Maria Clara Cabral *
Recentemente, jovens ativistas da causa ambiental chamaram atenção do mundo ao “atacar” obras icônicas, como a Monalisa, de Da Vinci, e a Primavera, de Monet. Essas manifestações levantaram questionamentos sobre até onde o protesto é válido.
Vivemos em uma época em que crianças e jovens estão mais conscientes dos problemas que envolvem questões macro, como o aquecimento global, o racismo e a inclusão. A velocidade da disseminação da informação faz com que eles tenham acesso a dados que nós, adultos, e nossos pais não tinham na idade deles, muito menos na mesma velocidade, quase que em tempo real.
De forma positiva, as redes sociais possibilitam a troca de vivências com pares ao redor do mundo. Faz com que tenhamos contato com pessoas que talvez nunca teríamos, se não fosse por esses meios.
Paralelamente, as redes também fizeram chegar rapidamente aos olhos de jovens dos seis continentes o vídeo das pessoas que jogaram sopa no quadro mais famoso do mundo e mostraram que o imediatismo pode valer a pena para chamar a atenção para uma causa. Será, no entanto, que aquele jovem influenciado pelo que vê nas redes sociais acha que a questão foi encerrada ali, com o vídeo viralizado? Será que ele consegue alcançar a informação que é passada naquele ato para além da “ponta do iceberg” que este vídeo representa? Ao apenas consumir/ver o vídeo e se informar pelas redes socias a respeito, ele teria capacidade de entender a fundo (e acompanhar) a gravidade do problema anunciado com o ato? Convido o leitor a estas reflexões.
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Acredito que os cidadãos que, de fato, irão impactar o planeta com a busca de boas causas são aqueles que vêm motivados a conhecer as diferentes visões de mundo para além da bolha que as redes sociais impõem. As redes sociais são importante ferramenta, mas não tiram a profunda e necessária relevância de se conhecer de perto os problemas de sua comunidade e também de outras semelhantes. Ter a possibilidade de ouvir o contraditório, de ser estimulado a usar a criatividade, se expressar de maneira apropriada, organizar seus pensamentos críticos e, por que não, a ser protagonista?
PublicidadeInúmeros ativistas são conhecidos por sua atuação desde jovens, militando em sua comunidade – felizmente, os conhecemos também pela ajuda da internet. Malala Yousafzai, paquistanesa que desde os 13 anos atua em favor da educação de meninas, tendo recebido o Prêmio Nobel da Paz aos 17 anos, e o brasileiro Felipe Caetano, ativista que, desde seus 15, combate o trabalho infantil do qual foi vítima, dos 8 aos 14 anos. Jovens que trouxeram visibilidade para essas causas pela atuação e protagonismo em seus respectivos países. E, em seguida, no mundo todo.
Sim, a internet e as redes sociais são importantes nesse contexto. Mas antes delas, é com informação precisa que se consegue o aprofundamento do entendimento de realidades. E informação precisa vem por meio da investigação, da apuração, de muita pesquisa. Me refiro ao jornalismo e aos jornalistas que dedicam seu tempo para mergulhar em assuntos complexos e urgentes como a fome no mundo, as guerras, a violência contra minorias e por aí vai. O jornalismo é um grande aliado de uma sociedade que quer evoluir e de pessoas que querem evoluir. Assim, é com a ajuda de notícias e, como consequência, com o pensamento crítico, que jovens como Malala e Felipe Caetano têm ampla noção de uma realidade que deve ser combatida.
Acredito que crianças e jovens que consomem jornalismo têm maiores condições de engajamento em questões que lhe são caras. Veículos jornalísticos mostram problemas reais, estimulam a empatia e o protagonismo. Podem ajudar a criança e o jovem a diferenciar o que é exagerado, fake, combater a desinformação e tirá-los de suas bolhas. Ou seja, o jornalismo é um grande aliado do jovem que quer escolher seu caminho e definir por quais causas lutar e se realmente elas valem a pena. Do jovem que quer dar sua opinião e ser ouvido. Essa é a idade em que o senso crítico ainda está em formação e o estímulo que ele recebe nessa fase pode impactar muito sua vida adulta.
* Maria Clara Cabral é jornalista, pós-graduada em Comunicação Integrada e Marketing e fundadora da revista Qualé.
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