Nos programas eleitorais do segundo turno tanto Bolsonaro quanto Haddad usaram Lula. Qual dos dois errou? Os dois acertaram?
A cartola, a varinha, o show de luzes, meninas lindas e o permanente jogo de mãos e palavras têm apenas uma única intenção: atrair seu olhar para o secundário enquanto tudo acontece sem você perceber (“décimo terceiro para o Bolsa Família”). Quanto mais você olha para as distrações, menos vê.
Quem define a agenda da campanha ganha a eleição. Quem pauta, ataca. Quem responde fica na defensiva, se explicando reiteradamente.
Como acusar de ser o grande promotor da violência um homem que foi vítima de uma facada que quase lhe tirou a vida? Ele reagiu dispensando o voto de correligionários agressores e chorando abraçado à sua filha. Preparou bem sua vacina.
As agressões verbais e os palavrões de sua carreira política o aproximam do mundo real. O povo numa situação de estresse se mantém sereno e educado? Quando a leitura é que o sistema, calmo e “plastificado”, nos levou ao precipício, chutar o balde pode fazer sentido.
Uma carta da dupla Haddad-Manu à família brasileira serviria de vacina definitiva contra os ataques no campo comportamental. É perda de tempo ficar respondendo a cada nova mentira. Não fizemos uma carta aos banqueiros em 2002?
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Nada assusta mais a classe média do que a economia. Ditadura, tapas nas ruas ou o confisco de seus investimentos no banco? O que temem mais? O Capitão vai repetir Collor e confiscar a poupança? Quais suas propostas para a economia?
O aumento da violência é outro tema central – e espinhoso para esquerda – que precisa ser enfrentado. Não é sensato deixar na mão do opositor o monopólio do discurso da firmeza e da autoridade.
O povo sabe que ele votou contra o direito dos trabalhadores? Conhece “BolsoTemer”? O que aconteceu na última vez que um salvador da pátria foi eleito? Quais as consequências na vida das pessoas da aventura do “Caçador de Marajás”?
Com seus erros e acertos, todos sabem como o PT funciona. Reconhecer erros é fundamental para criar conforto para a entrada dos críticos. Querer puxar todos pelas orelhas sem nenhuma autocrítica, apenas pelo argumento da ameaça fascista, é no mínimo pouco inteligente. Onde está a sonhada Frente Democrática do segundo turno? Naufragou na largada? Por quê?
É preciso desconstruir a farsesca novidade “anti-sistema” que ronda o “mito”. Nada assusta mais quem está no limite do que uma turbulência permanente. O povo tem medo de mar revolto. Sabe que sempre é o primeiro a ser jogado para fora do barco.
Duas ou três propostas concretas, com data de realização, números, coisas tangíveis. Abusar do verde e amarelo que tanto irritou os adversários. Dar “férias” a Lula do programa eleitoral.
Assumir compromissos claros de natureza comportamental e firmeza no enfrentamento da violência.
Empurrar de volta o medo para o colo do capitão invertendo a pauta. Confisco de poupança, brigas permanentes com o Congresso, paralisia do país e a vida das pessoas piorando. A economia, a instabilidade e a insegurança são o flanco do tresloucado.
A chance de Haddad está ligada à sua capacidade de pautar a eleição. Empurrar o inimigo para as cordas.
Esqueçam os movimentos do mágico. É ele que precisa olhar para nós.
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O colunista segue com a ilusão de que a esquerda pode vencer com base em mentiras e manipulações, a exemplo do estelionato eleitoral dilmista em 2014. Não entendeu nada do fenômeno Bolsonaro.
Acha mesmo que uma cartinha da Manu abortista e do marmita de presidiário defendendo a família convenceria alguém? Apenas ampliaria a rejeição da chapa montada no presídio, como já vem ocorrendo no segundo turno. Soaria tão falso quanto foi o poste na missa e a mudança do logo petralha para verde e amarelo. A ideia de que Haddad é um fantoche, produto de marketing, apenas se amplia com esse tipo de coisa e o eleitorado ficou vacinado com essas manobras após Dilma.
Em 2002 as pessoas caíram no engodo da Carta aos Brasileiros e uma década depois experimentariam o petrolão e a maior crise econômica da história. Hoje, dois em cada três brasileiros rejeitam o PT. É mais uma eleição entre petismo e antipetismo, mas pela primeira vez em dezesseis anos o segundo grupo se tornou confortavelmente majoritário.
É bom JAIR se acostumando a ser oposição, Capelli.
PS: respondendo ao escriba, a última vez em que um salvador da pátria foi eleito, parou em uma cela de Curitiba.
PS2: as pessoas estão vacinadas contra o terrorismo eleitoral petista. O que temos medo hoje é de continuar o país como está. Afinal, por que ter medo de mudar quando a realidade é a de crise econômica, petrolão, um dos piores sistemas educacionais do mundo e 60.000 mortos por ano, dentre outros legados da esquerda? Haddad representa o status quo decrépito e esta é uma eleição anti-establishment. Não há a menor possibilidade de comprarem a legenda do petrolão como antissistema.