Cláudio Versiani, de Nova York*
O presidente do Senado, Renan Calheiros, é um morto vivo, um zumbi, um moribundo. Calheiros é um cabra marcado para ser caçado e talvez cassado. Mas como a política brasileira é surpreendente, pode ser que a sobrevida de Renan se estenda para depois de dezembro. Não custa acreditar em milagres. E milagres no Brasil custam barato.
A Câmara dos Deputados, o Senado Federal, enfim, o Congresso Nacional, saem todos chamuscados pelo lamentável e infame espetáculo circense da quarta-feira 12 de setembro. E nem pense que as cenas ridículas, protagonizadas pelos representantes do povo foram de graça. Só não pagamos na hora. Já pagamos há muito tempo. Ainda vamos continuar pagando.
Gostaria de escrever algumas bad words, como se diz por aqui. Palavras impublicáveis, como se costuma dizer no Brasil. “Cambuta de fedanbada”. Quando a gente pensa que agora vai, não vai. Mandaram o Roriz para casa, muito bem. O Senado é a reserva moral do país e blá, blá, blá.
Que nada. O tal de Gim Argelo, um aspirante a Roriz, não assumiu? Pois é, senador Gim Argelo, tratado de Vossa Excelência. E não é só ele, não. Tem vários outros senadores cuja única excelência é saber enganar o povo. Deputados, nem conto, não vale a pena. Patifes, falastrões, mariolas, biltres, marotos, tratantes, malfeitores, sem-vergonhas. São trezentos (põe trezentos nisso) picaretas com anel de doutor, como um dia sintetizou Lula.
Mas que dói, isso dói, e muito. Tudo é muito triste e muito corrompido. O que leva um senador da República a votar pela absolvição de Renan Calheiros? Eu tenho a resposta: interesses escusos. Ou como disse o povo na rua, safadeza mesmo. Vamos admitir que o presidente do Senado fosse inocente – há controvérsias. E há indícios do contrário. Só o comportamento dele no último mês bastaria para cassá-lo. Calheiros se comportou de forma mais do que indecorosa. Mas o Senado ou os senadores não tiveram vergonha na cara.
PublicidadeVer o PT trabalhando a favor de Renan Calheiros é surreal, se surreal não fosse a política brasileira. Depois reclamamos quando aparecem os desmiolados de plantão sugerindo o fechamento do Parlamento. Mandato de político deveria ter recall. Veio com defeito? Devolva e ainda peça indenização por danos. Alguém consegue explicar a abstenção do senador Aloizio Mercadante? Nem ele próprio. É batom (poderia ser dólar) na cueca. Simplesmente inexplicável. E não me venha com a história de que os 35 votos salvaram a reputação do Senado. É muita lama, ou como disse o senador Demóstenes Torres:
"A imagem do Senado ficou pior do que pau de galinheiro”. Teve gente que, em nome das galinhas, reclamou da comparação.
Já o senador Wellington Salgado, do mesmo partido de Renan, comemorava pelo telefone com o líder de sua bancada da seguinte forma, como revelou com exclusividade o Congresso em Foco: “O negócio é ganhar, mesmo que seja com gol de mão aos 45 do segundo tempo”. É duro ver um senador da República falar uma bobagem dessa. É a lei do Gérson que insiste em não ser revogada.
O PT ajudou, e muito, o restabelecimento da democracia brasileira. Sob o comando de Lula, o partido lutou durante anos por um país um pouco mais justo, essa era a promessa. Em 2002, Lula presidente, o Partido dos Trabalhadores fez pior do que os piores. O brilhante articulista José Dirceu fez uma lambança sem tamanho, deu no que deu. Pelo menos por enquanto, Dirceu está afastado da política institucional, mas não da vida política. Mensaleiro pra cá, dinheiro pra lá e estamos conversados.
De novo com Lula à frente, o governo e o PT se aliaram ao que havia de pior no Congresso. Talvez tenha sido questão de preço, qualidade mais baixa, preço mais em conta. Lula fundou o PT no início dos anos 1980 e o enterrou lá mesmo da Suécia, com a ajuda do presidente do Senado, em setembro de 2007.
O governo adora apresentar números, é uma lenga-lenga danada. Que o Brasil nunca esteve tão bem – e tome mais blá, blá, blá –, que no tempo de FHC era um nhém-nhém-nhém. Números não enchem a barriga de ninguém, não param a violência e muitos menos acabam com a corrupção.
O que muda um país é investimento em educação em todos os níveis, todo mundo sabe. O brasileiro segue trocando o seu voto por um pé de botina, por metade de uma dentadura ou meia nota de R$ 50.
O povo segue sobrevivendo. Lula continua viajando. O Brasil vai capengando e Renan Calheiros presidindo o Senado e negociando favores com seus pares. Que isso dói, dói demais.
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