Carlos Eduardo Bellini Borenstein*
Dois eventos ocorridos nos últimos dias têm potencial para mudar o clima da opinião pública no país. O primeiro deles foi o colapso do sistema de saúde pública de Manaus (AM). O segundo foi a vitória da narrativa do governador de São Paulo (SP), João Doria (PSDB), sobre o presidente Jair Bolsonaro no tema da vacinação contra a covid-19.
O ambiente de comoção verificado na sociedade com os tristes acontecimentos de Manaus explicitou os equívocos do governo federal na gestão da pandemia. Nas horas seguintes a tragédia de Manaus, paralelamente a mobilização da sociedade civil em favor da arrecadação de recursos para o envio de cilindros de oxigênio ao estado, foi possível perceber a consolidação de um sentimento anti-bolsonarista na opinião pública.
Antes, esse sentimento era muito concentrado nas “bolhas” do campo progressista. No entanto, desde a sexta-feira passada (15), a narrativa anti-bolsonarista “furou a folha”. Além da esquerda, lideranças do Partido Novo, do Movimento Brasil Livre (MBL), do Vem Pra Rua, entre outros – grupos que se consolidaram e militaram ativamente no impeachment da ex-presidente Dilma Rousseff (PT) – passaram a defender publicamente o impeachment do presidente e abraçaram a bandeira do “Fora Bolsonaro”.
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Ainda é preciso aguardar para sabermos se tal onda transbordará das redes sociais para as ruas, levando a uma mobilização maior em favor do impeachment de Bolsonaro. No entanto, há sinais que o colapso do sistema de saúde de Manaus consolidou em um segmento da sociedade um sentimento anti-bolsonarista militante.
Claro que o bolsonarismo é uma força social importante. No entanto, agora, o anti-bolsonarismo é uma realidade. Embora seja um sentimento difuso e careça de um líder, ele mostra capacidade de mobilização.
Tal sentimento ganhou ainda mais força a partir do último domingo (17), quando João Doria colheu os frutos da aposta que fez na Coronavac. Doria foi o grande protagonista após a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) autorizar o uso emergencial da vacina no país.
As imagens da primeira brasileira vacinada ao lado de Doria garantiram ao governador a nacionalização de uma agenda com potencial para provar um significativo abalo na imagem de Jair Bolsonaro.
A partir da tragédia de Manaus e com o início da imunização no país, o sentimento anti-bolsonarista ganhou tração nas redes sociais, um território que costumava ser dominado pelo bolsonarismo.
*Carlos Eduardo Bellini Borenstein é cientista político formado pela ULBRA-RS. Possui MBA em Marketing Político, Comunicação e Planejamento Estratégico de Campanhas Eleitorais pela Universidade Cândido Mendes.
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