Em seu primeiro mandato político, a deputada Bia Kicis (PSL-DF) é uma das parlamentares mais próximas do presidente Jair Bolsonaro. Tem livre trânsito nos palácios do Planalto e da Alvorada. Ex-procuradora do Distrito Federal e ativista de direita nas redes sociais, foi ela quem apresentou a Bolsonaro o economista Paulo Guedes, hoje o superministro da Economia. E foi Guedes quem convenceu Bolsonaro, até então um radical opositor da reforma da Previdência, a abraçar a proposta como boia de salvação do país. Hoje vice-líder do governo no Congresso, Bia sugere “maturidade política” e “inteligência emocional” para “baixar a temperatura” da crise entre os presidentes da República e da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ).
Para a deputada, os dois têm os mesmos objetivos: aprovar a reforma da Previdência e buscar o melhor para o país. E, por isso, não devem se perder em “desencontros naturais” da política. “Tudo vai se acalmar. O presidente vai se encontrar com ele em breve. O Rodrigo Maia se elegeu com o apoio do PSL porque é totalmente favorável à reforma. Não há menor dúvida disso”, afirmou a deputada ao Congresso em Foco. “Todos têm de ter maturidade política e inteligência emocional agora para agir pensando no bem do Brasil”, acrescentou.
Na avaliação de Bia Kicis, o momento não é de fazer autocrítica, mas de boa vontade. “A gente não precisa falar de autocrítica. Não estamos fazendo psicanálise. Vamos pensar de forma mais objetiva e pragmática. Precisa haver uma boa vontade.”
Maia demonstrou grande irritação com o governo nos últimos dias. Considera que tem se sacrificado como articulador político para aprovação da reforma da Previdência, responsabilidade que, no entendimento dele, não tem sido assumida pelo governo. E, mesmo assim, entende que tem sido atacado por aliados de Bolsonaro nas redes sociais. Entre os destinatários da reclamação do deputado está o vereador carioca Carlos Bolsonaro (PSC), filho do presidente. Carlos cuida das redes do pai e exerce forte influência sobre os seguidores de Bolsonaro.
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Presidentes em confronto
Maia já avisou que não será mais o articulador da reforma e criticou duramente o atual governo, que, segundo ele, não tem projetos para o país, é um “deserto de ideias”, trabalhou contra sua reeleição na Câmara e é incapaz de formar uma base parlamentar. Também sobrou diretamente para Bolsonaro, de quem cobrou liderança, protagonismo e que tuitasse menos e governasse mais.
Ainda no Chile, onde estava em viagem oficial, o presidente primeiro tentou contemporizar, mas botou mais água na fervura ontem ao associar o deputado ao que chama de “velha política” e ao tentar explicar o possível motivo do descontentamento do presidente da Câmara. “Até perdoo o Rodrigo Maia pela situação pessoal que ele está vivendo”, disse ele, em referência à prisão do ex-ministro Moreira Franco, na Operação Lava Jato na última quinta-feira, junto com o ex-presidente Michel Temer. Moreira é padrasto da esposa de Maia.
Bia Kicis acredita que a paz entre os dois será selada em encontro nos próximos dias. “Irritação passa. Ninguém gosta de ser atacado, com ou sem razão, mas somos todos seres humanos, passíveis de ficar chateados. Aí para, respira, descansa, deixa passar o fim de semana e começa outra semana”, aconselha.
Para a vice-líder do governo no Congresso, Bolsonaro não vai – nem deve – seguir o apelo de Maia para que use menos as redes sociais e governe mais. “O presidente foi eleito com as redes sociais. Ele não vai parar de usar. É uma forma de ele se comunicar livremente com o povo, sem ter de passar por uma censura ou por algum canal que distorce às vezes alguma coisa que ele fala”, defende.
A deputada avalia que o momento exige sacrifício de mulheres e homens públicos para que o país não mergulhe ainda mais fundo nas crises política, econômica e institucional. “Todos temos de ter boa vontade e superação. Se ficarmos preocupados com quem está errado, vamos montar um grupo de psicanálise. Não se trata disso, mas de algo muito sério, resolver os problemas do nosso país. As coisas têm de ser superadas, cada um cuida de si.”
Casamento
Bia Kicis aproximou Bolsonaro e Paulo Guedes por meio do empresário de origem chinesa Winston Ling, do grupo Ling, do Rio Grande do Sul. Os dois participaram do primeiro encontro do então deputado com o economista em novembro de 2017, no Rio. Também estavam presentes os filhos políticos (Flávio, Eduardo e Carlos) do então deputado. Duas semanas depois, em encontro a sós, Bolsonaro e Guedes, que vinha conversando com Luciano Huck (que até então não havia decidido se disputaria a eleição presidencial ou não), selaram a união.
Desde então o presidente teve de rever muitas das suas posições econômicas, deixar pensamentos nacionalistas e estatizantes de lado, e mergulhar no pensamento liberal do hoje ministro. Foi ele que fez Bolsonaro, até então um crítico feroz da reforma da Previdência, como mostram vídeos em circulação na internet, a defendê-la como condicionante para o futuro do país e, por tabela, do seu governo.
Madrinha desse até então improvável casamento, Bia Kicis se elegeu em outubro com 86,4 mil votos. Embora estivesse filiada ao PRP, era apoiada pelo então candidato a presidente e se apresentava como a “deputada federal do Bolsonaro”. Ela ganhou notoriedade nas manifestações pró-impeachment, entre 2015 e 2016, e virou uma influenciadora digital, sobretudo com seus vídeos e discursos duros e por vezes polêmicos. Ainda no antigo partido, já participava das reuniões da bancada do PSL, uma vez que sua entrada no partido era dada como mais que certa, o que foi oficializado nas vésperas da posse.
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Tá explicado o por que do desastre econômico do Brasil.