Advogado e escritor, autor de livros jurídicos, romances e crônicas, Cezar Britto inicia aqui no Congresso em Foco, nesta terça-feira (2), a coluna semanal Parábolas de Emanuel, Jaci e Oxalá. Neste espaço, o ex-presidente da Ordem dos Advogados do Brasil e da União dos Advogados da Língua Portuguesa transforma em histórias, fatos da política e da sociedade brasileira.
> Leia aqui a coluna Parábolas de Emanuel, Jaci e Oxalá
Parábolas de Emanuel, Jaci e Oxalá tem como pano de fundo a união entre as religiões, tema da Campanha da Fraternidade Ecumênica de 2021, que vem recebendo críticas de conservadores. “Sem pretensão de spoiler, uma premissa bem simples estará na base de cada diálogo-crônica: a espiritualidade que faz do amor ao próximo a base de todas as religiões, tem como significado o direito da pessoa humana viver o prometido paraíso espiritual enquanto morador do planeta Terra”, defende.
“Tem uma que está muito legal que vou usar quando o Supremo for pautar o uso da maconha. Faço uma pesquisa histórica de quantas vezes as ervas medicinais são citadas na Bíblia. O primeiro presente que Jesus recebe é mirra, que é medicinal. O primeiro texto de um historiador que chega ao Brasil entre 1510 e 1520 começa a narrar o poder medicinal da ‘nóia’ da macaxeira, do aipim”, diverte-se.
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Leia a apresentação de Parábolas de Emanuel, Jaci e Oxalá, por Cezar Britto:
Gravei em minha memória um episódio que já retratei em crônica. Eu concedia uma entrevista sobre uma atividade de inclusão social que estava a inaugurar, quando, ao término, uma jornalista avisando que estava off, perguntou: Cezar, qual a sua religião?
PublicidadePercebendo a minha reação – como experiente profissional – esclareceu que era apenas para satisfazer a sua curiosidade, pois nada sairia no jornal. Tal como foi a pergunta, este novo esclarecimento também me deixou confuso. Afinal, não tenho motivo para esconder a minha espiritualidade ou como compreendo a religião.
Ninguém deveria ter, pois o sentimento de religiosidade não pode ser prejudicial à saúde, ainda mais quando todas as religiões – com pequenas variações conceituais – pregam o amor ao próximo como base doutrinária ou dogmática.
Mas compreendi o gesto amigo da jornalista e assim registrei na época. Ela não queria me colocar em situação constrangedora perante as pessoas. Como jornalista, já devia ter presenciado várias cenas de intolerância religiosa. Certamente ela sabia que esta simples questão poderia ser transformada em um grande furacão de controvérsia. É que sempre há fundamentalistas de plantão para espalhar ódios em nome de determinada religião. Eu poderia ser – segundo ela – uma futura vítima.
A História nos mostra o que significa quando a intolerância religiosa e o ódio se tornam vozes coletivas, estruturadas em governos e ecoadas em templos construídos com os tijolos da insensibilidade humana. Crucificações, decapitações, sacrifícios, fogueiras e torturas estiveram presentes nos rituais de convencimento mais “venerados”. Inquisições, cruzadas, guerras santas e excomunhões sempre integraram as “pregações” religiosas. Holocausto, genocídios, suicídios coletivos, martírios e atentados nunca foram descartados como “mensagens sacras”.
Amon, o poderoso deus egípcio descansa nas mesmas ruínas do Templo de Diana, certamente em companhia de Odin ou Wotan, conspirando uma nova teologia de ressurreição. Os deuses romanos – depois de dominarem o mundo – hoje são meras referências mitológicas. A mesquita de Córdoba, que simbolizava o grande Califado Omíada na península Ibérica, apenas é um lugar de visita turística. Teve ainda melhor sorte que o famoso Templo de Salomão ou as grandes estátuas de Buda no Afeganistão, arrasadas pelo mesmo fanatismo que derrubou as Torres do World Trade Center, o suntuoso templo do capital financeiro mundial.
No Oriente Médio – o grande berço das maiores religiões ocidentais, nascidas do mesmo tronco paterno ( judaísmo, cristianismo e islamismo) – a paz familiar ainda não foi concebida. O Estado Chinês – mesmo sendo assumidamente ateu – não deixou de tirar uma “casquinha” da religião alheia, pois até hoje o Dalai Lama – um confesso amante da paz – está proibido de voltar para sua casa no Tibete. E assim foi e ainda segue sendo em vários cantos do planeta.
Décadas depois da pergunta da jornalista sergipana, pretendo publicar a resposta à instigante periodista em doses semanais, formatadas em crônicas que denominei “Parábolas de Emanuel, Jaci e Oxalá”. Através do diálogo ecumênico entre o cristianismo de Emanuel, a espiritualidade dos povos indígenas de Jaci e a religiosidade de matriz africana de Oxalá – apresentadas como corporificadas na alma brasileira – falarei da importância do amor como antídoto ao ódio institucional, da esperança em habitar em uma casa comum a todas as pessoas e dos exemplos que confortam a alma. Também nos diálogos ecumênicos registrarei as coisas mundanas, o uso abusivo da fé e a apropriação da espiritualidade como instrumento de exploração política e econômica.
Sem pretensão de spoiler, uma premissa bem simples estará na base de cada diálogo-crônica: a espiritualidade que faz do amor ao próximo a base de todas as religiões, tem como significado o direito da pessoa humana viver o prometido paraíso espiritual enquanto morador do planeta Terra.
Este é o diálogo semanal que apresentarei nas “Parábolas de Emanuel, Jaci e Oxalá. Coluna que muito generosamente o Congresso Em Foco me ofertou e que, não pretende ser um monólogo, até porque não sou adepto das verdades absolutas. Assim, deixo aqui e nas redes sociais que participo um espaço aberto para sugestões, críticas e apresentações de temas.
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