O presidente Jair Bolsonaro sancionou, sem vetos, a lei que reestrutura o Conselho de Controle de Atividades Financeiras (Coaf). A medida foi publicada no Diário Oficial da União desta quarta-feira (8) e transfere o órgão do Ministério da Economia para o Banco Central (BC).
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A lei é oriunda da medida provisória aprovada no fim do ano passado pelo Congresso, que discutiu o destino do Coaf com o governo durante todo o ano de 2019. Primeiro, o Congresso rejeitou a proposta inicial de Bolsonaro de transferir o órgão do Ministério da Economia para o Ministério da Justiça. Depois, aprovou sua transferência para o Banco Central, mas com algumas condições.
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Nessa votação, realizada no último dia de vigência da medida provisória que reestruturava o Coaf, o Congresso rejeitou outras três sugestões do governo para o Coaf. São elas: a mudança do nome do Coaf para Unidade de Inteligência Financeira (UIF); a transformação do órgão colegiado em conselho deliberativo; e a permissão de o Coaf produzir informações para o combate ao financiamento do terrorismo.
Por conta disso, a lei sancionada nessa terça-feira (7) pelo presidente Jair Bolsonaro transfere o Coaf para o Banco Central, mas mantém o órgão com esse nome e com a estrutura colegiada. O plenário do Coaf será composto do presidente do órgão e de mais 12 servidores federais que devem ter “reputação ilibada e reconhecidos conhecimentos em matéria de prevenção e combate à lavagem de dinheiro”.
Cabe ao presidente do Banco Central – hoje, Roberto Campos Neto – nomear o presidente e os demais membros do plenário do Coaf. A lei 13.974 também determina, por sua vez, que o “Ministério da Economia e o Ministério da Justiça e Segurança Pública prestarão, até 31 de dezembro de 2020, o apoio técnico e administrativo necessário para o funcionamento e a operação do Coaf”.
O texto sancionado por Bolsonaro ainda lembra o objetivo principal do Coaf, que é “produzir e gerir informações de inteligência financeira para a prevenção e o combate à lavagem de dinheiro”.
Veja a íntegra da lei que reestrutura o Coaf:
“LEI Nº 13.974, DE 7 DE JANEIRO DE 2020
Dispõe sobre o Conselho de Controle de Atividades Financeiras (Coaf), de que trata o art. 14 da Lei nº 9.613, de 3 de março de 1998.
O P R E S I D E N T E D A R E P Ú B L I C A
Faço saber que o Congresso Nacional decreta e eu sanciono a seguinte Lei:
Art. 1º Esta Lei reestrutura o Conselho de Controle de Atividades Financeiras (Coaf), de que trata o art. 14 da Lei nº 9.613, de 3 de março de 1998.
Art. 2º O Coaf dispõe de autonomia técnica e operacional, atua em todo o território nacional e vincula-se administrativamente ao Banco Central do Brasil.
Art. 3º Compete ao Coaf, em todo o território nacional, sem prejuízo das atribuições estabelecidas na legislação em vigor:
I – produzir e gerir informações de inteligência financeira para a prevenção e o combate à lavagem de dinheiro;
II – promover a interlocução institucional com órgãos e entidades nacionais, estrangeiros e internacionais que tenham conexão com suas atividades.
Art. 4º A estrutura organizacional do Coaf compreende:
I – Presidência;
II – Plenário; e
III – Quadro Técnico.
§ 1º O Plenário é composto do Presidente do Coaf e de 12 (doze) servidores ocupantes de cargo efetivos, de reputação ilibada e reconhecidos conhecimentos em matéria de prevenção e combate à lavagem de dinheiro, escolhidos dentre integrantes dos quadros de pessoal dos seguintes órgãos e entidades:
I – Banco Central do Brasil;
II – Comissão de Valores Mobiliários;
III – Superintendência de Seguros Privados;
IV – Procuradoria-Geral da Fazenda Nacional;
V – Secretaria Especial da Receita Federal do Brasil;
VI – Agência Brasileira de Inteligência;
VII – Ministério das Relações Exteriores;
VIII – Ministério da Justiça e Segurança Pública;
IX – Polícia Federal;
X – Superintendência Nacional de Previdência Complementar;
XI – Controladoria-Geral da União;
XII – Advocacia-Geral da União.
§ 2º Compete ao Plenário, sem prejuízo de outras atribuições previstas no Regimento Interno do Coaf:
I – decidir sobre as orientações e as diretrizes estratégicas de atuação propostas pelo Presidente do Coaf;
II – decidir sobre infrações e aplicar as penalidades administrativas previstas no art. 12 da Lei nº 9.613, de 3 de março de 1998, em relação a pessoas físicas e pessoas jurídicas abrangidas pelo disposto no art. 9º da Lei nº 9.613, de 3 de março de 1998, para as quais não exista órgão próprio fiscalizador ou regulador;
III – convidar especialistas em matéria correlacionada à atuação do Coaf, oriundos de órgãos e entidades públicas ou de entes privados, com o intuito de contribuir para o aperfeiçoamento de seus processos de gestão e inovação tecnológica, observada pelo convidado a preservação do sigilo de informações de caráter reservado às quais tenha acesso.
§ 3º A participação dos membros do Plenário em suas sessões deliberativas será considerada prestação de serviço público relevante não remunerado.
