Charles de Gaulle foi o lideras Forças Francesas Livres durante a Segunda Guerra Mundial e presidiu o Governo Provisório da República Francesa de 1944 a 1946, a fim de restabelecer a democracia na França que foi ocupada e dominada por forças nazistas.
A França ocupada pelos nazistas foi comandada pelo francês Philippe Pétain que atuou como chefe de estado da França de Vichy.
E é nesse contexto que falo um pouco mais sobre o pré-candidato Sergio Moro, que nos últimos dias buscou jactar-se de um pedestal que não lhe cabe já que foi extremamente colaboracionista com o governo Bolsonaro.
Moro, aquele sua esposa via como “uma coisa só” ao lado de Jair Bolsonaro.
E embora tenha saído do governo em atrito, Moro durante dois anos foi Ministro da Justiça do governo Bolsonaro e colecionou episódios polêmicos e controversos nesse período.
A começar pelo “perdão” à Onyx Lorenzoni. Ainda em 2018, durante uma coletiva em Curitiba, Moro mostrou que, às vezes, um crime pode ser superado apenas com um pedido de desculpas.
Quando questionado por um jornalista sobre como seria ser colega de trabalho de Onyx Lorenzoni, réu confesso em um caso de caixa 2, ele respondeu: “Ele já admitiu e pediu desculpas”.
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Já em novembro de 2019, Bolsonaro disse que “não estaria aqui” se Moro não cumprisse a missão dele, afirmando que o então Ministro da Justiça foi um dos seus principais fiadores em 2018.
Intimidação
Ele também já mobilizou a Polícia Federal ao menos duas vezes com clara finalidade de intimidação.
A primeira vez foi quando, durante as investigações das execuções da vereadora Marielle Franco e do motorista Anderson Gomes, pediu à Polícia Federal e à Procuradoria-Geral da República que investigassem o porteiro do condomínio onde mora Jair Bolsonaro após o depoimento que ele deu à Polícia Civil.
O porteiro havia alegado que o presidente teria liberado a entrada de um dos executores que naquele dia se encontrou com Ronnie Lessa, acusado de ser o autor dos disparos que mataram a vereadora do PSOL e vizinho de Bolsonaro. Depois disso o porteiro mudou a sua versão.
O ex-ministro mobilizou novamente a PF, em fevereiro de 2020, para apurar a conduta de quatro artistas de um coletivo de rock de Belém sob a suspeita de crime contra a honra de Bolsonaro e apologia do homicídio.
Adriano da Nóbrega
A atuação incisiva contra porteiros e punks contrastou, e muito, com a postura adotada pelo seu Ministério contra o miliciano Adriano da Nóbrega, chefe do Escritório do Crime, ligado a Flávio Bolsonaro e ao assassinato da vereadora Marielle.
Adriano, até então, foragido, não foi incluído na lista dos criminosos mais procurados do país.
Depois, no dia em que o miliciano Adriano da Nóbrega foi morto, Moro se manteve no mais absoluto e indecoroso silêncio. Decidiu falar sobre programas infantis do século passado.
Motim do Ceará
Durante o motim da Polícia Militar no Ceará, encapuzados roubaram viaturas, impuseram toque de recolher para a população local, ameaçaram a Constituição do país com suas próprias ações e tentaram assassinar um senador da República.
A descrição acima pode parecer de um grupo terrorista, mas, na verdade, são os policiais militares do estado do Ceará, que decidiram se comportar como milicianos cariocas. Na ocasião, Sergio Moro disse que essa gente não deveria ser tratada como criminosa.
Enquanto o motim ocorria, manifestações ao redor do país pediam o retorno do AI-5 e eram insufladas pelo próprio presidente e seus apoiadores, o ministro da Justiça decidiu aproveitar para passear de tanque pelas ruas de Brasília.
Pergunto: em que ano (e democracia) um ministro da justiça sai desfilando em tanques?
Cloroquina
E como se esquecer de quando Moro comemorou a compra de hidroxicloroquina feita pelo governo federal, um remédio sem qualquer eficácia contra a covid-19 e que na ocasião (abril de 2020), também tinha a sua eficácia questionada pelo meio científico.
