O Congresso retoma suas atividades na semana que vem, com calendário apertado e dividindo atenções com as eleições municipais, cruciais para a disputa de 2026. O governo tem uma pauta relevante para a área econômica no Legislativo e conta com apenas sete meses para negociar suas prioridades. Temas como a desoneração da folha de pagamento, a regulamentação da reforma tributária e as mudanças na taxação da renda exigirão muita articulação com uma base parlamentar instável e preocupada com a disputa nos municípios. O controle do Orçamento federal será um embate permanente com o Executivo, vitaminado pelo apetite eleitoral dos parlamentares.
A formação de alianças locais é outro desafio nesse calendário. Lula quer estimular a polarização com Jair Bolsonaro e seus seguidores em locais onde esse conflito é mais explícito, sobretudo São Paulo. Mas o PT não será necessariamente o protagonista desses embates — o partido só terá candidato próprio em 11 capitais. Além disso, parte de uma base muito fraca: em 2020 elegeu apenas 183 prefeitos, nenhum deles em capitais. Em várias cidades, o partido será adversário de integrantes da heterogênea base parlamentar federal. No entanto, há um traço de união entre esses partidos: reduzir o tamanho e a influência do PL, hoje maior partido da Câmara e abrigo da extrema-direita no país.
Leia também
O partido comandando por Valdemar Costa Neto e que tem em Bolsonaro sua maior estrela, ainda que ele esteja inelegível, tem um caixa robusto para a disputa de outubro: R$ 863 milhões no fundo eleitoral, a maior fatia. O PT vem em segundo lugar, com R$ 504 milhões. Juntos, PP, Republicanos e União Brasil terão cerca de R$ 1,2 bilhão. Na avaliação dos dirigentes desses partidos, é poder demais para Valdemar. Alterar essa matemática financeira-eleitoral é prioridade para essa turma.
Para isso, é preciso reduzir o terreno do PL e fazer com que o partido não amplie muito sua base municipal. PP, Republicanos e União Brasil discutem união mais sólida no Congresso, numa federação, que pode evoluir para uma fusão, se superadas questões regionais para um projeto mais amplo. Não se sabe ainda se o arranjo poderá valer para a disputa de outubro, mas, caso seja bem sucedido, deverá ter impacto nos planos de crescimento do PL.
Político mais do que calejado, Valdemar tem dito que o partido vai crescer e ainda aposta na capacidade de Bolsonaro de atrair votos, apesar dos desgastes na imagem do ex-presidente, como o caso da “Abin paralela” e os inquéritos contra ele no Supremo. Tem patrocinado viagens de Bolsonaro pelo Brasil, especialmente em cidades menores, mas com eleitorado expressivo (acima de 200 mil habitantes). E investiu na promoção de Michelle Bolsonaro, criando o PL Mulher, irrigado pelo Fundo Partidário com cerca de R$ 800 mil mensais.
No ano passado, os partidos do Centrão e o PSD se dedicaram à conquista de novos filiados, sobretudo prefeitos. O PSD foi o mais bem sucedido e chega à disputa com o maior número de prefeituras, 968 (308 a mais do que elegera em 2020). O PP, com 712 (onze novos); o Republicanos conta com 257 prefeitos (filiou mais 41), e o União Brasil comanda 564 cidades. Juntos, os três somam 1.533 prefeituras — 27,5% do total do país. O PL tem 371 municípios. Se prevalecer a máxima de que a união faz a força, Valdemar tem muito a perder em 2024.
UsQfouCLrvEbtHdB