamento, Mírian Belchior, quem disse a Dilma que as obras do ministério tinham aditivos inexplicáveis e sobrepreços menos explicáveis ainda. Enfim, que era, no mínimo, uma zona. Foi aí que Dilma resolveu convocar a cúpula do ministério para uma reunião. E Alfredo Nascimento não participou dessa reunião não porque não tenha sido chamado para ela, como disse no seu discurso no Senado na terça-feira (2), mas porque preferiu ir à festa do Boi de Parintins.
Rechaça também o Palácio do Planalto a história de que Dilma deixou Nascimento na chuva, como ele também falou em seu discurso. Houve a tal reunião sem ele, Dilma pagou um pito geral, como se soube. A história saiu na Veja e, no primeiro momento, a presidenta delegou ao próprio Alfredo Nascimento a tarefa de limpar seu ministério. Foi ele quem, sem dar resposta positiva nenhuma, acabou pedindo demissão dias depois. Reproduzo aqui uma versão do Palácio do Planalto, é bom repetir e deixar claro.
É muito provável que tenham sido dados a Nascimento todos os sinais de que era melhor que ele fizesse isso. Mas também é muito provável que esses sinais foram dados porque Nascimento mostrava-se completamente envolvido com as denúncias que eram feitas sobre o ministério. Ou, na melhor das hipóteses, mostrava-se incapaz, por seus envolvimentos políticos, de dar uma resposta satisfatória para apurar, corrigir e punir as irregularidades.
Dizem as fontes no Palácio do Planalto que, a partir das reações diferentes de Wagner Rossi e de Alfredo Nascimento diante das denúncias de corrupção envolvendo seus ministérios, estabelece-se um “padrão Dilma de comportamento”. Acabou aquela história, dizem eles, de se fingir de morto diante das denúncias. Acabou aquela história de fazer discurso de vítima da imprensa golpista como pretexto para não apurar nada. Não é que se vá dar crédito imediatamente a qualquer denúncia. Mas é preciso que haja uma resposta imediata para tudo o que for denunciado. A reação do ministro, as explicações que forem dadas é que vão determinar o que acontecerá com ele depois. Quem se sair bem, quem agir com rapidez e corretamente, ganha o aval para continuar. Quem patinar, escorregar e não conseguir dar resposta satisfatória, dança.
PublicidadeO governo, é claro, está atento a possíveis retaliações dos aliados. Elas poderão acontecer em votações de interesse do Planalto. Poderão vir sustos. Mas a estratégia é monitorar de perto esses riscos para tentar contê-los. Dilma aposta no apoio da opinião pública: quem vai se expor passando claramente a impressão de que reage a esforços de moralização do governo? Dilma paga para ver.
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