O novo Jair
Eu meu artigo, “Moro 2018”, eu também mostrei que o ex-ministro faz questão de tomar para si todo o figurino que compôs o Jair Bolsonaro de 2018.
A imagem de alguém fora da política, implacável com a corrupção (exceto o caixa 2) e até mesmo o ar messiânico de que seria o alambrado entre a civilização e a barbárie (que ele mesmo patrocinou).
Um verdadeiro “nós contra eles” que tenta reacender o ódio da população contra a política, o mesmo ódio deixou o país nesse estado miserável.
Em um post recente para as redes sociais Moro disse:
“Não há nada mais admirável do que as pessoas que se opõem ao poder de governantes arbitrários. Há uma longa tradição de coragem que construiu nossas liberdades. Parabéns ao Almirante Barra Torres por defender a sua honra e o direito dos brasileiros de vacinarem seus filhos.”
Ao falar sobre a resposta do presidente da Anvisa à Jair Bolsonaro, Moro deixa implícito que o tweet é, também, uma espécie de auto deferência. A mesma que encontramos em seu livro diversas vezes, sempre ressaltando a sua saída conturbada depois de dois anos de complacência com o governo Bolsonaro e com o que há de pior nesse país.
E de maneira insistente e forçosa, sempre se colocando como a solução de uma polarização que não existe entre Bolsonaro e Lula (a de que seriam representantes da extrema direita e extrema esquerda, respectivamente).
Os militares
A mesma coisa para os militares, não demorou para que após a nota ríspida do presidente da Anvisa, surgissem colunas apaixonadas sobre o “descolamento” dos militares com Bolsonaro, uma delas possuí até mesmo o título:
“Após meses submersos, militares voltam à tona contra o negacionismo, a favor da verdade”
Se nossos militares fossem realmente contra o negacionismo, não teriam apoiado com unhas e dentes não apenas a nomeação, mas também a permanência do general Pazuello no Ministério da saúde, uma movimentação que só poderia ocorrer com a autorização da cúpula militar, já que o ex-ministro é um general da ativa ocupando um cargo civil.
Assim como as centenas de miliares da ativa que estão em cargos civis do governo federal.
Foi o então comandante das forças armadas, Eduardo Villas Bôas, que decidiu usar a sua conta no Twittter para ameaçar Ministros do Supremo Tribunal Federal.
Além disso, tivemos a complacência da cúpula militar com a farra do uso das patentes em campanhas eleitorais e nos nomes exibidos nas urnas, algo que fere a Lei nº 6.880/ 1980 (Estatuto dos Militares), artigo 28, parágrafo XVIII.
Muitos destes apoiando abertamente Jair Bolsonaro durante 2018. E o que falar da defesa indecorosa ao general Braga Neto e contra a sua convocação na CPI da covid?
Aos militares, não adianta alegarem surpresa ou desconhecimento, eles possuem um vasto arquivo e histórico sobre a desastrosa passagem do presidente nos seus tempos de capitão do exército brasileiro.
Apoiaram e ainda apoiam Jair Bolsonaro pois não querem perder a mamata dos salários fura-teto ou os mais de 5 mil cargos ocupados por eles.
E os acenos que fazem para Sergio Moro mostram que encontram no pré-candidato? São uma chance de manterem a farra, caso Moro saia vitorioso do pleito deste ano (o que é bem difícil).
Se os militares estão tão avessos aos rumos do governo de Jair Bolsonaro, por que não começam removendo as dezenas de militares da ativa dos cargos civis? Se são tão contra o negacionismo do presidente, por qual motivo mantiveram um silêncio indecoroso ao Eduardo Pazuello e ao descalabro em Manaus.
Se são tão legalistas, por que não param de se intrometerem na política? Por que não voltam para os quarteis e deixem que a sociedade civil cuide do que é sua responsabilidade?
Sofremos com um excesso de pessoas que acham que são Charles De Gaulle, mas na verdade são Phillipe Pétain e que querem enganar e ludibriar o eleitorado.
Não se esqueçam daqueles que fizeram parte do Brasil de Vichy!
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