Falta água no Nordeste, na Índia, na Europa… O mundo agora está em constante desequilíbrio ambiental. É hora de mudar os nossos hábitos. Mas, para o Brasil, sem deter o desmatamento e queimadas na Amazônia, a tendência é que teremos dias piores.
As manchetes dos jornais nas últimas semanas reforçam a sensação de que estamos próximos de um cenário apocalíptico. Os sinais estão por toda a parte: seca na Europa, calor de 50ºC na Índia, chuvas torrenciais em alguns estados, enquanto o semi-árido nordestino continua sob forte seca, que aflige ainda o Sul.
Tudo isso é resultado do aquecimento global e os graves desequilíbrios causados pela emissão indiscriminada de gases de efeito estufa na atmosfera. Estamos diante de uma encruzilhada histórica que definirá o futuro da humanidade. Precisamos mudar hábitos de consumo e começar a dar mais atenção aos sinais de que o desmatamento na Amazônia vai nos deixar em apuros.
A questão da água é só apenas um exemplo do tamanho do desafio que temos pela frente. O Relatório Mundial das Nações Unidas sobre Desenvolvimento dos Recursos Hídricos de 2021 traz um quadro assustador. O mundo está sob os efeitos de um “estresse hídrico”. É uma referência clara à variabilidade sazonal da disponibilidade de água no mundo. Tal fenômeno atinge aproximadamente 4 bilhões de pessoas. Este é o tamanho do contingente de seres humanos que não têm fornecimento de água em condições seguras pelo menos em um mês a cada ano.
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Mas outros mostram uma situação ainda mais assustadora. Cerca de 1,6 bilhão de pessoas estão sujeitas ao estresse hídrico econômico. Isso significa que existe água disponível, mas não se tem infraestrutura necessária para o acesso a todos. E nada menos que 30% dos maiores sistemas de água subterrânea no planeta estão se esgotando, sendo a agricultura a principal fonte desse pela escassez. Por fim, um outro dado preocupante: 1% da capacidade de armazenamento dos reservatórios está sendo perdida por ano, reduzindo a segurança hídrica nas 400 maiores bacias hidrográficas do planeta, situadas na África, Austrália, China, Espanha, EUA e Índia. O custo anual estimado dessa perda é de aproximadamente US$ 13 bilhões.
No Brasil, o quadro também é preocupante, apesar de sermos a Nação que detém 12% da disponibilidade de água potável do mundo, distribuída em 12 regiões hidrográficas. Em nosso território, escoam aproximadamente 255 mil m3/s de água, sendo que aproximadamente 80% estão na Amazônia, que concentra apenas 5% da população do país. Os outros 20% estão alocados pelo resto do país, que concentra 95% dos brasileiros. E, embora 63 mil m3/s de água da bacia amazônica e 13 mil m3/s das demais bacias estejam disponíveis em mais de 95% dos dias, há regiões onde os rios secam na estiagem.
Outro dado a ser ressaltado é que o consumo de água vem crescendo. Projeta-se, para 2030, um aumento de 23% na retirada desses recursos. O chamado “estresse hídrico” é hoje mais pronunciado na região Sudeste, onde a água é utilizada para o abastecimento público, irrigação e indústria, mas também no Sul, devido ao alto consumo das águas pelas plantações de arroz. Nos últimos 20 anos, 49% dos municípios brasileiros — especialmente no Nordeste, Sudeste e Sul — decretaram “situação de emergência” ou estado de calamidade pública devido às cheias, pelo menos uma vez, entre 2003 e 2019. Mas nada menos que 51% das nossas cidades passaram por situação crítica na estiagem — a seca que nos aflige no Nordeste.
Como se não bastasse isso tudo que descrevemos acima, ainda há o fenômeno da eutrofização. O nome complicado significa o aumento da concentração de nutrientes num ecossistema aquático e ocorre quando um corpo de água recebe grande quantidade de efluentes com matéria orgânica enriquecida com minerais e nutrientes que induzem o crescimento excessivo de algas e plantas aquáticas. Isso é um fenômeno que vemos nos grandes centros urbanos, como São Paulo, Rio de Janeiro e outras capitais.
Faltam chuvas no país. Elas vêm ocorrendo cada vez menos em algumas regiões. No Sul, Sudeste e Centro-Oeste, os índices pluviométricos estão em queda há 20 anos. E este fenômeno é consequência direta do aquecimento global. Com a maior emissão de gases poluentes como o CO2, a atmosfera está se aquecendo, aumentando a frequência de fenômenos extremos: secas e temporais. A escassez das chuvas, que em 2001 produziram os apagões no país e impôs racionamentos de energia, tornou-se constante a partir de 2012. Quando as chuvas caem, é de maneira irregular e na forma de temporais violentos. Aqui no Brasil, a falta de chuvas está inserida no quadro do aquecimento, em que a devastação da Amazônia tem triste papel de destaque. E, infelizmente, tais fenômenos tendem a se agravar com o aumento constante das queimadas e do desmatamento, incentivadas pelo atual governo.
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