21 de janeiro de 2022 |
A ideia em um segundo Uma análise comparada do Brasil a países de referência desnuda o estágio ainda bastante precário de nossa condição econômica e social. O calor do momento na política e no debate público precisa da referência de longo prazo, do conhecimento das variáveis estruturais que moldam as condições de vida de seu povo e a possibilidade de um futuro melhor. A perda de oportunidades que nos aflige com frequência cobra inexoravelmente seu preço. |
A perspectiva analítica do Farol procura relacionar variáveis estruturais da sociedade brasileira com sua conjuntura. Neste mês de janeiro já tratamos das possíveis agendas políticas de reformas e também das características estruturais do nosso sistema político. Agora, damos continuidade a este diálogo estrutura-conjuntura ao trazermos dados, em perspectiva comparada, sobre desenvolvimento econômico, desemprego, educação e meio-ambiente. A fonte de informações são as extensas e valiosas bases do Banco Mundial.
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Desenvolvimento Econômico
O Produto Interno Bruto (PIB), o total de riquezas produzido pela economia, apesar das pertinentes críticas que tem recebido ao longo do tempo, continua a ser um indicador importante do nível de desenvolvimento econômico de um país. Mais precisamente, a medida da riqueza por pessoa mostra um aspecto importante do tamanho da economia, independentemente da forma de distribuição da riqueza – o que no caso brasileiro é bastante relevante.
O primeiro gráfico traz dados do PIB per capita para Alemanha, Argentina, Brasil, China, Chile e Estados Unidos. Temos então duas economias desenvolvidas – Alemanha e EUA – a economia referência em transformações e crescimento nos últimos anos – China – e dois parceiros latino-americanos com trajetórias de maior e menor sucesso nas últimas décadas – Chile e Argentina.
PublicidadeVê-se que os níveis de renda per capita nos EUA e Alemanha encontram-se drasticamente acima dos demais, algo como três a quatro vezes maior. Ao considerar apenas os quatro países com menor renda, constata-se que a China tem apresentado um crescimento explosivo nas últimas décadas, passando de uma renda média anual de cerca de US$ 4 mil em 2006 para mais de US$ 10 mil em 2020. Trata-se de uma mudança de patamar realizada em menos de uma geração.
Embora a economia chinesa seja atípica, importa realçar que o Brasil, durante o período de 2006 a 2020, não conseguiu diminuir a diferença de desenvolvimento econômico nem mesmo em relação aos seus vizinhos sul-americanos. Grosso modo, o Brasil oscila em torno de um patamar de US$ 8 mil de renda média enquanto Chile e Argentina flutuam em patamares 25% a 50% acima, a depender do país e ano de mensuração.
A má notícia é que o Brasil se encontra estagnado, tanto nos níveis absolutos de riqueza quanto na comparação com países de referência. Como apontamos recorrentemente neste Farol, as perdas de oportunidade são frequentes e cobram seu preço em atraso. Perdemos oportunidades de modificar legislação, políticas públicas e condições para o desenvolvimento.
Desemprego
O desemprego é uma variável mais volátil que o desenvolvimento econômico. Há evoluções estruturais derivadas de políticas de emprego e crescimento econômico, como também variações conjunturais.
O gráfico mostra que Alemanha, Estados Unidos e China, por diferentes razões que exigiriam espaço de discussão indisponível aqui, conseguiram caminhar, manter-se ou oscilar em taxas baixas de desemprego, como 4%. Já Brasil, Chile e Argentina mantiveram-se em patamares superiores.
O gráfico desnuda, contudo, um ponto importante. A partir de 2014, o Brasil mostrou crescimento mais intenso do desemprego. Tal evolução dá combustível à guerra de versões e responsabilidades entre os governos anteriores, que produziram a crise, e o governo Bolsonaro, que não atua para debelá-la.
Paixões colocadas de lado, vê-se que os governos Dilma, Temer e Bolsonaro tiveram resultados abaixo das expectativas para a criação de empregos. Caso consideremos a quantidade de desalentados – isto é, aqueles que desistiram de procurar emprego – e também a qualidade dos empregos oferecidos, ainda piora a avaliação do Brasil. A síntese é simples: estamos muito mal no quesito, gerando sofrimento e penúria permanente para grande parte da população.
Ensino e Escola
O Brasil conseguiu, a partir dos anos 1990, elevar a cobertura escolar no ensino fundamental – aquele até o nono ano escolar. O desafio do ensino médio, em que pesem as positivas iniciativas de mudança realizadas durante a gestão Mendonça Filho no governo Temer, ainda se agiganta.
O gráfico de Cobertura Escolar demonstra que o Brasil ainda se encontra bastante abaixo dos países da amostra (não há dados para a China nesta variável). O ensino médio brasileiro apresentou crescimento em seus números de 2006 a 2013, contudo estagnou desde então. Além do baixo nível de cobertura brasileiro em relação aos demais países, vale destacar a grande evolução da Argentina, que saiu de níveis também baixos e hoje tem cobertura superior a 90%.
