Maíra Freitas herdou a simpatia e a musicalidade do pai. Bela negra nos frescor de seus 25 anos, a caçula de Martinho da Vila fala de música como se tivesse “trocando uma ideia” em um bar da Lapa, nas arquibancadas da Gávea ou nas areias de Ipanema. Carioca da gema, flamenguista – daquelas que pronunciam a palavra com o típico chiado no “s” – e simpática até o último tom, Maíra fala como quem canta. Na festa de entrega do Prêmio Congresso em Foco 2011, Maíra dividiu o palco com o grande João Donato. Exímia pianista, com formação clássica, ela cantou com ele clássicos do pai da bossa nova e novas composições de Donato, algumas feitas em parceria com seu próprio pai, Martinho da Vila.
Veja abaixo um trecho do show de João Donato e Maíra Freitas na festa do Prêmio Congresso em Foco:
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Donato e Maíra; o tom no Prêmio Congresso em Foco
Na entrevista, sorridente, Maíra nem parecia que acabava de fazer um show cheio de vitalidade vocal e instrumental, num universo ao mesmo tempo requintado e sacolejante de notas e melodias. Pianista clássica, Maíra deixou de lado as formalidades e, com a modéstia em ressonância, resumiu como se sente na parceria com o precursor da Bossa Nova.
“Pra mim é uma honra e uma grande emoção, porque ele me influenciou, grande pianista que é. Eu, como pianista, fico toda boba, fico até querendo não tocar; fico ali colando todas as dicas, tudo o que ele faz eu fico tentando copiar e pegar um pouco da genialidade dele”, derrete-se a artista, que lançou seu primeiro disco neste ano (Simplesmente Maíra), mas desde os sete anos se senta ao piano para interpretar os grandes clássicos.
Maíra diz que fica “toda boba” ao ter seus talentos musicais ressaltados pelo parceiro de palco. Mas, ao mesmo tempo em que mostra fidelidade às suas raízes brasileiras, derrete-se ao ouvir a menção da reportagem sobre a cantora Adele, tão distante em termos geográficos e de estilo, mas tão semelhante na voz aguda e extremamente afinada. A ponto de, logo depois de dizer que “adora” a artista britânica, cantarolar uma de suas músicas mais famosas, “Rolling in the deep”.
Veja aqui Adele em “Rolling in the deep”:
“Se ela viesse [fazer show no Brasil], eu estaria lá na primeira fila, pulando, gritando!”, entrega, sem nenhum problema em tietar a nova sensação da música britânica, espécie de substituta de Amy Winehouse. Choro, samba, bossa, música erudita… quer saber mesmo o que é que a Maíra tem? Escute-a e leia abaixo a entrevista-conversa gentilmente concedida ao site. Está longe de mostrar tudo da cantora, compositora e instrumentista multifacetada, mas dá uma ideia.
Confira os principais trechos da entrevista:
Congresso em Foco – Como é fazer um show em um evento que enaltece a boa política?
Maíra – Acho muito bom, muito bacana, porque é isso é tão difícil… A gente só ouve falar mal da política – ou falar mal da má política, não é? (risos) Acho importante exaltar a boa política.
Como é dividir o palco com um dos fundadores da Bossa Nova?
Pra mim é uma honra e uma grande emoção, porque ele me influenciou como grande pianista. Eu, como pianista, fico toda boba, fico até querendo não tocar; fico ali colando todas as dicas, tudo o que ele faz eu fico tentando copiar e pegar um pouco da genialidade dele. O João é uma personalidade importantíssima para a música brasileira, para toda essa identidade da música brasileira que a gente tem hoje. Ele contribuiu muito para a música brasileira que a gente escuta hoje.
João nos disse que esse show era uma “soma de inteligências, de qualidade”, e se referiu a você como um dos grandes talentos musicais da atualidade. Como você recebe esses elogios?
Fico toda boba, né? (risos) Imagina! Pô, João Donato me elogiando, ele que para mim é uma referência… Fico muito feliz mesmo. Espero poder fazer jus aos elogios, e eu tento. Eu estudo para isso.
