Carlos Fávaro*
Um dos maiores ativos do nosso planeta – senão o maior – é, sem dúvida nenhuma, a água. Embora tenhamos o líquido em mais de 70% da nossa superfície, a água doce equivale a apenas 2,5% e o panorama atual significa que em pouco tempo o percentual cairá com a morte de importantes rios. A boa notícia é que, com dedicação e um trabalho sério, é possível reverter esta situação e assegurar a continuidade da vida para esta e para as próximas gerações.
Neste momento, vivemos uma situação preocupante no Brasil com uma nova crise hídrica, a exemplo do que vivemos no início deste século. Quem passou por isso lembra bem todos os transtornos gerados, seja na produção de alimentos, no uso de água e, principalmente, no aumento do custo e no racionamento da energia elétrica.
Paralelo a este problema, temos uma excelente oportunidade de não vivenciarmos, nos próximos anos, esta situação tão dramática, que aflige principalmente os mais pobres, já que o sinônimo do racionamento é o aumento no custo, tanto da tarifa da energia elétrica quanto nos alimentos. A capitalização da Eletrobras é muito importante para o desenvolvimento do nosso sistema de geração e distribuição de energia por todo o país.
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O ponto central desta situação é justamente o destino que o Governo Federal dará aos recursos que serão obtidos com esta capitalização. Não podemos permitir o retrocesso, o investimento deste dinheiro em usinas termoelétricas, a gás, um combustível fóssil, poluente e finito.
Precisamos fazer justamente o contrário. Investir em água, por meio da recuperação de nascentes de rios, de Áreas de Preservação Permanente, e das matas ciliares. Investir desta forma é assegurar que teremos o maior ativo do mundo, água, para produzir alimentos, para gerar energia, para assegurar a navegação, para termos vida. Por isso, eu acredito que com a capitalização da Eletrobras deva ser criado um Programa de Recuperação dos Rios Brasileiros.
Um exemplo de como isso é possível está no Brasil. Desde 2003, a Itaipu Binacional, líder mundial em geração de energia limpa, criou o programa Cultivando Água Boa. O projeto já despoluiu mais de 100 microbacias hidrográficas do rio Paraná, mais de mil quilômetros de mata foram replantados e houve melhoras na rede de esgoto de quase 30 municípios. O resultado disso é o aumento no volume de água e a melhora da qualidade do líquido, uma demonstração clara de que o caminho para mudarmos nossa realidade já existe. Embora o projeto tenha sido descontinuado em 2017, a metodologia e os conceitos são aplicados até hoje.
Recuperar nossa capacidade de absorver água doce e limpa significa muito para a população. Significa podermos recuperar por completo nossa capacidade de navegação no Rio Paraguai, que padece de períodos, cada vez mais longos, de seca. Significa reverter a situação do Rio Araguaia, tão importante para nosso cerrado, que hoje caminha para sua extinção. Significa darmos exemplo ao mundo de que somos um país que produz e que preserva. Significa, acima de tudo, garantirmos vida, e vida em abundância, para as próximas gerações.
Não existe algo mais precioso do que água, água em abundância, para produzir alimentos, para gerar energia, para navegar os rios, água para a vida.
*Carlos Fávaro é senador pelo PSD de Mato Grosso.
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