Há três anos o Brasil convive com um presidente entupido, e por isso alvo de todo tipo de gozação pelas redes sociais. Vez por outra o conteúdo do entupimento vaza e é um deus-nos-acuda. Uma das principais substâncias expelidas é a mentira. Um levantamento do site 247 revelou que no ano passado Bolsonaro expeliu pelo menos 7 mentiras por dia. Um fedor danado! Mas os excrementos precisam mesmo sair, nem que seja pela boca de cima, já que a saída de baixo anda obstruída, não é?
Talvez por isso, Bolsonaro, mesmo de alta, continuou sendo alvo de centenas de gozações. Porque a saída de baixo entupiu de novo e tiveram de introduzir um troço lá pra liberar o ânus presidencial. Afinal, desde que não seja sobre a cabeça de ninguém, defecar é um direito básico da cidadania. O filho Flávio acusou usuários de redes sociais de desejarem a morte do pai. Não é verdade. O que se deseja mesmo é que ele esteja vivo pra pegar uma cana boa e demorada pra pagar pelas tantas maldades que vem cometendo contra a vida do povo. Sem falar que Flávio exagera. Lá do mundo paralelo onde mora, não percebe a fantástica capacidade do povo brasileiro para produzir piadas maravilhosas sobre figuras públicas. É um hábito nosso, que vem lá do Império. Dom Pedro foi tema predileto de diversos chargistas da época. Nunca mandou prender nenhum, ao contrário, há informações de que se divertia ao dar com as gozações nos jornais. Mais recentemente, o ex-ministro Delfim Neto era espicaçado dia sim e outro também pelos chargistas. Nunca reclamou nem perseguiu nenhum. Ao contrário, dizem que colecionava as charges. E olha que era tempo de ditadura. Ou de monarquia, no caso de Dom Pedro.
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Ora, se o mal do presidente se situa justamente lá no rabiote dele, na expressão de Millôr Fernandes, abre-se o flanco (putz!) para a produção de gozações de toda ordem, muitas delas dando solenemente as costas (putz! putz!) ao politicamente correto. É incrível a competência do brasileiro para criar, dar forma gráfica e distribuir sem requerer direito de autoria, gozações variadas e em tempo recorde!
Tive acesso a pelo menos umas vinte postagens desse tipo. Como sobredito, muitas desrespeitaram os limites do politicamente correto. Mas, pudera. O tema praticamente impede uma abordagem educada e elegante. Facilmente a gozação descamba para um nível abaixo do pré-sal.
Entre as mais suaves, há um post político dizendo: “Se camarão causou internação de Bolsonaro, imagina lula, diz especialista”. Outras já desabam para a linguagem chula, como uma que dizia, antes da alta: “Estava ca..ndo e and..ndo para as enchentes na Bahia e agora nem cag.. nem and..: macumba baiana é fogo”. E esta outra: “Vamos fazer uma campanha para destrancarem o Bolsonaro. De c… trancado ele não tem como fazer m… Assim perde a graça”. Este mesmo post recebeu um comentário: “Com o c… trancado, ele está cada vez mais cheio de si”. Noutro, em torno de um paciente, médicos e enfermeiros comentam: “Quanto cocô, que intestino podre! – Doutor, este é o cérebro, corrige um auxiliar da cirurgia. Diante de várias fotos de Bolsonaro dançando funk e andando de jet ski, e de outra foto, maior, onde ele aparece no leito do hospital, vem a legenda: “Fim de semana X Primeiro dia útil”. Outro post usou a mesma foto de Bolsonaro internado com a legenda: “O povo brasileiro está orando de joelhos pra essa m… sair”.
E vai por aí. O que essa enxurrada de gozações revela, no fundo (sem trocadilhos) é que em toda a história republicana, e um pouco até mesmo no período imperial, nenhum chefe de estado brasileiro mereceu tantas merecidas críticas, numa espécie de revide popular ao pouco caso com que ele e sua equipe tratam as vidas das pessoas e seus direitos mais básicos. Haja vista o número de mortos na pandemia pela negligência e obstrução (de novo, sem trocadilhos) na aquisição de vacinas. Fora os atos de racismo, homofobia e misoginia. Faz parte da índole do brasileiro suspender as críticas quando o alvo se torna vulnerável por estar acometido de alguma doença. No caso de Bolsonaro, não. As críticas e gozações se multiplicam. O que prova que ele apenas anda colhendo o que vem plantando.
Mas, como também é da índole do brasileiro uma enorme complacência com os enfermos – como ocorreu com ele próprio quando recebeu aquela facada que o catapultou à presidência da república – é preciso atenção para que se evite que, durante a campanha eleitoral, ele apele para um expediente semelhante, aparentando alguma doença para emocionar outra vez o eleitorado e angariar simpatias que possam lhe garantir a reeleição. Nosso povo é gozador mas é essencialmente emotivo. Pra se compadecer e cair de novo na mesma esparrela é fácil, muito fácil.
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