Renato Casagrande*
A revolução industrial iniciada na Inglaterra em meados do século XVIII, que se expandiu pelo mundo a partir do século seguinte, causou um profundo impacto no sistema produtivo. De maneira gradual, as máquinas foram substituindo o trabalho braçal e surgiu assim uma nova relação entre o capital e o trabalho. No lugar da força humana, veio a energia motriz e, consequentemente, o modo fabril foi implantado onde antes predominava a produção doméstica.
Em todas as partes do planeta, esse processo causou – e continua causando – fortes reflexos no meio ambiente e na sociedade. A derrubada das árvores para dar lugar a indústrias e o uso em escala crescente de energia elétrica e de combustíveis fósseis são fatores cada vez mais presentes nos tempos modernos.
Além de impactar negativamente o meio ambiente, a revolução tecnológica trouxe uma enorme oferta de consumo. Basta ir a um supermercado para constatar essa realidade. Há mercadorias para todos os gostos e todos os orçamentos. O apelo publicitário sobre determinadas marcas é tão intenso que provoca um verdadeiro frenesi pelo consumo, muitas vezes até quando o produto poderia ser facilmente dispensado. Todos os dias são colocados à venda inúmeros produtos sem o devido respeito a normas de sustentabilidade, enquanto timidamente aparecem outros que merecem nosso incentivo, como é o caso dos produtos orgânicos.
Está passando da hora de fazermos um contraponto a tudo isso, adotando no dia a dia práticas voltadas ao consumo consciente, que consiste em adquirir produtos corretos ecologicamente e socialmente. Antes de mais nada, o consumo consciente é uma prática de cidadania pautada no bem coletivo e não somente na satisfação das necessidades pessoais. Para tanto, o indivíduo deve procurar informações sobre os bens ou serviços que pretende adquirir. Cabe aos consumidores escolher como fornecedoras as empresas que respeitam a natureza e o ser humano.
O Instituto Akatu, que dedica suas atividades ao incentivo do consumo consciente, publicou uma cartilha contendo dicas que ajudam a nortear as decisões de quem compra. Ela ensina como planejar compras, avaliar os impactos do consumo no meio ambiente e na sociedade; reutilizar produtos; não comprar outra vez o que pode ser consertado e transformado; separar o lixo e reciclá-lo; valorizar práticas de responsabilidade social das empresas; e não comprar produtos piratas.
Ações como essas não beneficiam apenas o meio ambiente, elas repercutem no contexto social, geram empregos. Exemplo disso é a reciclagem de garrafas pet. O reaproveitamento de materiais descartados reduz a quantidade de lixo e gera renda para as famílias carentes.
É evidente que os governos e as empresas também têm que fazer sua parte, pois esse esforço não depende apenas do cidadão. Já existem, da parte do governo federal e do Poder Legislativo, algumas iniciativas que visam controlar a emissão de poluentes, a devastação de nossas florestas e o controle de todo lixo produzido nas diversas localidades do país. Uma dessas iniciativas é a política nacional de resíduos sólidos, em tramitação no Senado. O projeto regula o controle de materiais considerados inúteis, supérfluos ou perigosos.
A implantação dessa política será um passo importante para incentivar o descarte correto dos resíduos sólidos, pois hoje 80% das cidades brasileiras jogam o lixo diretamente na natureza. Cada indivíduo deve estar consciente de seu papel toda vez que pensar em adquirir um bem ou serviço, ou quando precisar tomar decisões corriqueiras, como se desfazer de embalagens, de garrafas plásticas, de baterias de aparelho celular etc. O futuro está em nossas mãos, cabe a cada cidadão adotar práticas focadas nas responsabilidades social e ambiental, e cobrar das autoridades e das empresas esse mesmo compromisso com o nosso planeta.
* Senador pelo PSB-ES, presidente da Comissão de Meio Ambiente, Defesa do Consumidor e Fiscalização e Controle.
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