Marcos Magalhães*
Os 21 anos dos Centros Integrados de Educação Pública (Cieps), no Rio de Janeiro, foram duramente retratados em uma série de reportagens de O Globo. O jornal criticou o alto custo da manutenção de cada aluno e mostrou diversas construções abandonadas ou utilizadas com outros objetivos. Ao mesmo tempo, o portal do Globo na internet perguntou a opinião dos leitores sobre a questão. Mais da metade achou que vale a pena investir na educação em tempo integral, mesmo que pagando mais. E 81% disseram que os Cieps abandonados ou mal utilizados deveriam ser reformados e reabertos como escolas.
Um percentual tão elevado como este certamente não será composto de saudosos brizolistas. Já se vai longe o tempo em que o antigo governador mobilizava multidões no Rio. O tempo, nesse caso, pode ser um aliado do projeto original dos Cieps. Sem paixão política, talvez se consiga refletir melhor, no Brasil de hoje, sobre a necessidade ou não de se manterem crianças o dia inteiro na escola, com atividades complementares como o ensino de artes e atividades esportivas.
Os resultados obtidos nessas duas décadas pelos Cieps estão mesmo, como diz O Globo, aquém do que esperavam figuras como o próprio Brizola e o ex-senador Darcy Ribeiro, principal idealizador do projeto. Muitas escolas municipalizadas deixaram de lado o tempo integral e transformaram os Cieps em escolas comuns, com um toque de Oscar Niemeyer. E muitos antigos alunos de fato tiveram um destino pessoal menos promissor do que se poderia prever, há vinte anos.
Diante desse quadro, abrem-se duas alternativas. Dizer que o projeto simplesmente fracassou, como fez o jornal. Ou procurar recuperar a idéia original, apesar das dificuldades – o que parece ter sido a opção dos internautas. Porque, afinal de contas, os Cieps não tiveram a chance de mostrar resultados. Seja porque os governadores que se seguiram a Brizola rejeitaram o projeto, seja porque os prefeitos que receberam as escolas municipalizadas muitas vezes não levaram a idéia adiante.
Essa questão faz lembrar todo o debate nacional a respeito da necessidade de se buscar um amplo acordo suprapartidário, baseado na experiência da Concertación chilena. Os principais partidos políticos brasileiros poderiam, de acordo com a proposta, chegar a um consenso mínimo a respeito de temas como a própria educação, o equilíbrio fiscal e a retomada do crescimento econômico.
Um mínimo de acordo político entre os diversos partidos, no caso do Rio de Janeiro, poderia ter garantido um destino melhor ao projeto de educação integral para as crianças. A essa altura, os resultados já poderiam ter aparecido, permitindo um julgamento mais justo e desapaixonado da experiência. Ainda hoje, o bom senso indica – como mostram os resultados das pesquisas feitas com os internautas – que não se deve jogar pela janela o investimento já realizado.
PublicidadeA alternância no poder, como se vê depois de quase quatro anos de governo do PT, pode conviver com a adoção, pelos vitoriosos, de algumas idéias dos derrotados. Os principais casos de sucesso do governo Lula foram aperfeiçoamentos de projetos iniciados ainda na gestão Fernando Henrique Cardoso. Os críticos dos Cieps poderão sempre dizer que a proposta simplesmente não funciona. De uma forma ou de outra, porém, um número cada vez maior de países vem apostando na educação em tempo integral. Como o Chile, da tal Concertación.
Deixe um comentário