Giovanni Mockus*
Um dos argumentos dos que não entendem o impeachment de Bolsonaro como um caminho viável para a recuperação do país, é de que o processo de afastamento do chefe do Poder Executivo causaria uma grande instabilidade para o Brasil. A exemplo dos processos que afastaram Collor e Dilma, os dias seguintes seriam enraizados de dúvidas, rearranjos e mudanças na estrutura política da União, com reflexos diretos em Estados e municípios.
Por outro lado, mais da metade da população, de acordo com pesquisas recentes, vê o impeachment de Bolsonaro justamente como o primeiro passo para que o país comece a se recuperar das crises hoje já instaladas, como a econômica, social, ambiental, sanitária e política. Essas sim trazem instabilidade, não só para o momento presente, mas também para o futuro da Nação.
Com ou sem impeachment, o Brasil já vive uma grave instabilidade, com consequências desastrosas para o hoje e o amanhã. A questão, nesse simples dualismo – que nem deveria ser uma questão – é entendermos qual instabilidade nos daria a base para avançar rumo a recuperação do Brasil. Em um cenário de inflação de 10,25%, 14,8 milhões de desempregados, 600 mil mortes por Covid-19 e 437 mil empresas fechadas, me parece que a “escolha da instabilidade”, se assim quiserem colocar, não é “uma escolha muito difícil”.
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Como manter no poder um presidente que já cruzou todos os limites traçados pela Constituição Federal e pelas instituições da República? Que precisa renegociar sua base no Congresso Nacional a cada votação? Como aceitar a crise artificial gerada por Bolsonaro, diante dos verdadeiros desafios que o Brasil enfrenta? É justo impor aos brasileiros continuar sendo governados por um presidente que zomba dos mais de meio milhão de mortos pela Covid-19 e que não mede esforços para ‘blindar’ sua própria família dos escândalos de corrupção?
Não há como negar que Bolsonaro não representa a grande maioria da população e os brasileiros, como um todo, vêm pagando caro pela inconsequência de seus atos. Também é latente o isolamento político de Bolsonaro, que vive em constante rota de colisão com o Supremo Tribunal Federal e com o Congresso Nacional. No Senado Federal, em especial, a CPI da Covid evidencia, a cada dia, mais elementos jurídicos que provam os crimes cometidos por Bolsonaro. Muito provavelmente os processos chegarão no Tribunal Penal Internacional, em Haia.
O derretimento institucional, político e pessoal de Bolsonaro já tem reflexo nas ruas, elemento fundamental para um processo de afastamento. Os inúmeros atos públicos contra o governo vêm ganhando as ruas das principais cidades do país e é cada vez maior a presença de ex-aliados do Planalto. A cada manifestação, faixas denunciando os crimes cometidos por Bolsonaro têm crescido na multidão, sendo respaldadas pelos pareceres dos mais renomados juristas.
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