§ 4º O Quadro Técnico compreende o Gabinete da Presidência, a Secretaria-Executiva e as Diretorias Especializadas definidas no Regimento Interno do Coaf.
§ 5º Compete ao Presidente do Banco Central do Brasil escolher e nomear o Presidente do Coaf e os membros do Plenário.
§ 6º Compete ao Presidente do Coaf escolher e nomear, observadas as exigências de qualificação profissional e formação acadêmica previstas em ato do Poder Executivo:
I – o Secretário-Executivo e os titulares das Diretorias Especializadas referidas no § 4º deste artigo;
II – os servidores, os militares e os empregados públicos cedidos ao Coaf ou por ele requisitados;
III – os ocupantes de cargos em comissão e funções de confiança.
Art. 5º A organização e o funcionamento do Coaf, incluídas a sua estrutura e as competências e as atribuições no âmbito da Presidência, do Plenário e do Quadro Técnico, serão definidos em seu Regimento Interno, aprovado pela Diretoria Colegiada do Banco Central do Brasil.
Art. 6º O processo administrativo sancionador no âmbito do Coaf será disciplinado pela Diretoria Colegiada do Banco Central do Brasil, à qual incumbe dispor, entre outros aspectos, sobre o rito, os prazos e os critérios para gradação das penalidades previstas na Lei nº 9.613, de 3 de março 1998, assegurados o contraditório e a ampla defesa.
§ 1º Caberá recurso das decisões do Plenário relacionadas ao processo administrativo de que trata ocaputdeste artigo ao Conselho de Recursos do Sistema Financeiro Nacional.
§ 2º O disposto na Lei nº 9.784, de 29 de janeiro de 1999, aplica-se subsidiariamente aos processos administrativos sancionadores instituídos no âmbito do Coaf.
Art. 7º É aplicável ao Coaf o disposto no art. 2º da Lei nº 9.007, de 17 de março de 1995.
Parágrafo único. É vedada a redistribuição para os quadros de pessoal do Banco Central do Brasil de servidor oriundo de outros órgãos e entidades, em razão do exercício no Coaf.
Art. 8º Aos integrantes da estrutura do Coaf é vedado:
I – participar, na forma de controlador, administrador, gerente preposto ou mandatário, de pessoas jurídicas com atividades relacionadas nocapute no parágrafo único do art. 9º da Lei nº 9.613, de 3 de março de 1998;
II – emitir parecer sobre matéria de sua especialização, fora de suas atribuições funcionais, ainda que em tese, ou atuar como consultor das pessoas jurídicas a que se refere o inciso I docaputdeste artigo;
III – manifestar, em qualquer meio de comunicação, opinião sobre processo pendente de julgamento no Coaf;
IV – fornecer ou divulgar informações conhecidas ou obtidas em decorrência do exercício de suas funções a pessoas que não disponham de autorização legal ou judicial para acessá-las.
§ 1º À infração decorrente do descumprimento do inciso IV docaputdeste artigo aplica-se o disposto no art. 10 da Lei Complementar nº 105, de 10 de janeiro de 2001.
§ 2º O Presidente do Coaf adotará as diligências necessárias para apuração de responsabilidade dos servidores e demais pessoas que possam ter contribuído para o descumprimento do disposto nocaputdeste artigo e encaminhará relatório circunstanciado à autoridade policial ou ao Ministério Público para adoção das medidas cabíveis.
§ 3º As providências previstas no § 2º deste artigo serão adotadas pelo Presidente do Banco Central do Brasil caso haja indícios de autoria ou de participação do Presidente do Coaf.
Art. 9º Constituem Dívida Ativa do Banco Central do Brasil os créditos decorrentes da atuação do Coaf inscritos a partir de 20 de agosto de 2019.
§ 1º Continuam integrando a Dívida Ativa da União as multas pecuniárias e seus acréscimos legais relativos à ação fiscalizadora do Coaf nela inscritos até 19 de agosto de 2019.
§ 2º Compete aos titulares do cargo de Procurador do Banco Central do Brasil o exercício das atribuições previstas no art. 4º da Lei nº 9.650, de 27 de maio de 1998, em relação ao Coaf.
Art. 10. Ficam mantidos os cargos em comissão e as funções de confiança integrantes da estrutura do Coaf em 19 de agosto de 2019.
Art. 11. Ficam mantidos os efeitos dos atos de cessão, requisição e movimentação de pessoal destinado ao Coaf editados até 19 de agosto de 2019.
Art. 12. O Ministério da Economia e o Ministério da Justiça e Segurança Pública prestarão, até 31 de dezembro de 2020, o apoio técnico e administrativo necessário para o funcionamento e a operação do Coaf.
Art. 13. Ato conjunto do Ministério da Economia, do Ministério da Justiça e Segurança Pública e do Banco Central do Brasil disporá sobre a transferência progressiva de processos e contratos administrativos.
Art. 14. Ficam revogados os arts. 13, 16 e 17 da Lei nº 9.613, de 3 de março de 1998.
Art. 15. Esta Lei entra em vigor na data de sua publicação.
Brasília, 7 de janeiro de 2020; 199º da Independência e 132º da República.
JAIR MESSIAS BOLSONARO
Marcelo Pacheco dos Guaranys
Roberto de Oliveira Campos Neto”
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Me parece boa a decisão. Mas o Banco Central não pode ser conivente com politicos canalhas