Reportagem – é o aprofundamento de uma notícia ou o mergulho em um fato importante, mesmo que não seja recente, em busca de revelações exclusivas. A reportagem, na acepção aqui utilizada, está no universo do “jornalismo investigativo”, que remete ao esforço para tornar públicos fatos relevantes que autoridades ou pessoas poderosas gostariam de manter ocultos. Uma boa reportagem requer pesquisas intensas, entrevistas com grande diversidade de fontes, reiteradas checagens e cuidado especial na apresentação do conteúdo final, que pode trazer complementos como vídeos, infográficos, mapas e painéis de visualização de dados. Também deve trazer – ou, no mínimo, tentar obter – as explicações de quem pode ter sua imagem arranhada pela sua publicação.
Atual presidente do Sindilegis, Nilton Paixão não esclareceu despesas feitas no ano passado
A entidade que briga na Justiça para manter o pagamento de salários acima do teto constitucional a servidores do Congresso Nacional, os chamados supersalários, tem supergastos com a sua direção. O Sindicato dos Servidores do Poder Legislativo Federal e do Tribunal de Contas da União (Sindilegis) gastou R$ 3,1 milhões apenas com a sua presidência no ano passado. Ou seja, R$ 8,2 mil por dia. Quase o dobro do R$ 1,7 milhão utilizado em 2012 e um quinto de todo o orçamento anual do Sindilegis, que foi de R$ 14,6 milhões em 2013.
É o que mostra reportagem da mais nova edição da Revista Congresso em Foco. O valor representa a soma de todas as despesas atribuídas à presidência nas prestações de contas mensais de todo o ano passado, publicadas na página da entidade na internet. O documento, no entanto, não detalha como esses recursos foram utilizados nem se os gastos se restringem ao presidente ou se englobam as três vice-presidências. O comando do sindicato é composto ainda por 12 diretores e um secretário-geral.
Presidente do Sindilegis entre 2007 e 2010, o consultor legislativo Magno Mello diz se espantar com os números e cobra maior transparência da atual diretoria. “Temos de saber para onde vai este dinheiro”, afirma o consultor. “Como a gente não tem acesso a esses números, não dá para saber se o motivo do aumento da mensalidade foi esse”, acrescenta Magno, opositor da atual gestão. De 2009 para cá, a mensalidade dos filiados saltou de R$ 64 para R$ 149.
Em dezembro, o conselho fiscal aprovou as contas da entidade. Mas fez algumas recomendações. Entre elas, a de que as despesas da presidência e das vice-presidências sejam discriminadas, “para que seja possível uma perfeita distinção entre esses centros de custos”.
Sem resposta
O sindicato tem atualmente 11 mil filiados, entre servidores da Câmara, do Senado e do Tribunal de Contas da União (TCU). Procurado pela reportagem durante quatro semanas, o presidente do Sindilegis, Nilton Rodrigues da Paixão Júnior, comprometeu-se a explicar os gastos da presidência. Mas não retornou os contatos até o fechamento desta edição.
Para este ano, o orçamento do sindicato reserva R$ 1,2 milhão para a presidência e a vice-presidência. Desse total, R$ 387,5 mil estão previstos para custear despesas do presidente e R$ 812,5 mil dos vice-presidentes. Entre os gastos especificados, estão R$ 187 mil para “serviço de acompanhamento parlamentar” e R$ 650 mil para “patrocínio”. O principal evento financiado pelo Sindilegis é a Copalegis, torneio de futebol que reúne servidores de tribunais de contas de vários estados do país. A entidade banca os custos do evento esportivo. Também entram nessa rubrica despesas com lançamento de livros e festas.
Na Justiça
O valor previsto para a presidência, em 2014, é inferior ao reservado à área jurídica. O Sindilegis planeja gastar até R$ 1,5 milhão, com a contratação de escritórios jurídicos e seus dois advogados. A entidade atua na defesa de seus filiados em causas que vão além da questão trabalhista, desde acidente de trânsito até pedidos de indenização por danos morais.
