No “Dia das Crianças” tive que revirar as minhas anotações sobre o mundo animal. Com o sol a pino, as crianças da casa resolveram ocupar o meu canto de leitura e fazer mil perguntas sobre as aves habitantes deste nosso estranho mundo.
Sei lá o porquê, mas todos sabiam a minha predileção por uma das aves mais lindas que existem: o tucano. Deve ser por terem visto nas minhas prateleiras alguns dessa espécie em vidro, pinturas, fotografias, e tantos outros modelos. Há um especial que está pousado no meu ombro, quando eu e meus companheiros participávamos de um grande evento em que a figura do tucano era entronizada como símbolo nacional, exemplo de superação da natureza.
O bico enorme e a plumagem colorida mostravam que, mesmo com dificuldades, é possível voar e anunciar novos tempos. Por não conhecer muito bem as várias espécies da ave, mesmo convivendo com vários tucanos, tive que recorrer ao Google para poder explicar aos pequenos a origem e o comportamento dos tucanos.
Encontrei este estudo do especialista que, imediatamente, passei a ler em voz alta:
“Os tucanos são aquelas espécies de aves pertencentes à Ordem Piciforme, Família Ramphastida, composta por cerca de 30 espécies encontradas principalmente no Brasil, México e Argentina”. Após o término do primeiro parágrafo tive que interromper a leitura pela pergunta inevitável sobre o que significavam os termos ranfastídeos, piciforme, ramphastida, zigomáticos e inglúvio.
Seguindo na leitura, e percebendo que a garotada já estava ficando impaciente, pulei alguns trechos que exigiam explicações sofisticadas e perguntei: Estão satisfeitos? Agora sabem o que é um tucano? Quando passar algum voando serão capazes de identificar cada deles?
Um dos meninos, filho de um jornalista investigativo, disse que no bloco em frente ao seu apartamento havia um tucano, segundo ouviu seu pai falar. “Ele não tem nenhuma das características que o senhor falou. Ele é alto, usa gravata, não é colorido, e vive pendurado no celular. Lá de casa, eu o ouvi falando palavrões e afirmando que iriam matar alguém. Meu pai, que prestava atenção a tudo, gravou a cena e alertou-me que não comentasse o fato com ninguém, pois o vizinho era um tucano emplumado, bico grande, chefe de bando, e que terá as asas cortadas”.
Eu, como bom tucano, fechei o bico e saí voando pela janela, buscando um novo ninho.
<< Do mesmo autor: Os sobreviventes – os homens de um presidente que sobrevive
Deixe um comentário