Cada dia mais as eleições de 2022 se aproximam. Sem muitos horizontes, o leito será pautado principalmente por temas como emprego, fome e renda, resultado direto das condições atuais que o país se encontra. A consequência disso é uma inclinação natural as esquerdas, o que deve acontecer somente nas eleições presidenciais, mas também as legislativas.
Se por um lado, a preocupação do eleitorado é reflexo de um país fragilizado, por outro temos uma verdadeira fartura: nunca se gastará tanto em eleições como em 2022. O valor de R$ 5,7 bilhões para financiar campanhas em todo o Brasil nunca foi tão alto, e consegue proezas como ser maior que o orçamento do Itamaraty, da Anvisa e do Meio Ambiente. O aumento é simbólico: quando a renda brasileira é a menor nos últimos 10 anos, a verba para se fazer política só engorda.
Logo, podemos esperar que pautas como taxação de grandes fortunas, fim da reforma trabalhista e do teto de gastos acabem virando a moda do momento e sejam usadas como propostas pela esquerda para diminuir em imediato a pobreza. Só que existe um porém: Se a esquerda está realmente preocupada com a desigualdade social, pq não denuncia o excessivo gasto com o fundão eleitoral?
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Na votação que foi ao congresso dia 17/12/21, a esquerda pouco fez questão de fazer oposição ao fundo eleitoral; a orientação de partidos como o PT e PCdoB foi o voto favoravel, e assim seus representantes no parlamento fizeram. Fazendo justiça: a bancada do PSOL votou contra, tal como Tabata Amaral. Mas ainda assim, sustentam sua campanha com dinheiro público.
A situação consegue piorar quando vemos quais candidatos mais estão arrecadando para suas campanhas. Na plataforma do apoia, os primeiros colocados são candidatos de direita, sejam eles do MBL – como Kim Kataguiri, Renato Battista e Rubinho Nunes, ou do NOVO, como Fernando Holiday. Lideranças de esquerda simplesmente abdicam de fazer uma campanha 100% financiada por dinheiro privado, quando na verdade deveria ser exatamente o contrário: Não somente por causa do discurso onde denuncia desigualdades, mas também pelo recente histórico de empreiteiras financiando campanhas do PT com caixa 2.
Se realmente houvesse coerência entre o discurso e a prática, políticos de esquerda deveriam ser referência em campanhas 100% transparentes e privadas, porém, escolhem não somente o discurso hipócrita como também abandonam qualquer discurso ético e anticorrupção e escolhem se calar sobre as relações de natureza minimamente duvidosas entre o PT e empreiteiras para fazer caixa 2 em campanhas.
É preciso mudar esse entendimento de que não se é possivel criar uma cultura de financiamento licito e privado na política brasileira. O exemplo perfeito está em 2020 durante as eleições municipais: Arthur do Val tocou uma campanha para prefeito com fundos 100% privados e foi o líder de arrecadações na plataforma do “Apoia” levantando cerca de R$ 700 mil reais em doações para sua campanha para a prefeitura de São Paulo. Foram 500 mil votos, em uma campanha extremamente competitiva que acabou tendo o custo de voto mais barato entre os então candidatos ao Palacio do Anhangabaú. Muito além disso: Do Val passou longe de ser qualquer candidato, conseguindo o protagonismo no primeiro turno do leito, e pautando o debate público.
Em uma democracia, é normal um lado aprender com o outro, e chegou o momento em que a esquerda precisa fazer essa autocritica: se eles realmente querem resolver o problema da desigualdade no Brasil, devem começar pela raiz e renunciarem ao uso do fundo eleitoral.
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