Para aqueles que acompanham os trabalhos e avaliações do Congresso em Foco Análise, a queda do agora ex-ministro do Meio Ambiente Ricardo Salles não foi uma surpresa. Em dezembro de 2020, as possibilidades de queda iminente de Salles já eram apontadas pelo Relatório de Avaliação de Autoridades, pesquisa feita junto aos principais parlamentares do Congresso.
O relatório, naquela ocasião, já apontava para a queda tanto de Ricardo Salles quanto de Ernesto Araújo, no Ministério das Relações Exteriores. E, seguindo a tendência que a pesquisa demonstrava, hoje nenhum dos dois é mais ministro.
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A avaliação dos ministérios do governo Bolsonaro mantém recorte criado pela mídia entre os “ideológicos” com as piores avaliações, e os “técnicos” com as melhores avaliações. De uma forma geral, mantém-se um mesmo padrão, natural em se tratando do posicionamento de cada um na sua relação com o governo. Os parlamentares da base do governo fazem avaliações melhores da atuação dos ministros. Os independentes, avaliações intermediárias. E a oposição as piores análises.
Esse resultado ressalta a dimensão da polarização política atualmente vivenciada pelo país. O ministro de meu adversário é meu adversário é a lógica que prevalece. Todavia, não se enxerga uma polarização extrema – situação em que se esperaria que nenhum, ou praticamente nenhum, ministro do governo obtivesse notas positivas entre parlamentares da oposição. Da mesma forma, se a lógica fosse unicamente política, nenhum parlamentar da base avaliaria mal um ministro do governo. E não foi o que o levantamento demonstrou.
No levantamento de dezembro, houve três ministros que receberam a nota mínima (1) entre parlamentares integrantes da base do governo: Ernesto Araújo (Relações Exteriores), Ricardo Salles (Meio Ambiente) e Onyx Lorenzoni, que então era o ministro da Cidadania e agora é o ministro da Secretaria-Geral da Presidência. Não há, no conjunto total, ministros que receberam nota máxima (5) entre parlamentares da oposição.
PublicidadeMinistros que receberam nota 2 entre parlamentares integrantes da base do governo, sem receber notas superiores a 3 por parte da oposição: Augusto Heleno (Gabinete de Segurança Institucional), Damares Alves (Mulher, Família e Direitos Humanos), Milton Ribeiro (Educação), Paulo Guedes (Economia).
E houve o caso que parece surpreendente de ministros que receberam nota 2 entre parlamentares da base e nota 4 entre parlamentares da oposição (desagradaram a gregos e agradaram a troianos): André Mendonça (que era então ministro da Justiça e agora é advogado-geral da União), Eduardo Pazuello (então na Saúde), Fábio Faria (Comunicações), Luiz Eduardo Ramos (Casa Civil).
E o que chama a atenção aqui é estar nessa situação o ex-ministro da Saúde Eduardo Pazuello, agora um dos alvos centrais da CPI da Covid.
E há os que agradaram de modo geral a todo mundo. Não receberam notas inferiores a 3 entre parlamentares integrantes da base do governo e receberam nota 4 entre parlamentares da oposição: Rogério Marinho (Desenvolvimento Regional), Tarcísio de Freitas (Infraestrutura) e Teresa Cristina (Agricultura).
O que já observava a análise do levantamento em dezembro é que os ministros que ocupavam o Quadro 1 sinalizavam o potencial para uma eventual reforma ministerial. E, de fato, tanto Ernesto Araújo quanto Ricardo Salles deixaram o governo. E Onyx Lorenzoni mudou de pasta, indo para uma posição mais próxima da política parlamentar no Palácio do Planalto.
Os ministros na Situação D eram candidatos naturais a serem trocados, uma vez que desagradavam inclusive a base sem ter ressonância na oposição. O que se deve avaliar agora é se melhorou a posição de Onyx Lorenzoni. Sua defesa atabalhoada do presidente, com ameaças e bravatas para os denunciantes, como aconteceu recentemente com relação ao deputado Luís Miranda (DEM-DF) pode ser um sintoma de que sinta sua fraqueza e queira recuperar pontos junto ao presidente. Mas, pela lógica do sistema, quem está em pé, cuide para que não caia.
> Impressões a partir da torre de observação de Lula
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