Votar, em si, já não é lá muito animador pra muita gente. A primeira sensação que vem é a de desgosto com a política, com a politicagem, depois a decepção com os políticos. Sem falar no cheiro de naftalina. Além disso tudo, discussões cansativas, tempo de deslocamento, fila e ainda perder o encontro com os amigos. E todo esse “custo” por causa de um único voto – que, no entender individual, não vai ser relevante (entre os outros 147 milhões) a ponto de afetar o resultado geral das eleições.
Será que é bem assim?
Vejamos a racionalidade por trás do voto: a motivação individual para votar é justamente o benefício que se espera do voto. O efeito que o eleitor acredita que seu voto terá para melhorar a política. Essa motivação contudo é ponderada pela probabilidade de um único voto alterar o resultado. Desconte ainda os “custos” para votar (de tempo, de oportunidade…). O resultado é pequeno, certo?
Por isso o voto individual parece insignificante. O retorno esperado para o eleitor, praticamente zero. E o custo, alto.
Mas o eleitor não quer jogar fora seu voto. É a sua vez de participar. E ele quer que isso faça alguma diferença. E votar em algum candidato que não seja um dos que estão, de fato, no páreo soa como jogar o voto fora. Eles sentem que seu voto fará mais sentido, será mais útil, se votarem em um dos candidatos favoritos em vez de votar no de sua preferência, para evitar o resultado que considera ruim.
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Daí surge o que chamamos em Escolha Pública de voto estratégico, voto útil, como tendência de comportamento do eleitor médio. À medida que as pesquisas vão apontando favoritos, os votos dos outros candidatos vão migrando para os favoritos que os eleitores entendem ser a opção menos ruim. À medida que os favoritismos vão se consolidando, os votos dos não preferidos vão sendo estrategicamente reposicionados.
O impacto do voto útil nas eleições presidenciais de 2018 no Brasil chega a 30%. Segundo pesquisa Ibope, encomendada pela Confederação Nacional da Indústria (CNI), três em cada dez eleitores mudarão seus votos para evitar que um outro candidato ganhe.
Os dados apontam que os eleitores de Geraldo Alckmin e Ciro Gomes têm maior tendência de mudarem para um voto estratégico, com 36% e 35% de chance, respectivamente.
Os eleitores de Jair Bolsonaro e de Fernando Haddad são, nessa ordem, mais fiéis.
O problema do voto é que, se for considerado isoladamente, reduziria a campanha a uma corrida para angariar mais votos rapidamente, logo no início. E esvaziaria o debate de ideias e projetos ao longo da campanha.
O voto não deveria ser uma atração gravitacional para a maior massa. O eleitor deveria ser chamado à consciência de que manter manter seu voto autêntico traz um melhor equilíbrio ao jogo e aumenta o foco nas propostas. Essa seria a escolha racional.
Mas essa não é uma escolha racional. Nunca foi.
E você, leitor, manterá seu voto autêntico?
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