O jogo pareceu combinado. Alexandre Silveira, ministro das Minas e Energia, defendeu, em público, mudanças na política de preços da Petrobras — uma das mais enfáticas promessas eleitorais de Lula. Logo depois, a presidente do PT, Gleisi Hoffmann, endossou:
“Como sempre dissemos, dolarização dos preços [dos combustíveis] é absurda. Lula prometeu abrasileirar e vai fazer.” A expectativa era que a tese, contra a paridade de preços com o mercado internacional, tivesse apoio do comando da empresa. Supostamente, Lula nomeou Jean Paul Prates presidente da empresa para isso.
Não foi o que aconteceu: o Conselho de Administração cobrou de Silveira a apresentação formal de suas propostas, lembrando ao ministro as obrigações que uma empresa listada na Bolsa deve cumprir. O episódio terminou em conflito, desnecessário e, até agora, não há proposta concreta na mesa.
Não faltam boatos em Brasília sobre insatisfações de Lula com o ritmo de Jean Paul Prates para adotar um novo padrão na formação dos preços dos combustíveis. A fala de Silveira aumentou a pressão. Não há, porém, soluções fáceis ou rápidas para o problema, sob pena de a maior empresa do país e o governo perderem credibilidade.
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Jair Bolsonaro também queria baixar o preço da gasolina. Trocou presidentes da Petrobras, mas só conseguiu uma redução cortando impostos com o apoio do Congresso, também em busca de popularidade no ano eleitoral.
A disputa em torno dos combustíveis ocorre justamente no momento em que o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, desdobra-se para ganhar credibilidade com sua proposta de um novo conjunto de regras fiscais. Haddad vem sendo bem sucedido, conversando e explicando suas ideias aos diversos setores envolvidos, numa estratégia que lembra a de Fernando Henrique Cardoso na negociação do Plano Real.
A suavidade do ministro no trato de temas difíceis chama atenção. Depois que Lula elegeu o Banco Central e os juros altos como alvos, Haddad assumiu o papel de “good cop” — o policial bonzinho —, em contraponto ao chefe. Nesta semana, o ministro esteve com Roberto Campos Neto para tratar de mudanças na meta de inflação e soube dos estudos sobre parcelamento de dívidas pelo pix. Haddad e Campos Neto mostraram, de novo, que o confronto quase sempre não é o melhor caminho na política.
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