Com a ajuda do Google, acabo de verificar que o dia era 15 de dezembro de 2005. Fácil chegar a ele porque naquela data foi entregue o Prêmio AMB de Jornalismo, concedido pela Associação dos Magistrados Brasileiros.
A caminho do salão onde a cerimônia seria realizada, avistei um veterano jornalista, que havia sido meu chefe na revista IstoÉ. Jantava sozinho, no restaurante do que à época se chamava Blue Tree Park Hotel, atual Royal Tulip. Ensimesmado, tinha a cabeça inclinada pra baixo e os olhos claros mergulhados em algum ponto inalcançável. No rosto, a expressão pensativa que eu conhecia de outros tempos. Aproximei-me e minha súbita aparição foi brindada com um sorriso largo e o convite para compartilhar o vinho tinto estacionado sobre a mesa.
Recusei, em razão do compromisso que me esperava, mas por poucos minutos trocamos algumas palavras. Soube ali que o meu ex-chefe vinha se reunindo com o então presidente da República, com quem havia estado até pouco antes, logo ao lado, no Palácio da Alvorada. “Mas isso é ab-so-lu-ta-men-te re-ser-va-do”, advertiu, torcendo as sobrancelhas pra cima e enchendo de gravidade cada sílaba, emitida em baiana cadência. Na conversa, meu interlocutor decretou: “Eles acham que Lula está morto, mas estão completamente errados”.
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Por alguma estranha razão, o veredito de João Santana batia com o que líderes no Congresso diziam, talvez não naquele exato momento, mas certamente bem antes de as pesquisas pré-eleitorais levarem os consultores políticos a rever seus prognósticos. Com apurada sensibilidade para captar a direção dos ventos, as lideranças mais poderosas do Parlamento souberam recompor as pontes com aquele mesmo Lula que tinham abandonado, no auge da crise do mensalão, a tempo de festejar sua reeleição como se jamais tivessem dele se distanciado. Vale lembrar pra quem esqueceu ou praqueles que estão chegando agora na conversa que Lula bateu Alckmin, no segundo turno, com mais de 60% dos votos.
PublicidadeFala-se agora no tucano João Doria, que estaria tornando Alckmin uma carta fora do baralho de 2018. E que Lula acompanhará a próxima campanha presidencial do interior de uma cela em Curitiba. Ou que a contaminação de todos os grandes partidos pela Lava Jato abrirá espaço para um “aventureiro”, deixando o Palácio do Planalto à mercê, quem sabe, dos arroubos temperamentais de Ciro Gomes (agora a bordo do PDT, depois de passar por Arena, PMDB, PSDB, Pros e PSB), ou do fascismo de Jair Bolsonaro e sua tropa de adoradores de mitos. Ou mesmo, para ficar nos exemplos mais recentes, de um showman como Luciano Huck ou Roberto Justus.
Em meio a tantas especulações, nada melhor do que associar o olhar dos parlamentares mais bem informados do país – que também ocupam posições de liderança no Congresso – às metodologias da ciência política e de modernas técnicas de pesquisa. É o que permite o Painel do Poder, ao adotar mecanismos científicos para captar as percepções dos principais líderes do Congresso Nacional.
O produto final do primeiro painel surpreende não apenas por apontar certo favoritismo para Alckmin e realçar a capacidade de resistência de Lula. Mas também por indicar que, ao menos até agora, as narinas bem treinadas dos políticos com maior poder de influência no Congresso não captaram odores capazes de desafiar a monótona prevalência da polarização PSDB x PT.
Naturalmente, num país em chamas como tem sido o Brasil desde os (até agora pouco compreendidos) protestos de 2013, tudo pode mudar no próximo levantamento, que o Congresso em Foco fará em maio. E, desta vez, num cenário em que o prestígio dos marqueteiros deu lugar à proeminência de juízes, advogados criminalistas e gerenciadores de crise.
Alckmin e Lula deverão polarizar disputa presidencial de 2018, prevê elite do Congresso
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