A análise da ida de Jair Messias Bolsonaro, sem partido e presidente da República, para o Partido Liberal – PL (antigo PR) perpassa, necessariamente, pelo entendimento de que o PL é um partido tipicamente fisiológico. O PL não possui um histórico ideológico significativo. Os acordos para a filiação de Bolsonaro, dos filhos e do seu grupo político estão baseados na manutenção de poder e na disputa por espaço político.
O histórico do PL é importante ao identificarmos que nos últimos governos o partido foi peça estratégica na composição do que entendemos como Centrão. O partido de Valdemar Costa Neto, ex-deputado federal condenado no Mensalão e investigado na Lava Jato, esteve em negociações estruturais nos governos de Lula, Dilma e Temer. Podemos recordar do Partido da República, hoje PL, negociando cargos durante o período de tramitação do impeachment de Dilma Rousseff.
Em todos os casos, o partido “pulou do barco” quando não houve perspectiva de ganho satisfatório. Não será diferente com Bolsonaro. Os objetivos de Valdemar Costa Neto, como líder do PL, são a manutenção das estruturas de poder que hoje mantém sob a sua alçada e o crescimento da bancada parlamentar em 2022. Atualmente com a terceira maior bancada, o PL objetiva eleger 70 deputados federais.
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Ao avaliarmos o casamento entre o PL e Bolsonaro, cabe olhar com cautela o histórico político do presidente da República. Enganam-se os que acreditam fielmente na bandeira ideológica de Bolsonaro. Como presidente, governou sem partido e quando deputado mudava de filiação conforme interesses. Proferindo sempre posicionamentos conservadores, o seu histórico na Câmara dos Deputados demonstra que o seu perfil sempre foi de um deputado do Centrão. Dançou conforme a música, navegou conforme a maré e geriu a sua carreira fazendo o mínimo. A guinada ideológica foi feita de maneira estratégica para fincar o discurso antissistema. O namoro com o PL, de certa maneira, o faz retomar as origens, após a tentativa frustrante de criação do Aliança pelo Brasil, que não vingou por falta de apoio político.
O PL oferece a Bolsonaro uma estrutura partidária interessante para a sua candidatura a reeleição. Com a terceira maior bancada da Câmara dos Deputados, o partido possui parte satisfatória do fundo eleitoral e de tempo de TV. A capilaridade do PL também é atraente para Bolsonaro: o resultado do partido nas urnas em 2020 foi de 345 prefeitos, o que pode ser transferido em apoios e palanques em 2022. Segundo o jornal O Globo, uma das exigências do presidente da República foi o poder de indicar o candidato ao Senado nas chapas que o PL compuser nos estados.
Mas nem tudo são flores. Para Bolsonaro, há um custo significativo em se filiar ao PL. Ir para esse partido enfraquece (ou até mesmo enterra) o discurso “antissistema” e “antipolítico” que o elegeu em 2018. O famoso bordão “tem que acabar com isso aí!” não fará mais sentido, como nunca fez, visto sua trajetória e composição governamental. O PL associará de vez a imagem de Bolsonaro a figurões políticos conhecidos também das páginas policiais, como o próprio presidente do partido, Valdemar da Costa Neto.
Como exposto, o PL busca o aumento da sua bancada. A filiação de Bolsonaro pode turbinar o partido antes mesmo das eleições de 2022, com a possibilidade da ida de deputados federais bolsonaristas que estão sem partido ou ainda no PSL. Para um partido classicamente fisiológico, quanto maior a bancada, mais acesso aos recursos dos fundos eleitoral e partidário. A mesma lógica ocorre para os cargos no Poder Executivo.
No entanto, o custo Bolsonaro é alto. Com a crescente desaprovação do governo nas pesquisas de opinião, o questionamento sobre a reeleição aumenta proporcionalmente. O PL não correrá riscos se, pelo menos, não tiver certeza de que Bolsonaro estará no segundo turno em 2022. Também é de conhecimento que a ida de Bolsonaro não é unânime nos diretórios estaduais do partido.
O recente recuo em uma negociação, que segundo o próprio Bolsonaro estaria em 99,9% de certeza, causou estranhamento no cenário político. Apesar do pronunciamento do PL de que Valdemar da Costa Neto teria total liberdade e autonomia para negociar com Bolsonaro, o namoro está em crise e pode nem mesmo vingar. Bolsonaro não tem o mesmo peso político que tinha alguns meses atrás. O PL não entra em barco furado. O partido de Valdemar não entra para perder e estará em qualquer governo que será eleito em 2022.
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