Mauro Motoryn*
Tenho 76 anos, faço exercícios diários, jogo beach tennis quatro vezes por semana com pessoas que têm a metade da minha idade e, cá pra nós, muitas delas deveriam treinar mais para não passar vergonha.
Confesso que vivi, aprendi tudo que sei na escola pública, naquela época era referência. Hoje, estamos lutando para colocar educação como prioridade, mas temos de superar o atraso que esses últimos anos causaram.
Trabalho nove horas por dia como executivo em empresa de telefonia, sou conselheiro de empresas e acho curiosa essa coisa de que inovação só vem dos mais jovens. Talvez eu desminta a tese.
Aliás, desminto sim. Ganhei prêmio da ONU em plataformas digitais focadas em cidadania. Essa ONU é terrível, me premiou quando eu tinha 67 anos.
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Premiar pessoas mais velhas que trabalham com inovação não faz sentido, né? Que absurdo!!!
Ah, mais que isso, pratico cidadania desde jovem e na última campanha montei um grupo de trabalho para dar sugestões na área de longevidade, tema abandonado pelo governo anterior.
Sou militante desde a juventude e bem humorado faz muito tempo.
Meu exemplo é um péssimo exemplo, porque o brasileiro de média idade e baixa renda precisa ser reincluído com treinamento e oportunidades para novas funções, não é meu caso.
Precisamos que nossos jovens idosos sejam reciclados, precisamos que mantenham seus empregos ou que sejam preparados para novos desafios.
Educar é reeducar para a nova realidade que vivemos.
Sim, temos problemas com etarismo, teremos muito mais se um grito de alerta não for ecoado de maneira uníssona.
Temos que sair da bolha da classe média e perceber o Brasil como um todo. Vamos sair das bolhas em que vivemos!
Precisamos de emprego para a população que não teve acesso a todo ciclo educacional.
Precisamos de emprego para aqueles que se transformaram em empreendedores por necessidade.
Precisamos olhar para o Brasil.
Vamos trabalhar?
Como entender um país que não entende seus idosos.
Vamos olhar pra cima?
Quem já passou por muita coisa nesta vida e não aprendeu tem que ter oportunidades.
Lembro dos pontos de cultura de Gilberto Gil e Juca Ferreira e me pergunto: por que não criarmos os pontos de reeducação digital focados na população mais idosa? Por que não transformar esses pontos em espaços de treinamento para trabalhos que antes não existiam? Por que não incentivamos o cooperativismo, um passo além do empreendedorismo de subsistência. Por quê?
Outro incômodo meu é com as empresas grandes e médias e seus projetos de precarização. Elas preferem um jovem sem preparo a um profissional de meia idade que custa mais caro. Pesquisas indicam que mais da metade dos RH pensam e agem assim. Triste, não?
Será que RH não pensa no tio, no pai? Em nome de seus pais, poderiam buscar novas alternativas, né?
Será que nunca pensaram em treinar um profissional mais velho para nova tarefa? Educar, reeducar, treinar e retreinar. Esse é o único caminho para colocar em convivência harmônica várias gerações trabalhando juntas na mesma empresa.
Sou contra incentivo fiscal ou renúncia fiscal para manter pessoas longevas nos postos de trabalho, sou a favor de multas que penalizem aquelas atitudes sem sentido de reengenharia das empresas, atitudes que cortam os mais velhos. Isso se chama turnaround maquiavélico.
Campanhas apoiando direitos sociais proliferam, mas na prática a teoria é outra. Usufruem do marketing e pecam na origem: idosos não fazem parte da realidade empresarial.
Idosos não deveriam ser invisíveis.
Acompanho todas as matérias sobre o tema, participo de inúmeros grupos que buscam solução para os idosos, conclamo todos a falarem fora da bolha: é hora de ocuparmos os espaços de forma mais definitiva; de falarmos aos jovens; escutá-los, nos entendermos.
Precisamos muito que nos escutem: somos as exceções de hoje e a regra do amanhã.
Somos uma parcela expressiva e cada vez maior da população e precisamos perder a vergonha, vamos cobrar compromissos dos setores público e privado.
Um capítulo especial para o poder público: não somos somente um estorvo, somos um caminho para políticas públicas que vão alem da saúde e das aposentadorias. Temos direitos, deveres e necessidades.
Queremos cultura do cuidado, atenção à saúde, proteção, trabalho, previdência e segurança, participação social, educação continuada e combate à discriminação.
Isso basta? Claro que não!!!!
Hoje é o Dia Internacional do Idoso, vai passar. Amanhã todas as lembranças e homenagens serão esquecidas.
Somos sustentáculo da economia não somente no Sul maravilha. Somos, com nossas aposentadorias e o beneficio continuado, importantes nas economias do Norte e Nordeste.
Nossa participação na economia é representativa, mas o retorno social e político não é. Curioso é que idoso vota. Um dia vamos nos juntar e cobrar. Mas já vale o alerta: políticos, olhem pra urna!!!
Tenho acompanhado todas as experiências focados no idoso de classe média, muito
interessantes.
Economia prateada, projetos focados no consumo de uma classe privilegiada.. ai, meu Deus!!!
Mas se pensarmos na mulher, na diversidade, na inclusão, percebemos somente o poder público atuando, está na hora do MEXA-SE na iniciativa privada.
Mas precisamos também do MEXA-SE no Congresso, do MEXA-SE no Poder Executivo.
Políticos e políticas públicas também envelhecem, é hora de objetividade.
Idade não define ninguém, é hora de valorizar o idoso. Há tantos por aí comandando países, cantando nossas músicas favoritas, fazendo arte. Que tal aproveitarmos o talento dos idosos também no mercado de trabalho?
Idoso sonha, acredita, produz, trabalha. Não somos uma paisagem. Em um país como o nosso, que precisa tanto de conhecimento para crescer, podemos sim ser protagonistas de muitas ações.
Enfim, tem tanta coisa pra ser feita que posso até pedir para que os jovens envelheçam, vamos deixar tudo preparado para eles. E, parafraseando Vinícius:
Que eu possa dizer da vida (que tenho)
Que não seja imortal, posto que é chama,
Mas que seja infinita enquanto dure.
* Publicitário, Mauro Motoryn participa de conselhos nas áreas de telefonia e comunicação, além de atuar em organizações sociais focadas em longevidade.
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