No momento, o sindicato tem a manutenção dos supersalários como sua principal bandeira. Em outubro de 2011, o Sindilegis incentivou servidores do Senado a abrirem ações judiciais idênticas, por danos morais, contra o Congresso em Foco por ter divulgado uma relação com quase 500 servidores que recebiam, segundo auditoria do TCU, acima do teto constitucional. Das 50 ações abertas contra o site, apenas três estão pendentes de julgamento. Todas as outras foram consideradas improcedentes pela Justiça. Os processos pediam mais de R$ 1 milhão de indenização. O sindicato também tentou, sem sucesso, censurar a publicação previamente.
Supersalários
Em fevereiro, o ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Marco Aurélio Mello determinou que a Câmara e o Senado voltassem a pagar valores acima do teto do funcionalismo, que é a remuneração de um ministro da própria corte, hoje R$ 29,4 mil, ao acolher liminar pedida pelo Sindilegis.
O pagamento dos supersalários havia sido proibido pela Justiça. Mas a entidade recorreu. Marco Aurélio ainda não examinou, contudo, o mérito da questão. O ministro entendeu que a Câmara e o Senado foram “açodados” no corte dos valores excedentes ao teto e não deram chance de defesa aos seus servidores.
Consultor legislativo que recebeu remuneração acima do teto, o presidente do sindicato, Nilton Paixão, classificou, na época, como uma “vitória” a manutenção dos supersalários. Entre janeiro de 2010 e junho de 2011, Nilton recebeu R$ 731 mil brutos, média de R$ 38 mil mensais.
“Por que somente os servidores do Legislativo são penalizados (sic), sendo que juízes e membros do Ministério Público, parlamentares e ministros não são afetados com a medida?”, questionou o presidente do Sindilegis, que está em seu segundo mandato consecutivo.
Auditoria do TCU do ano passado encontrou 3.390 funcionários com supersalários em 299 órgãos federais de todo o país. Entretanto, a Câmara e o Senado detinham 90% do contingente: com 2.914. A liberação dos supersalários implica uma despesa adicional de R$ 98,8 milhões às duas Casas com a folha de pagamento de seus servidores. O prejuízo mensal chega a R$ 7,6 milhões por mês, de acordo com estimativas do siteCongresso em Foco.
Solidariedade
No ano passado, o Sindilegis se envolveu em uma polêmica denunciada por seus próprios filiados, que levantaram a suspeita de que seus dados pessoais foram utilizados de maneira fraudulenta na criação do Solidariedade (SDD), partido idealizado pelo deputado Paulo Pereira da Silva (ex-PDT-SP), o Paulinho da Força Sindical. Entre os apoiadores da nova legenda havia até um servidor do Senado falecido em 2011.
Alguns servidores chegaram a entrar na Justiça contra o sindicato, alegando que tiveram suas assinaturas falsificadas e que, em nenhum momento, foram consultados sobre o apoio à nova legenda. Em depoimento à PF, pelo menos 20 funcionários afirmaram nunca ter assinado fichas de apoio à criação do SDD.
Em carta aos filiados, Nilton Paixão negou que a entidade tenha contribuído com o novo partido. Segundo ele, das seis informações necessárias para o preenchimento de uma ficha de apoio à criação de uma legenda, quatro não constavam do banco de dados do Sindilegis. Entre elas, o número do título de eleitor.
“A relação do Sindilegis com o deputado Paulinho da Força, como muitos de você sabem, se deve ao fato de ele ter sido eleito o relator dos planos de carreira dos colegas da Câmara dos Deputados e do TCU. Mas o reconhecimento por sua atitude justa e corajosa, em relação aos servidores das duas Casas, em hipótese alguma, significa, nem poderia significar, o alinhamento do sindicato com os seus projetos políticos”, disse.
Também na nova edição da revista:
– Metade do Congresso responde a acusações criminais
– “Impedir o financiamento eleitoral privado não diminuirá a corrupção”, afirma em entrevista exclusiva o procurador-geral da República, Rodrigo Janot
– Na temporada eleitoral de 2014, a intolerância e o autoritarismo dão o tom do debate político
– House of Cards, a série que conquistou Brasília
– Por atraso de cronograma, mais 11 obras de mobilidade urbana deverão ser excluídas da Matriz de Responsabilidade da Copa, informa o colunista Afonso Morais
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