A indicação de Eduardo Bolsonaro para a Embaixada do Brasil em Washington, nos Estados Unidos, é um equívoco completo, assim como a escolha do “prendedor de gravatas” utilizado recentemente na reunião realizada com o chanceler Ernesto Araújo para tratar do assunto. O adorno do “zero 03” roubou a cena por reproduzir um fuzil AK-47, ícone da indústria bélica russa…
A essa altura, uma discussão sobre o significado oculto de prendedores de gravatas é tão importante quanto falar da aptidão linguística do jovem Bolsonaro para o cargo mais importante da diplomacia brasileira no exterior.
Vídeos em que o deputado patina feio na língua inglesa ganharam a internet. Memes e piadas invadiram a rede, e o assunto virou piada, tornando-se um dos mais procurados no Google.
Imaginar que nosso representante em Washington terá que recorrer ao tradutor do Google para responder seus emails de trabalho é doloroso. Porém, convenhamos, o inglês impreciso do deputado Bolsonaro não é pior do que o português do pai, curto na forma, raso e equivocado no conteúdo, e abrupto na conclusão das sentenças. “Tá ok?”, “tem de ver isso aí…”
Aliás, exigir um bom inglês é um preciosismo para um governo que tolera um ministro da Educação que não se entende com acentos e regras gramaticais, entre tantos outros absurdos.
Leia também
Sem falar inglês, a propósito, e com um português sempre injusta e preconceituosamente questionado , o ex-presidente Lula conseguiu se fazer entender em todos os idiomas. Conquistou o respeito das potências e estendeu as mãos para alguns dos mais pobres países africanos. Pela primeira vez o Brasil dialogou com o mundo em pé de igualdade.
PublicidadePassou a ser relevante na ordem mundial.
Os resultados falam por si, e deixam saudade.
Definitivamente, então, essa não é uma discussão sobre domínio do idioma. Com alguma dedicação e esforço, Eduardo Bolsonaro poderá superar a dificuldade, assim como poderá aprender sobre geopolítica, disputas comerciais e sobre como desempenhar o ofício de diplomata. A verdade é que ninguém precisa de educação formal, ou de português padrão Machado de Assis (ou, no caso, de um inglês de Ernest Hemingway) para dar um bom presidente, ou um bom diplomata. Mas é indispensável pelo menos entender o valor da educação e o valor simbólico de suas escolhas.
O governo Bolsonaro tem uma capacidade única para reduzir temas da maior relevância às páginas de variedades. Só para não extrapolar a esfera dos assuntos diplomáticos, o governo poderia empregar seu tempo para explicar sua estratégia para o Itamaraty, que vem fechando embaixadas e representações sem qualquer justificativa.
Poderia, também, explicar que fim levou o projeto de mudar a embaixada de Israel para Jerusalém, ou poderia ainda tentar ser mais claro e objetivo em relação aos benefícios do acordo firmado recentemente entre o Mercosul e a União Européia. Pode ser pedir demais a um governo que precisa terrivelmente de polêmicas para compensar a falta de idéias.
Não há uma só razão para acreditarmos que o “zero 03” em Washington será a maior ou a última decisão completamente equivocada desse governo que mobiliza a atenção do público sempre pelas piores razões. Eis o sinal de alerta vermelho.
Enquanto se discute em público o inglês ruim do deputado Eduardo, longe dos holofotes seguem as discussões sobre a reforma tributária, as mudanças nos planos de saúde, na Previdência e nas leis trabalhistas, entre outros tantos assuntos seríssimos, com muito menos graça e com muito mais impactos.
Todo cuidado é pouco .
Em especial por estarmos, ainda, no início do mandato.
Voltemos, pois, aos temas que realmente importam e fazem diferença.
Eis o desafio!!!
* Marco Aurélio de Carvalho é advogado especializado em Direito Público e sócio-fundador do Grupo Prerrogativas e da Associação Brasileira de Juristas pela Democracia (ABJD).
>> Eduardo embaixador é rejeitado por dois terços dos brasileiros
>> Indicação de Bolsonaro é demérito para o Itamaraty, dizem diplomatas
Realmente, o ‘inglês’ do deputado não passa do básico, do iniciante. Ele não teria condições de participar de uma conversa um pouco mais complicada, nem para ler ou avaliar textos de tratados internacionais, etc. Seria um embaixador café com leite, office boy dos americanos.