A pouco mais de dois meses do primeiro turno das eleições, o setor ambiental ainda não se organizou para apresentar aos candidatos à Presidência da República uma proposta concreta do que esperam do próximo presidente. Organizações ambientalistas têm feito propostas aleatórias e fragmentadas a presidenciáveis e candidatos a governos locais, mas ainda falta um documento conciso e organizado com as prioridades do setor.
O setor ambiental não é mais uma ala desintegrada da economia. Ainda que existam resistências ao tema, a grande maioria da população já percebeu que as ações ambientais interferem nos planos dos demais setores da economia, seja por meio do impedimento de realização de obras de infra-estrutura, seja por meio da manutenção da qualidade de vida da população.
Ambientalistas, no entanto, caminham a passos de tartaruga neste processo eleitoral, especialmente se comparados com outros setores da sociedade, como a indústria e a agropecuária. Entidades como a Confederação Nacional da Indústria (CNI), assim como a Confederação Nacional da Agricultura e Pecuária (CNA) já elaboraram e encaminharam suas plataformas de sugestões para os candidatos à Presidência.
O documento com prioridades do setor ajuda a indicar a direção dos discursos e das promessas políticas. A estratégia de estabelecer um plano de propostas setorial é fundamental para, após as eleições, cobrar do vencedor do pleito as promessas feitas no palanque. Os candidatos, interessados em angariar votos, não hesitam em se comprometem com as demandas de cada setor.
Uma agenda de propostas do setor, portanto, não é apenas pro forma. Ter um documento que aponta as demandas do setor é um álibi sem igual para colocar na parede governantes eleitos. No caso do setor ambiental então, essa agenda vai além das eleições. Apresentar uma proposta formal com as prioridades para uma gestão pública balizada na preservação dos recursos naturais é ter em mãos uma carta de compromisso com as próximas gerações.
É fato que, tendo em vista a falta de organização do setor ambiental, corre-se o grave risco de passarmos por mais um processo eleitoral deixando esse tema como algo marginal ao debate político. Mas, ainda que o tempo seja escasso, ambientalistas têm plena capacidade de elaborar um documento que aponte qual o projeto de país para uma sociedade ambientalmente equilibrada.
Nos últimos anos, o tema ambiental conquistou importância e espaço suficientes para pautarem a política. A fim de não perder o bonde da história nem deixar para depois o que deve ser feito agora, entidades como o ISA, Imazon, Greenpeace, SOS Mata Atlântica, WWF e demais entidades ambientais engajadas na seara política devem construir uma agenda de propostas a ser entregue, ao menos, aos presidenciáveis.
Apresentar apenas propostas isoladas e fragmentadas faz com que a prioridade ambiental na política continue como “coisa de principiante”. Entidades e profissionais do setor ambiental precisam se organizar melhor e perceber que a política e a sociedade brasileira demandam uma nova estrutura do setor. Não cabe mais o papel do ambientalista apenas como aquele que protesta diante de uma árvore para impedir que ela seja derrubada.
Os ambientalistas precisam se envolver de maneira mais organizada na política. Além de pautarem concretamente candidatos aos governos, devem começar a se estruturar para ocuparem cadeiras no Congresso e no Judiciário e cargos no Executivo, além do Ministério do Meio Ambiente. É preciso entender que, por mais árido que seja o terreno da política, ainda é preciso arar esse solo. Para isso, é fundamental a presença de profissionais verdes.
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