Ex-governador de Minas Gerais, o senador Aécio Neves (PSDB) não estará na convenção tucana que consagrará, neste sábado (28), o colega de Senado e de partido Antonio Anastasia como candidato ao governo de Minas Gerais. Por meio de nota (íntegra abaixo), Aécio alega não ter decidido que rumo seguirá nas eleições deste ano e, nesse sentido, só depois de decidir o que fará deve participar “atos de campanha”.
Segundo a nota, só na próxima semana será sabida a decisão de Aécio sobre o pleito eleitoral. “Até lá, [o senador] segue se reunindo, em Belo Horizonte e no interior do Estado, com diversas lideranças políticas para avaliar a melhor forma de contribuir para o resgate de Minas Gerais nesse momento de extrema gravidade e grandes incertezas”, diz o comunicado.
Mas, como o Congresso em Foco tem mostrado nas últimas semanas, não é exatamente a indefinição do senador tucano o que o tem impedido de ir a eventos de campanha em 2018. Réu e alvo de várias outras investigações no Supremo Tribunal Federal (STF), Aécio é considerado “tóxico” para candidaturas de seus correligionários desde que foi flagrado, no ano passado, em conversa comprometedora com o empresário Joesley Batista, um dos donos da JBS e delator da Operação Lava Jato.
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Uma fonte com interlocução privilegiada no ninho tucano e do entorno de Aécio no Senado disse ao Congresso em Foco que os próceres do PSDB mineiro tendem a se afastar de Aécio na campanha eleitoral deste ano, em razão do eventual poder de contaminação das denúncias que pesam sobre ele. Como este site mostrou em 28 de maio, o senador não deve disputar a reeleição e sequer participar da campanha eleitoral deste ano, justamente em função de sua alta rejeição popular.
A decisão de Aécio tem duplo objetivo, segundo apuração da reportagem: evitar a constrangedora falta de apoio interno à sua candidatura e, externamente, não atrapalhar o desempenho dos pré-candidatos do PSDB à Presidência da República e ao governo de Minas – Geraldo Alckmin, ex-governador de São Paulo, e Anastasia, que já foi vice de Aécio no estado e, até a revelação dos áudios em que Aécio conversa com Joesley, era um de seus principais aliados.
A demonstração de que Aécio é evitado nos bastidores tucanos ficou clara em 26 de junho, quando o PSDB celebrou 30 anos de fundação. A comemoração de três décadas de existência ficou marcada pelo constrangimento do partido em ter que camuflar o senador, outrora expoente da legenda, em ano eleitoral. Ex-presidente do PSDB, ele se ausentou da celebração promovida pela executiva nacional em Brasília e, para completar, não discursa no vídeo comemorativo lançado para a ocasião (veja abaixo). Só em uma sequência acelerada de fotos Aécio pôde se fazer presente. Assim mesmo, bem mais novo e ao lado ao avô.
Assista:
Tucano minguante
A situação de Aécio é refletida por sua atuação parlamentar, como este site mostrou em 27 de junho. Em todo o primeiro semestre deste ano, ele só fez dois pronunciamentos na tribuna do plenário. Para efeito de comparação, só em 2014, ano em que travou a disputa contra a reeleição de Dilma Rousseff (PT), o senador mineiro fez 14 pronunciamentos na tribuna – situações que geralmente consomem minutos, mas que, a depender da natureza do discurso, podem chegar a uma, duas ou mais horas de fala.
Naquele ano, fez todo tipo de discurso pela moralidade, defendeu a criação da CPI da Petrobras, exaltou os 20 anos do Plano Real e respondeu a provocações de adversários, principalmente petistas, com desenvoltura. Mas, nos últimos meses, o púlpito do Senado lhe tem servido mais como palco de defesa contra denúncias.
Patrimônio de Aécio triplicou depois da eleição de 2014
Foram oito pronunciamentos de Aécio em 2017, quando veio a público a gravação em que pede R$ 2 milhões a Joesley – propina, segundo a Procuradoria-Geral da República (PGR), que o denunciou por corrupção e obstrução de Justiça ao STF. Empréstimo, de acordo com a versão dele.
Em 4 de abril do ano passado, uma sinalização de que uma tempestade estava a caminho: o discurso serviu para rebater reportagem de capa da revista Veja segundo a qual o tucano recebeu propina da Odebrecht, empreiteira-pivô do esquema de corrupção desvendado na Lava Jato. Naquele dia, como o Congresso em Foco também mostrou, Aécio ainda via manifestado em plenário, em 13 apartes, o apoio de que gozava nos tempos de presidenciável.
Leia a nota de Aécio:
O senador Aécio Neves anunciará na próxima semana como participará das eleições deste ano. Até lá, segue se reunindo, em Belo Horizonte e no interior do Estado, com diversas lideranças políticas para avaliar a melhor forma de contribuir para o resgate de Minas Gerais nesse momento de extrema gravidade e grandes incertezas. Só a partir do anúncio de sua decisão o senador Aécio participará de atos de campanha, não estando prevista, assim, sua presença na convenção do PSDB-MG neste sábado.
Aécio deve ser o único investigado na Lava Jato a ficar fora da eleição