Os partidos de oposição decidiram suspender o discurso de impeachment do presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Reunidos ontem durante a primeira reunião conjunta das oposições, representantes do PFL, do PSDB, do PDT, do PPS e do PV concluíram que, por enquanto, não há clima político para o impedimento de Lula. Também participaram do encontro representantes da ala do PMDB que prega a independência em relação ao governo.
Mas os líderes oposicionistas fizeram questão de ressaltar que a “trégua” tem limite. “Se ficar comprovada a desonestidade pessoal e cabal do presidente não vamos poupá-lo”, afirmou o líder do PSDB no Senado, Arthur Virgílio (AM). Eles decidiram criar um fórum de acompanhamento da crise com articulação das oposições nas três CPIs que tramitam no Congresso (Correios, Mensalão e Bingos).
O entendimento dos partidos é de que, apesar da proximidade de Lula com o ex-ministro José Dirceu, acusado de ser o organizador do esquema de pagamento de mesada a parlamentares, não há comprovação do envolvimento do presidente com as irregularidades assumidas pelo ex-tesoureiro do PT Delúbio Soares.
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No entanto, o que mais arrefece o discurso oposicionista é o sentimento de que, apesar do acirramento da crise, Lula ainda tem respaldo da opinião pública. Qualquer tentativa de pedir o impedimento do presidente, neste momento, poderia ser interpretada como golpismo. Além disso, do ponto de vista eleitoral, o entendimento é de que o melhor cenário é que o petista conclua o seu mandato sob forte desgaste. Nesse cenário, avaliam, seria mais fácil derrotá-lo ou o candidato que ele vier a apoiar, caso desista da reeleição.
Um dos participantes da reunião, o presidente do PMDB, deputado Michel Temer (SP), ressaltou que o impeachment "é um juízo de conveniência e é preciso ver se há conveniência ou não". "Neste momento, não há", afirmou. Segundo ele, a medida poderia causar "convulsão social".
PublicidadeA oposição discutiu a reabertura das contas da campanha de Lula em 2002. O PFL pretende encaminhar o pedido à Procuradoria-Geral da República. O partido quer analisar detalhadamente a prestação de contas do PT nas últimas eleições gerais e verificar se os números batem com os apresentados pelo publicitário Duda Mendonça.
Na semana passada, Duda disse que foi orientado pelo empresário Marcos Valério Fernandes, indicado pelo PT, a abrir uma conta e uma empresa num paraíso fiscal para receber parte do que tinha direito a receber do partido pela campanha de 2002. O publicitário declarou à CPI dos Correios que recebeu cerca de R$ 10,5 milhões em uma conta nas Bahamas. O montante se referia ao pagamento pelo “pacote”, no valor de R$ 25 milhões, feito por ele para as campanhas do PT à presidência da República, aos governos de São Paulo e do Rio de Janeiro e ao Senado.
Ontem, a Polícia Federal pediu ao Supremo Tribunal Federal (STF) o bloqueio da conta da offshore Dusseldorf Company Ltd., aberta pelo publicitário Duda Mendonça para receber o dinheiro repassado por Marcos Valério. O bloqueio faz parte de um conjunto de providências relacionadas ao inquérito que apura o mensalão e a prática de formação de caixa dois. A PF também pediu a quebra do sigilo de oito contas de empresas que alimentaram a Dusseldorf.
Marcos Valério, no entanto, nega que tenha orientado Duda a abrir a empresa no paraíso fiscal. Segundo ele, foi Duda quem o instruiu a mandar dinheiro para contas no exterior.
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