Renata Abreu*
A polarização tem sido o grande problema do sistema político brasileiro. A dicotomia A x B, Esquerda x Direita, Nós contra Eles, com os dois lados renunciando ao debate político para se atacarem mutuamente com palavras desrespeitosas e ofensivas representa riscos à nossa democracia. Há décadas não há mais reflexões, apenas adjetivações. A corda está esgarçando e uma hora pode arrebentar.
A tensão que normalmente está presente nas torcidas de futebol passou para a política. Há uma guerra do falso bem contra o verdadeiro mal, em que um lado se enxerga como salvador da pátria e defensor da nação e vê o outro como vilão e golpista, e vice-versa. Ambos veem o antagonista como inimigo que precisa ser silenciado, considerando justificável quebrar as regras democráticas do país para abater o adversário.
A polarização odeia tudo que não é espelho. Só favorece líderes populistas, que têm pouco apreço às normas democráticas e às limitações de poder. E que vem iludindo a massa de brasileiros, que ruma, sem perceber, por caminhos opostos aos desejos das manifestações populares de 2013, mergulhando num radicalismo recheado de elementos de ódio.
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Felizmente a polarização tem antídoto. É o voto preferencial!
Vivemos muito tempo sob a liderança de governantes rejeitados pela maioria da população Se quisermos evitar escolhas entre candidatos altamente impopulares e radicais, como Lula e Bolsonaro, o voto ranqueado é o imunizante. E em dose única!
Nessa modalidade, o eleitor poderá escolher em ordem decrescente até cinco concorrentes a presidente, governador e prefeito. Será eleito quem obtiver a maioria absoluta das primeiras escolhas do eleitor, não sendo computados os votos em branco ou os nulos, como ocorre atualmente. Mas, se nenhum candidato atingir a maioria dos votos, descarta-se o menos votado e os votos dados a ele serão transferidos para a escolha seguinte do eleitor. O procedimento se repete até que algum candidato alcance a maioria absoluta. E sem a necessidade do segundo turno, tudo é feito num único dia de votação.
O eleitor não terá nenhuma dificuldade em ranquear seus preferidos. Fotos dos candidatos aparecerão na telinha da urna eletrônica (eleição presidencial de 2018 teve 13 concorrentes), bastando apertar os botões de 1 a 5 de seus preferidos.
O voto preferencial, utilizado em várias partes do mundo, é a modalidade de votação mais moderna, eficaz e menos suscetível às distorções impostas pela polarização. Além de obrigar as campanhas serem mais propositivas, já que a rejeição conta na eleição, elimina a prática do voto útil (o eleitor não terá seu voto desperdiçado ao optar por seu preferido). Ao permitir a transferência de voto entre candidatos similares, aumenta a chance de que a votação produza um vencedor que represente melhor a opinião pública.
* Renata Abreu é presidente nacional do Podemos, deputada federal por São Paulo e foi relatora da relatou PEC 125/11 sobre mudanças nas regras eleitorais
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