Operador do PMDB em esquemas de corrupção, o doleiro Lúcio Funaro, também delator da Operação Lava Jato, diz em um de seus depoimentos que o ex-deputado Eduardo Cunha (PMDB-RJ), preso e condenado a mais de 15 anos de cadeia, “funcionava como um banco de corrupção de políticos”. A declaração consta dos relatos feitos por Funaro à Procuradoria-Geral da República (PGR) em 23 de agosto último.
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“Eduardo funcionava como se fosse um banco de corrupção de políticos, ou seja, todo mundo que precisava de recursos pedia para ele, e ele cedia. Em troca mandava no mandato do cara”, disse Funaro às autoridades da Lava Jato, dando a medida da influência do ex-cacique peemedebista. “[Cunha] não precisava nem ir atrás de ninguém. Fazia fila de gente atrás dele.”
PublicidadeO jornal Folha de S.Paulo exibiu em primeira mão em seu site um vídeo com o depoimento em questão. No filmete de quase dois minutos, Funaro descreve o modus operandi do pagamento de propinas a partir de desvios do Fundo de Investimentos do FGTS, da Caixa Econômica Federal. Segundo o relato, entre 60% e 65% de cada operação ilícita eram reservados ao ex-ministro Geddel Vieira Lima, depois que ele assumiu a vice-presidência de Pessoa Jurídica da Caixa, em 2011. Mesmo tendo o cargo em 2013, acrescentou Funaro, Geddel manteve influência no banco com o amparo de Cunha, à época em pleno exercício do mandato de deputado e prestes a se tornar presidente da Câmara, em 2015.
“O resto [40% a 35%] eu e o Cunha meiávamos no meio [sic] ou eu dava 5% a mais para o Cunha e o resto para mim. Dependia da operação e da necessidade de caixa que ele tinha”, continuou Funaro, definindo sua relação com Cunha como “muito boa”. Ele explicou que não se importava em repassar valores mais elevados para Cunha, uma vez que estava em jogo o “projeto político” do ex-cacique peemedebista.
“Eu apostava que ele, realmente, ia chegar onde chegou, que foi chegar a ser a pessoa que tinha mais importância, mais poder no Brasil. Em um período curto de tempo, mas ele chegou [ao cargo de presidente da Câmara]”, arrematou o delator.
Confira no vídeo:
Funaro teve acordo de colaboração judicial homologado pelo ministro Edson Fachin, relator da Lava Jato no Supremo Tribunal Federal (STF), no início de setembro. Temida pelo governo, a delação do operador, que compunha o grupo de Eduardo Cunha na Câmara – e, como o cacique peemedebista, está preso há meses –, fortalece a tese de obstrução de Justiça em consideração na segunda denúncia da PGR contra o presidente Michel Temer. Segundo o ex-procurador-geral da República, Rodrigo Janot, Temer avalizou a compra do silêncio tanto de Funaro quanto de Cunha.
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Acusado de participar dos desvios na Caixa Econômica, em parceria com Cunha, Funaro confessou crimes, descreveu o envolvimento de parlamentares nas negociatas e entregou provas “fortes” de movimentação ilegal de dinheiro durante as negociações da delação premiada. Tais relatos se somaram às delações e gravações de Joesley Batista e outros executivos da J&F na peça de acusação contra o presidente.
O peemedebista é alvo de inquérito no Supremo que apura o envolvimento dele, do ex-assessor da Presidência Rodrigo Rocha Loures, entre outros, em crimes como corrupção, obstrução à Justiça e organização criminosa. O ex-procurador-geral da República suspeita que Temer usava Rocha Loures para executar negócios escusos, receber propina da JBS e atrapalhar a Lava Jato já no exercício do mandato.
Segundo as investigações, Funaro fez revelações consistentes e reveladoras que reforçam as acusações de Joesley contra o presidente. Foi com base em depoimentos dele que a Polícia Federal prendeu o ex-ministro Geddel Vieira Lima por obstrução à Justiça.
Um dos peemedebistas mais próximos de Temer, Geddel é acusado de sondar a mulher do doleiro sobre a intenção dele de fazer delação premiada. Dinheiro não faltava para comprar o silêncio de Funaro, segundo a Polícia Federal, que encontrou 15 malas e caixotes recheados de dinheiro em endereço atribuído ao ex-ministro. Funaro confirmou o que áudios de conversa fora da agenda presidencial entre Temer e Joesley, em 7 de março, sinalizaram: que recebeu dinheiro da JBS, a mando de Temer, em troca de seu silêncio.
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