Isso mesmo, se Jair Bolsonaro for à CPI das Vacinas, como chegou a requerer há alguns meses o vice-presidente da Comissão, senador Randolfe Rodrigues, (Rede-AP), ele sairá de lá preso. Por muito menos, o senador Omar Aziz, presidente da CPI, deu voz de prisão ao ex-diretor do Departamento de Logística do Ministério da Saúde Roberto Dias, por ter mentido durante seu depoimento.
Bolsonaro não apenas mentiu, mente e continua mentindo como tem uma verdadeira folha corrida de delitos que justificariam plenamente sua prisão. Algo que, nessa altura do campeonato, tem potencial bélico mais do que suficiente para sua condenação por um conjunto de crimes que vão desde a mentira à prevaricação, passando pela incúria e pela omissão que levou o país a perder mais de meio milhão de vidas.
O próprio senador Randolfe Rodrigues se encarregou de elencar o que chamou de “alguns exemplos emblemáticos” deste rol de crimes do presidente: “o combate às medidas preventivas, como o uso de máscaras e o distanciamento social; o estímulo ao uso indiscriminado de medicamentos sem eficácia comprovada e à tese da imunidade de rebanho; as omissões e falhas do governo federal que contribuíram para o colapso no fornecimento de oxigênio aos hospitais do Amazonas; as omissões na aquisição de insumos e medicamentos para as UTIs; as omissões em relação à proteção dos povos indígenas e quilombolas; e, principalmente, o boicote sistemático à imunização da população”.
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E olha que Randolfe nem incluiu o crime de prevaricação que Bolsonaro cometeu ao não adotar as providências quando informado, pelo deputado Luiz Miranda, da corrupção deslavada ocorrida no Ministério da Saúde durante as tratativas para a aquisição das vacinas contra a Covid-19. Até hoje Bolsonaro não desmentiu o deputado Luiz Miranda.
Para o presidente da CPI, senador Omar Aziz (PSD-AM), o fato de Bolsonaro manter Ricardo Barros como líder do governo (o deputado seria o responsável pelo favorecimento da Precisa Medicamentos, que ofertou vacinas superfaturadas) demonstra com clareza que Bolsonaro prevaricou.
Não é apenas compromisso: é juramento
PublicidadeTodo depoente numa CPI, antes de falar, se compromete a dizer a verdade e, justamente pelo descumprimento a esse compromisso, o ex-diretor Roberto Dias foi preso.
Já o presidente Jair Bolsonaro, ao tomar posse, fez um juramento, que é mais que um compromisso de falar a verdade perante os depoentes de uma CPI, e no qual se prometeu a “manter, defender e cumprir a Constituição, observar as leis, promover o bem geral do povo brasileiro, sustentar a união, a integridade e a independência do Brasil”. Para o constitucionalista e consultor legislativo da Câmara dos Deputados, Roberto Troncoso, esse juramento é um dos atos mais importantes da posse, pois nele é que consta o compromisso de defender o povo brasileiro. “Além de se comprometer a defender o povo, o presidente se compromete a utilizar o cargo para o bem do País e dos interesses nacionais”, disse.Se Bolsonaro não fez uso do cargo para trabalhar em prol do bem do país nem se comprometeu com os interesses nacionais, mas apenas com os interesses de aliados políticos ou simplesmente pessoais – como sua reeleição – e os interesses dos parentes, como ao estabelecer sigilo de 100 anos no acesso às informações de visitas dos filhos, vereador Carlos Bolsonaro (Republicanos-RJ) e do deputado federal Eduardo Bolsonaro (PSL-SP) ao Palácio do Planalto, este último um ato tão abjeto que foi classificado pelo general da reserva Paulo Chagas como uma “canalhice”, então cometeu um crime. E nem é preciso lembrar de toda a rede de proteção que vem criando, tanto para escapar da abertura de um pedido de impeachment quanto em relação às investigações sobre as rachadinhas no gabinete do filho vereador e no gabinete dele próprio quando era deputado federal.
Na volta da CPI o bicho vai pegar
Na volta dos trabalhos da CPI, a partir desta terça-feira, após o recesso de 15 dias, a fumaça que vai sair de dentro daquela sala do senado vai ter cheiro de pólvora.
Em primeiro lugar, porque nessas duas semanas que pareciam ser apenas de descanso, membros e técnicos da CPI na verdade aproveitaram para se debruçar sobre milhares de páginas de documentos encaminhados à Comissão.
O trabalho se revelou tão árduo que teve de ser fatiado em sete núcleos que trataram desde as fake news propagadas durante a pandemia, até as ações negacionistas praticadas por membros do governo, tendo à frente o próprio Bolsonaro, até suspeitas de corrupção em hospitais federais no Rio de Janeiro e nas negociações internacionais para a aquisição de vacinas. Na volta dos trabalhos, os integrantes da CPI devem sair quebrando uma carrada de sigilos bancários e telemáticos.
No caso das fake news, essa quebra de sigilos será focada, principalmente, no conjunto de sites bolsonaristas criados e mantidos dentro do chamado “gabinete paralelo”, apoiados pelo “gabinete do ódio”, ambos em ação em pleno Palácio do Planalto. Só pra dar uma ideia, segundo o senador Humberto Costa (PT-PE), ex-ministro da saúde e integrante da CPI, há requerimentos pedindo a quebra do sigilo de órgãos de imprensa que praticamente integram hoje a base de apoio e ajudam na blindagem de Bolsonaro, como a Rádio Jovem Pan, e a do blogueiro Allan dos Santos, do site Terça Livre, que é alvo de inquérito no STF), além de uma lista com 21 influenciadores e 11 parlamentares federais que divulgaram informações falsas durante a pandemia. Aziz promete fogo cerrado. Por exemplo: em relação à Secretária de Gestão do Trabalho e da Educação na Saúde do Ministério da Saúde, Mayra Pinheiro, flagrada num vídeo combinando com cinco senadores as perguntas a serem feitas na CPI, disparou que ela vai ter de revelar quem são os cinco senadores. “Esse joguinho de brincar com a vida das pessoas, é muito pesado”.
Ou seja: se a chapa estava quente, agora ela vai derreter. E os respingos incandescentes todo mundo sabe onde irão cair. E vão queimar na pele do piloto-chefe das motociatas, mesmo que ele acelere sua Harley Davidson até o talo para tentar manter sua popularidade em alta.
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