Como é a preparação para dividir o palco com uma lenda viva da bossa nova?
Eu estudo muito. Bom, eu comecei a tocar piano com sete anos, ouço muito a música brasileira, a bossa nova. Desde pequena. Eu gosto muito do gênero e dos grandes compositores. Eu me preparo sempre, estudo canto, piano. Como qualquer profissional, a gente tem de estudar sempre. Mesmo achando que eu já estou em um nível bacana, todo dia eu tô ali no piano batalhando, tirando dúvida, tirando música, suando a mão com a técnica. Tem que ser assim.
O que o público pode esperar dessa sua parceria com o João Donato? Onde é que isso vai parar?
Não sei, não faço a menor ideia… (risos) A primeira vez em que encontrei o João foi no pré-lançamento do meu disco. Ele foi e eu fiquei toda boba. Pensei: “Ai, meu Deus, João Donato está aqui!”. Depois, ele me convidou para participar de um show. E aí foi indo – ele foi me convidando, eu dei uma canja num negócio dele, ele deu uma canja no meu show, a gente fez um show junto… E a gente tá indo, ele é um fofo, eu adoro ele. Espero que essa parceria renda ainda muitos frutos.
Na mesma entrevista com João Donato, falamos sobre as músicas dele em parceria com seu pai. “Gaiolas abertas” é uma delas. Como é a história dessa música?
Meu pai me explicou essa música quando falei pra ele que iria cantá-la [no show]. É engraçado… Quando ela fala: “Voa, voa, passarinha, voa / a gaiola está aberta”, ela fala da mulher, numa época em que as mulheres estavam se libertando, na década de 70, com pílula [anticoncepcional], amor livre, as mulheres se divorciando, e saindo de casa. Então é isso, que a mulher não precisa estar presa ao marido, ela trabalha. Eles fizeram essa música sobre isso mesmo…
Mas tem um toque familiar, não tem? Martinho da Vila, que já teve mulheres…
(risos) Não sei, não sei… Meu pai falou que é uma música sobre a mulher que tem que ser livre, que pode fazer o que ela bem entender, que trabalha e é independente. Foi uma época muito importante. Graças a essas mulheres que lutaram é que eu estou aqui, feliz, independente.
Então, já que estamos falando de mulheres, quais são as mulheres da sua vida na música?
Minha mãe… (risos) Ah, na música? Elis Regina, Maria Betânia, Nana Caymmi, Nina Simone, Ella Fitzgerald, Sarah Vaughan… Tem um monte de grandes cantoras de quem eu gosto muito. Eu ouço, misturo tudo e saio cantando, para ver o que é que dá.
O que você acha de uma chamada Adele?
Adoro! Adoro a música, adoro os discos dela. É ótimo.
Ela poderia fazer um show aqui no Brasil, não acha?
Nossa! Se ela viesse, eu estaria lá na primeira fila, pulando, gritando… (risos)
O que você pode deixar de mensagem para o público do Congresso em Foco, acostumado a tantas notícias sobre corrupção e demais desmandos – público que, aliás, vai poder ter uma noção de seu show aqui no site?
Que o eleitor fique de olho, sempre. É muito importante o eleitor acompanhar a política, acompanhar o que acontece. Ler jornal, ver em quem votou, o que essa pessoa está fazendo. E não prestar atenção à política só em ano de eleição, mas prestar atenção o tempo inteiro. As pessoas estão cada vez mais prestando atenção, tem cada vez mais denúncias, mais reportagens, a toda hora você vê alguma coisa saindo. E isso é bom – e é triste porque é sempre notícia ruim. Mas é importante as pessoas ficarem ligadas, e não sair votando em qualquer um. Não votar só porque [o candidato] é engraçado, só porque é bonitinho. Mas votar com consciência, porque você acredita nos ideais do candidato.
Meu voto é seu, Maíra…
(risos) Vote em mim, vote em mim!