Você sabia que 40% das mulheres que vivem nos países em desenvolvimento dão à luz sem ajuda médica ou condições de higiene adequadas? Não por acaso, a cada minuto uma mulher morre no mundo por conta de complicações relacionadas à gravidez e ao parto.
Pense agora que tais números são relativos ao século XXI – através deles calcule os níveis de mortalidade do século XIX.
Naqueles dias sombrios, quando as maternidades mais pareciam matadouros de mulheres, viveu Ignaz Semmelweis. Ele era um dos obstetras do Hospital Geral de Viena – na época um dos mais importantes centros culturais do planeta.
Naqueles dias, Louis Pasteur ainda não havia descoberto que muitas doenças se desenvolviam graças à ação de germes – vale dizer, poderiam ser evitadas simplesmente com higiene.
Eis que o observador Ignaz Semmelweis reparou que as pacientes de médicos que lavavam as mãos antes de tocá-las apresentavam taxas de sobrevivência maiores. Ele resolveu, então, fazer uma pesquisa a respeito – para concluir que uma medida de higiene tão simples reduzia o índice de mortalidade de mulheres em nada menos que 90%!
Entusiasmado com sua descoberta, ele decidiu torná-la pública. Foi o início do fim de sua carreira, e até de sua vida! A esmagadora maioria dos médicos da época ficou ofendida, pois eram todos cavalheiros – e, como tal, nas palavras do obstetra Charles Meigs, “tinham sempre as mãos limpas”.
Discriminado e humilhado, Ignaz Semmelweis acabou deprimido e internado em um asilo de lunáticos – no qual morreria apenas 14 dias depois, aos 47 anos de idade, vítima das surras que levou dos guardas de lá.
O resto da história nós já conhecemos: hoje o simples ato de lavar as mãos já é rotina em qualquer hospital, e Ignaz Semmelweis passou a ser conhecido como o “salvador das mulheres”, graças à sua descoberta.
Que tal pensarmos um pouco sobre este episódio? Para início de conversa, falamos de uma cidade que irradiava luz para todo o planeta. Tratamos de pessoas absolutamente esclarecidas e cultas – “cavalheiros”, conforme anotado. Tudo gravitava em torno de números, de certeza matemática. E ainda assim o pobre Ignaz acabou preso e morto – por ter simplesmente expressado algo que ia contra as convicções da época. Agora tente imaginar, por um instante que seja, o quanto perdeu a humanidade com a morte prematura deste grande profissional.
A saga de Ignaz não acabou. Ela continua, ainda hoje. Está presente em cada semelhante nosso discriminado e amordaçado por conta da ditadura terrível do “politicamente correto”, um código de conduta que nos vem imposto sabe-se lá de onde, ou a partir de quais interesses.
Em cada voz silenciada, em cada órgão de imprensa censurado, em cada autoridade amordaçada, lá está a sanha de tal ditadura, intimidando através da falsa legitimidade das supostas maiorias de ocasião.
Olhe em volta. Perceba que, de uns tempos para cá, todos parecem ter a mesma opinião sobre tudo – e pobre de quem ousar ser “diferente”. Seja sobre conceitos básicos do cotidiano, acerca dos grandes problemas nacionais ou até mesmo no que toca à realidade vivida pela humanidade, vivemos em uma era de censura e alienação que não nos deixa lá tão distantes do Hospital Geral de Viena.
Encerro estas linhas recordando, em homenagem a Ignaz Phillip Semmelweis, a sábia exclamação de Voltaire: “não concordo com uma só palavra do que dizeis, mas defenderei até a morte vosso direito de dizê-las”.
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