De fato, podemos pensar na educação básica como diante de quatro desafios. O primeiro é a cobertura do ensino fundamental, que o Brasil superou ao atingir praticamente 96% da população na escola (dados de 2017). A cobertura do ensino médio, o segundo desafio, ainda não foi suplantado. Por fim, os desafios três e quatro, que são a qualidade do ensino tanto fundamental como secundário, ainda continuam a serem vencidos.
Educação é formação humana e capacidade para o trabalho. Torna-se praticamente clichê dizer o quanto é importante para a nação o engajamento nestes desafios, assim como é grave e aflitivo constatar que patinamos e perdemos totalmente o foco das questões importantes no governo Bolsonaro.
Meio Ambiente
Escolhemos trazer para a análise as emissões de CO2 per capita. Durante o governo Bolsonaro os incêndios no Pantanal, o aumento recorde no desmatamento amazônico, a desmobilização do Ibama e do Ministério do Meio Ambiente, assim como a péssima diplomacia ambiental são marcantes. Contudo, as emissões de CO2 iluminam uma variável estrutural do sistema econômico, sua eficiência ambiental ao produzir riqueza.
Uma primeira informação derivada do gráfico é que a produção de CO2 por pessoa acompanha o nível de desenvolvimento econômico dos países. EUA e Alemanha, mais ricos, produzem mais poluição por habitante. Chama atenção também a China, que para níveis de renda inferiores a Chile e Argentina produz bastante mais CO2 por habitante.
O Brasil, com a menor renda per capita no grupo, também é o que emite menos gases estufa na atmosfera na aferição per capita. Se tal desempenho deve-se em parte a nosso atraso econômico, em boa medida também deriva da importância de nossa geração de energia por fontes hídricas – um destaque mundial – e dá ao Brasil uma oportunidade grande de desenvolvimento com menor impacto ambiental.
O mundo todo hoje procura debelar suas emissões por meio de regulação mais estrita em processos industriais e outros que gerem gases estufa – como a indústria automobilística – e também, mais importante, pela implantação de fontes de energia não poluidoras, como a solar e a eólica principalmente. Assim, o Brasil, que está com níveis ainda baixos de emissão, pode avançar seu desenvolvimento econômico com uma matriz energética muito mais “limpa” que seus pares aqui analisados, o que exigirá foco no desenvolvimento de energias não poluidoras.
Em que pesem os vários e graves problemas ambientais acima mencionados, uma nova diretriz de desenvolvimento nacional pode se beneficiar em muito da nossa matriz energética ainda bastante “limpa”.
A ebulição das notícias diárias muitas vezes nos dá a impressão que decisões definidoras dos rumos do país acontecem a cada hora. Em verdade, o enfrentamento dos problemas estruturais de um país exige direcionamento permanente de ideias e um somatório de grandes e pequenas decisões, tanto do governo quanto da sociedade.
O quadro que emerge de uma análise comparada do Brasil em termos de desenvolvimento econômico, social e ambiental revela que temos ainda muito a evoluir para nos equipararmos a países mais evoluídos. Como temos apontado no Farol, a perda de oportunidades é, aqui, infelizmente uma constante. É preciso ter boas ideias, firmeza e constância em sua aplicação. Hoje o Brasil vive muito aquém do que poderia.
TERMÔMETRO
CHAPA QUENTE | GELADEIRA |
Na entrevista que deu ao que chamou de “sites independentes” (resta saber “independentes” de quem ou de quê), o candidato do PT à Presidência, Luiz Inácio Lula da Silva praticamente sacramentou que o ex-governador Geraldo Alckmin deverá ser o seu candidato a vice. De uma forma marota, bem ao estilo Lula. “O Alckmin saiu do PSDB e não se definiu para que partido ele vai – ele é um homem que não tem partido hoje. E eu não defini a minha candidatura – então não pode ter nem candidato nem vice”. Ora, se ninguém tem a essa altura dúvida quanto ao fato de que Lula será candidato à Presidência, deve ter dúvida, então, que Alckmin é o nome que Lula quer para ser seu vice? Como já dissemos neste Insider, se Alckmin será ou não o vice de Lula, isso só dependerá da vontade do próprio Lula. | Ao analisar os números das últimas pesquisas eleitorais – e foram recentemente publicadas três delas com uma pequena diferença de tempo –, o cientista político Alberto Carlos de Almeida avaliou que a corrida eleitoral segue num quadro “sólido como uma rocha”, quase enfadonho pela falta de variação, pela falta de novidade. Alberto Carlos aponta principalmente para as taxas de rejeição dos candidatos, acima de 60% para Jair Bolsonaro (PL) e Sergio Moro (Podemos), um pouco acima de 40% para Lula. Para Alberto Carlos, esse percentual alto de pessoas que dizem que não votariam em candidatos de jeito nenhum parece tornar difícil de mudar o quadro eleitoral. Por enquanto, não há o que indique o crescimento seja das chances de Bolsonaro seja do aparecimento da tal terceira via. |
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