Tudo indica que teremos mais três anos e meio pela frente marcados por relações tensas entre o Palácio do Planalto e o Congresso Nacional.
É a primeira vez que o governo não tem base sólida nas duas casas legislativas. É evidente que o chamado presidencialismo de coalizão deu mostras de esgotamento. Mas a postura do presidente demonstra a intenção de polarizar sempre, ao invés de apostar no diálogo e na negociação, criando impasses permanentes.
O impasse da semana foi em torno dos decretos presidenciais que flexibilizaram o porte e a posse de armas. Nove entre dez juristas consideraram os decretos inconstitucionais.
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Confesso que não sou especialista em questões de segurança pública. Nesse caso, vivi na pele a máxima dos Paralamas do Sucesso: “Entrei de gaiato num navio”. Em 2017, foi instalada a Comissão de revisão do Estatuto do Desarmamento. Atendendo a apelos de ONGs como o “Sou da PAZ”, o Instituto Igarapé e do ex-presidente FHC, mesmo não sendo especialista, concordei em ser membro. Jamais tinha presenciado uma discussão tão polarizada e sectária. Estudei profundamente o assunto e acompanhei todas as audiências públicas.
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Junto com os deputados Raul Jungmann e Subtenente Gonzaga apresentei um substitutivo que flexibilizava a legislação com ponderação e responsabilidade. O substitutivo foi derrotado na comissão especial, mas contava com a simpatia das Polícias Militares, das Forças Armadas e da Polícia Federal. A matéria, por diversos motivos, não foi a Plenário.
PublicidadeAgora Bolsonaro recuou, revogando os decretos. E mandou um projeto de lei que será apreciado pelo Congresso Nacional nos próximos meses.
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Longe do radicalismo exacerbado do Brasil dos nossos dias, é preciso qualificar a discussão. Não é uma questão de ser contra ou a favor do governo. Não é um tema que deva ser tratado na base do “armar os bandidos e desarmar os cidadãos de bem”. Muito menos a busca da lógica do “bandido bom é bandido morto” e da reinvenção de um faroeste pós-moderno. Todos queremos derrotar a violência e o crime organizado. A discussão é qual é o melhor caminho para uma política pública de segurança eficiente.
As polícias militares sempre recomendaram não reagir em casos de assalto ou assemelhados. O bandido tem todas as vantagens. Tem pouco a perder, tem ao seu lado o elemento surpresa e, muitas vezes, está drogado ou alcoolizado. De tudo que estudei e aprendi nas discussões é que ao armarmos a população indiscriminadamente o que crescerá são os crimes por motivos banais: passionais, de trânsito, de vizinhança, briga de jovens, etc.
Achar que armar o “cidadão de bem” tem poder dissuasório sobre os bandidos é grave equívoco. Prova disso são os assaltos a carros fortes. O bandido não desiste do crime, simplesmente se arma mais. E essa escalada irá criar uma espiral de crescimento da violência. Imaginem vocês o recente impasse com os caminhoneiros se estivessem todos armados. O decreto permitia isso.
O que precisamos é fortalecer o Sistema Único de Segurança Pública (Susp), aprimorar a legislação penal, ter ações preventivas através de políticas sociais ativas e fortalecer o poder repressivo e as ações de inteligência de nosso aparato policial.
Tenho fé que o governo federal e o Congresso Nacional saberão achar os caminhos, longe dos preconceitos e radicalismos.
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Concordo que é um tema difícil, armar o cidadão dentro das regras ou deixa-lo a sanha do criminoso, que fazer ? Tenho minha decisão pessoal, tenho armas dentro de minha residencia, todas legalizadas, mas não tenho porte e não ando armado, tenho consciência que se invadirem minha casa, podendo reagir, podem ter certeza que reagirei.