O artigo Zaptiqueta do escritor e roteirista genial Antonio Prata, publicado na Folha de S. Paulo, em 19 novembro de 2019, trouxe a necessidade de editar um Manual de Etiqueta do envio e recebimento de mensagens no WhatsApp e já precisa de uma versão 2.0, em quase oito meses de pandemia de covid-19, que obrigou geral a sair do casulo do escritório e trabalhar em casa.
Segundo Pesquisa Gestão de Pessoas na Crise covid-19, elaborada pela Fundação Instituto de Administração (FIA), publicada em julho deste ano, a estratégia do trabalho em casa foi adotada por 46% das empresas durante a crise na saúde pública. O estudo coletou dados de 139 empresas brasileiras em três níveis: pequenas, médias e grandes.
Recentemente, a Revista Você/SA divulgou outro estudo interessante sobre o impactos da pandemia nas empresas, na matéria “Covid-19: gestão de pessoas estratégica e transformadora faz a diferença“. A revista repercutiu o estudo da Mercer, consultoria que atua nas áreas de recursos humanos, previdência, saúde, benefícios e investimentos, que ouviu mais de 130 empresas e mostrou que a covid-19 se tornou a grande aceleradora das mudanças: 72% dos entrevistados dizem que o novo coronavirus foi a razão efetiva para adotar transformações na companhia e, para 40% dos executivos, as empresas foram altamente provocadas a adotar a transformação digital por conta da crise.
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Voltando ao estudo publicado pela FIA, 67% das companhias ouvidas relataram dificuldades em implantar o sistema de home office, e a familiaridade com as ferramentas de comunicação foi apontada como obstáculo por 34% das empresas, assim como o comportamento dos funcionários ao acessarem os ambientes virtuais (34%).
Mas, e agora? Em quase oito meses de trabalho em casa, o “novo normal”, clichê do momento, parece estar menos assustador e já demonstra que veio para ficar. E para fazer um pequeno comentário dessa nova fase marcada pelo uso expressivo das redes sociais na labuta diária, recorro-me ao velho bordão de um dos programas jornalísticos mais antigos da TV brasileira, o Globo Repórter, com o “Como vivem? Do que se alimentam?”, com a seguinte adaptação: como estamos nos comportando no WhatsApp no trabalho?
Para responder a essas perguntas, o mais indicado é voltar uma casa, digo, ao primeiro parágrafo deste artigo, retomando o gênio Antonio Prata (ah, o que uma solitária leitora-fã é capaz de fazer). Ele cita, dentre os conflitos provocados pela ferramenta de comunicação: mensagens de voz intermináveis, mas justificáveis, especialmente se o assunto for rápido; áudios longos, nada de gravar podcasts; a inclusão em diversos grupos de trabalho da firma, sem pedir a permissão no privado da vítima; os “oi” solitários, sem respostas etc. Ao final, o autor defende lindamente a urgente necessidade de editar o Manual de Etiqueta do app, desde que não se crie um grupo para isso. Bravo!
Após breve reflexão sobre o comportamento de usuários na ferramenta que, aliás, também se tornou minha grande aliada, especialmente quando se trabalha em um federação, com um chefe em cada canto deste país continental, tomo a liberdade de acrescentar alguns itens à lista do Prata: sair de grupo sem avisar e sumir da conversa, enviar textões, falar de alguém no grupo como se a pessoa não estivesse lá (oi?), deixar de responder ou finalizar as conversas (evite o ghosting), enviar mensagens para a mesma pessoa com o mesmo assunto em várias plataformas, mensagens de trabalho fora de hora e nos finais de semana, são alguns dos acréscimos.
Também procure não ficar ansioso(a) por resposta: se não tiver sido respondido em tempo real, acalme-se, sua hora vai chegar! Figurinhas? melhor evitar para relações profissionais ou assuntos formais. E, agora, a pior de todas: compartilhar prints de conversas, privadas ou em grupo, assim como mensagens de texto e áudio de terceiros. Esta última merece o cartão vermelho da etiqueta social. Um horror!
Assim, seguindo essas regrinhas de etiqueta básica de convívio virtual, quando a pandemia terminar estaremos vacinados contra a covid-19 e o uso irracional de WhatsApp. Assim esperamos.
*Francisca Azevedo é jornalista, assessora de imprensa, especialista em Gestão da Comunicação nas Organizações, já compartilhou print de conversas no WhatsApp, mas se arrepende.
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